Após negociação, imigrantes que tentam deixar o Brasil desocupam ponte que liga Acre ao Peru

Foto: Asscom/Secretaria de Assistência Social de Assis Brasil

O grupo de imigrantes que ocupava a Ponte da Integração, que liga a cidade acreana de Assis Brasil ao Peru, desde as primeiras horas desta segunda-feira (12) liberou o tráfego no local após negociação com a Polícia Rodoviária Federal (PRF-AC). Com a fronteira fechada devido à pandemia, os imigrantes tentam deixar o Brasil, mas são impedidos pelas autoridades peruanas.


Esse é o segundo protesto registrado no local em menos de dois meses. No dia 8 de março, após a Justiça Federal deferir o pedido da União para reintegração de posse imediata, um outro grupo de imigrantes que estava acampado na ponte deixou o local, de forma pacífica e o fluxo de veículos foi liberado, depois de mais de 20 dias de protesto.


O novo bloqueio foi organizado por um grupo de cerca de 50 imigrantes formado por maioria de nacionalidade cubana, além de haitianos, venezuelanos e também africanos.


Ao G1, o secretário de Assistência Social de Assis Brasil, Quedinei Correia, explicou que a ponte foi liberada no decorrer da tarde e os veículos que aguardavam passagem já seguiram viagem. Ele afirmou que parte dos imigrantes se disponibilizou a ir para o abrigo do município e outros para hotéis.


“A gente disponibilizou abrigo para eles, tem uma casa onde colocamos eles ontem [domingo,11]. Hoje, alguns vão para hotéis. O abrigo daqui tem capacidade para umas 40 pessoas e estamos com outra casa que está servindo como abrigo alternativo. Outros vão para hotéis mesmo”, contou.


Grupo se concentrou na Ponte da Integração como forma de protesto contra o fechamento da fronteira — Foto: Arquivo/Prefeitura

 Foto: Arquivo/Prefeitura


Crise migratória

A situação dos imigrantes começou a ficar tensa no interior do Acre no dia 14 de fevereiro, quando eles deixaram os abrigos que ocupavam e se concentraram na Ponte da Integração. No dia 16, os estrangeiros enfrentaram a polícia peruana e invadiram a cidade de Iñapari, no lado peruano da fronteira. Depois de confronto, o grupo foi mandado de volta para Assis Brasil.


Os estrangeiros que estão na cidade tentam sair do Brasil usando o Acre como rota. A ponte já chegou a ser ocupada por pelo menos 300 imigrantes, na maioria haitianos. Mais de 130 caminhões chegaram a ficar retidos tanto do lado brasileiro como no peruano e o prejuízo é calculado em mais de R$ 600 mil.


A crise imigratória resultou na visita do secretário Nacional de Assistência Social, do Ministério da Cidadania, Miguel Ângelo Gomes, que esteve no dia 19 de março em Assis Brasil para ver a situação.


Gomes se reuniu com o governador da Província de Madre De Dios, Luis Guillermo Hidalgo Okimura, e o prefeito de Iñapari, Abraão Cardoso. Na conversa, segundo a Agência do Governo do Acre, as autoridades peruanas informaram que o país avaliava uma forma de abrir a fronteira para liberar a passagem dos imigrantes.


Foi então que a União pediu a reintegração de posse contra os imigrantes que estavam acampados na ponte e a Justiça Federal deferiu o pedido no início de março. Desde então, o número de imigrantes na cidade do interior do Acre reduziu muito e a prefeitura desativou os abrigos montados em escolas. Um novo abrigo, com capacidade para 50 pessoas, foi instalado para receber os imigrantes que chegam ao município.


Rotas

São duas situações que fazem com que o número de imigrantes cresça na cidade de Assis Brasil; a primeira, a de imigrantes que entraram no Brasil entre 2010 e 2016 em busca de uma vida melhor e, com a crise da pandemia, tentam sair do país para seguir viagem até México, Canadá, Estados Unidos e outros países.


A segunda é que o Peru, mesmo fechando a passagem para a entrada de imigrantes, libera a saída deles para o lado brasileiro, então, é uma porta de entrada para venezuelanos.


Alguns dos imigrantes retidos no Acre também tentam uma rota alternativa para chegar na Bolívia e de lá seguir viagem.


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