Lucas Ferrante foi o entrevistado desta segunda-feira(22) no programa Diário da Manhã na Rádio Diário 95,7 (Foto: Reprodução)
O grupo de pesquisadores que Lucas faz parte, já previu a segunda onda da Covid-19 no Estado com quatro meses de antecedência.
Lucas Ferrante ganhou notoriedade em agosto de 2020, após artigo publicado na revista Nature Medicine no dia 7 de agosto. O grupo de oito pesquisadores que fizeram o artigo atribuíam aos erros dos governos a explosão de casos na região e uma segunda onda no fim do ano passado. Ferrante deu várias entrevistas e chegou a ir na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE) para alertar os parlamentares, mas não foi ouvido e não foram tomadas medidas restritivas. No mês de dezembro os casos começaram a aumentar e em janeiro o Estado bateu todos os recordes de internações, casos de pessoas infectadas e mortes.
“Quando a gente falou da segunda onda, muitos deputados estavam negacionistas, tanto que infelizmente nós tivemos essa segunda onda exatamente nas proporções e nas datas que nós prevíamos. Na segunda vez, eu estive lá mostrando os resultados. A bancada estava sendo presidida também pela deputada Mayara Pinheiro, a qual negou os nossos resultados antes e disse que era um absurdo que Manaus fosse para uma segunda onda e que jamais veria Manaus experimentar mais de 6 mil mortes, exatamente como nossos resultados previam infelizmente”, relatou o pesquisador.
Lucas também disse que levou os estudo a Fundação de Vigilância e Saúde (FVS) e ao ministério público. Eles receberam apoio do MPAM, mas a FVS sempre negou que existisse uma forma de prever uma segunda onda e que não havia risco nenhum disso acontecer. Ferrante disse que a ferramenta utilizada é mundialmente conhecida e tem capacidade de anteceder resultados com meses de antecedência, para que os governos possam tomar medidas preventivas. Mas no caso do estado do Amazonas, as medidas são tomadas tarde demais.
“Inclusive em uma nota oficial, a FVS negou que existia uma ferramenta capar de prever esses resultados com tanta antecedência, demostrando uma intensa capacidade de não conhecimento da própria literatura cientifica na tomada de decisão na pandemia da covid-19 que nos espanta muito essa incapacidade de gerir a pandemia em Manaus e esse completo apagão que vive o governo do estado do Amazonas a lidar com essa situação. A ferramenta que nós utilizamos é um modelo epidemiológico conceituado no mundo inteiro, o modelo “Seir”. (Suscetível exposto infectados e recuperados), que constitui uma avaliação entre essas quatro classificações para toda a localidade. Nós utilizamos para toda a Manaus, por essas quatro categorias e a interação entre elas, considerando a taxa de isolamento social, taxa de vacinação, por isso estamos sendo tão precisos e nossos resultados tem se confirmado. Nós usamos uma metodologia mundialmente conceituada”, disse Ferrante.
No dia 09 de fevereiro, ainda em meio a crise do oxigênio na cidade, Lucas Ferrante voltou a ALE para falar sobre uma terceira onda, que viria, caso o governo repetisse o que fez na segunda onda, ignorando os estudos, e não tomasse medidas urgentes para combater uma nova onda com antecedência. Ferrante também disse que por conta desses alertas, vem sofrendo muitas ameaças.
“Infelizmente, o governo do Estado, principalmente o governador negacionista da ciência, Wilson Lima, tem tomado todas as medidas para que isso aconteça de fato. O governador deverá ser responsabilizado por essas medidas, já que fez uma flexibilização sem adotar protocolos e sem seguir a ciência de fato e não embasou esse retorno. É extremamente preocupante o momento que o Amazonas ainda vive. Dessa vez a gente espera que o governo do amazonas não ignore esses resultados, do contrário, essas mortes vão estar sobre responsabilidade do governo do estado do Amazonas. Manaus teve muitos erros ao lidar com a pandemia que foi quase de forma proposital. Poderia ter sido resolvido esse problema com meses de antecedência se nossos estudos tivessem sido considerados. Nesse momento que o Brasil vive com segundas e terceiras ondas em várias capitais, em vários estados, uma terceira onda para Manaus pode ser ainda mais devastadora”, completou o cientista.