Flordelis não foi presa por causa da imunidade parlamentar. Nesse caso, apenas os flagrantes de crimes inafiançáveis são passíveis de prisão
Em sua primeira defesa no Conselho de Ética da Câmara para evitar ser cassada, a deputada Flordelis (PSD-RJ) chorou, negou ter mandado matar o marido, acusou duas filhas de terem orquestrado o crime e disse nunca ter usado a prerrogativa parlamentar para fugir da Justiça.
Flordelis falou por cerca de dez minutos em uma sessão que também tinha como objetivo permitir ao deputado Alexandre Leite (DEM-SP), relator da representação contra a pastora, explicitar seu plano de trabalho sobre o processo.
A deputada iniciou a fala defendendo sua inocência na morte do pastor Anderson do Carmo. “Eu não mandei matar meu marido. Eu não participei de nenhum ato de conspiração contra a vida do homem que foi meu companheiro por muitos anos, mais de 20 anos.”
“Caminhamos juntos, ele era muito mais do que meu marido, ele era meu amigo. Nós tínhamos uma cumplicidade enorme.”
Flordelis, que também é cantora gospel, disse estar sofrendo uma perseguição implacável. “O que está acontecendo, excelência, é um assassinato da minha reputação, do meu nome, de forma violenta e desumana”, afirmou. Em seguida, a deputada ressaltou que tem tido a vida “violada” pelas redes sociais e pela mídia. “Não tenho tido um único momento de paz.”
No discurso, Flordelis disse que nunca tentou usar a prerrogativa parlamentar para fugir do Judiciário. “Mas, apesar de tudo isso, do princípio da presunção de inocência até o trânsito em julgado, gente, eu não fui julgada ainda”, afirmou, com a voz embargada.
Ela pediu aos colegas que não “cometam nenhuma injustiça”. “Jamais poderão alcançar a dor que é perder meu marido”, afirmou. “Eu jamais mandaria matar meu marido, ele era meu amigo. Ele era bom para mim. Ele me fazia me sentir especial.”
A deputada falou também da confissão de sua filha biológica Simone. “Eu ainda não tive coragem de ouvir a confissão toda da minha filha, mas eu fiquei sabendo que ela falou que mandou matar meu marido. Isso não está certo, não era esse o caminho que ela tinha que tomar”, disse. “Eu sou a favor da vida.”
A pastora afirmou ainda desconhecer qualquer relacionamento de Anderson com a filha. “Eu não sabia, eu não sabia, eu não sabia. E agora eu entendo por que ele não fez nada. Queria evitar que eu soubesse o que estava acontecendo dentro da casa.”
Flordelis acusou ainda outra filha —não nomeada— de ter sido a mandante do crime ao lado de Simone.
“Não sei mais quem estava envolvido, mas eu não compactuo com isso”, disse. “Ela tinha outros caminhos, de denúncia. Ela podia ter tentado me contar. Tudo bem que no início talvez eu não acreditaria porque meu marido era, depois de Deus, a pessoa mais importante da minha vida.”
No final de fevereiro, a Justiça do Rio de Janeiro afastou Flordelis de seu cargo na Câmara, que enviou uma petição ao STF (Supremo Tribunal Federal) contestando a decisão do Tribunal de Justiça fluminense.
O pastor Anderson do Carmo foi assassinado depois de chegar em casa com Flordelis, em Niterói, na região metropolitana do Rio, em junho de 2019. Ele foi alvo de vários tiros na garagem da residência.
Na ocasião, Flordelis afirmou que o marido tinha sido morto durante um assalto e alegou que o casal estava sendo perseguido por homens em uma moto quando voltavam para casa.
Em agosto de 2019, um dos 55 filhos da pastora disse à Polícia Civil que acredita que a mãe tenha sido a “mentora intelectual” do assassinato do marido.
De acordo com investigações da Polícia Civil, o plano para matar o pastor teve início em maio de 2018, com um envenenamento em doses por arsênico.
A deputada foi indiciada por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada. Para a polícia, a motivação do crime foi a insatisfação com a maneira que o pastor Anderson http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistrava a vida financeira da família.
Flordelis não foi presa por causa da imunidade parlamentar. Nesse caso, apenas os flagrantes de crimes inafiançáveis são passíveis de prisão.
Em novembro do ano passado, a pastora publicou um vídeo em que afirmava que a denúncia contra ela havia sido baseada em depoimentos anônimos enviados por meio da internet.