A pandemia do Covid-19 trouxe dilemas de tomadas de decisões individuais, coletivas em âmbitos de sociedade, familiar e governamental. A garantia de sobreviver a essa pandemia põe de encontro necessidades que por vezes vão de encontro entre o indivíduo e a sociedade.
A necessidade do sistema público de garantir a proteção e direitos dos indivíduos, muitas vezes vai de encontro a necessidade primária de sobrevivência individual e acontece o infringir regras, daí aparece o dilema. Foi isso que aconteceu na noite deste sábado (27), na Avenida Getúlio Vargas, quando o entregador Wellington da Silva Ribeiro foi parado em uma barreira do Decreto de Restrições do governo do Estado do Acre.
A barreira montada na entrada da ponte Jucelino Kubitschek, mais conhecida como Ponte Metálica, tinha como objetivo fazer cumprir o Decreto Estadual, que restringe a circulação de pessoas e funcionamentos de serviços não essenciais no período das 22hs às 5hs.
O entregador foi abordado na barreira e, segundo ele, seguia para sua residência na altura do km 15 da BR 364. Durante abordagem, ele teria explicado aos policiais militares que retornava para casa, pois trabalha como entregador, porém, foi constatado uma dívida tributária da motocicleta usada por Wellington.
Apesar da argumentação que os documentos obrigatórios de licenciamento do veículo já estavam pagos, no sistema do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) não constava a quitação de débito, além do não pagamento de duas multas por inflação de trânsito no valor de R$ 300.
A partir dessa constatação inicia o dilema estado e indivíduo. Wellington lamenta e argumenta que precisa trabalhar, que pagou os documentos de licenciamento, assume que faltas as multas, culpa o governador Gladson Cameli pelo Decreto de Restrição, chora lembrando que tem filho pequeno de um ano, tem pensão alimentícia para pagar e toda a cena é gravada pelo celular de uma terceira pessoa que postou nas redes sociais.
Em resposta ao apelo emocionado, o choro e desespero do entregador que teve a moto apreendida pelos militares da companhia de trânsito e ficou sem o meio de garantir o sustento da família, anônimos decidiram realizar uma campanha para arrecadar dinheiro para Wellington pagar as multas do veículo e poder retomar o trabalho obedecendo a as regras de restrição, que aliás, ele não quebrou, pois entre a casa e o trabalho existe a distancia de mais de 20 quilômetros, distância essa que não é igual a capacidade da sociedade de mobilizar, de solidarizar com o próximo.
Após o ocorrido, o governador Gladson Cameli determinou à sua equipe que a moto do rapaz seja devolvida a ele imediatamente, e qua as multas que a moto possui fossem calculadas que ele mesmo irá pagar com recursos do próprio bolso.
Cameli pediu que as pessoas possam colaborar com as medidas restritivas que foram adotadas aos finais de semana, por conta do alto índice de mortes.