“O governo está igual peru em chapa quente”, ironizou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) sobre a tentativa da http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração do presidente Jair Bolsonaro em “terceirizar” a responsabilidade sobre a crise da covid-19, que já matou mais de 287 mil brasileiros e levou o sistema de saúde de diversos estados ao colapso.
Em entrevista exclusiva ao Yahoo!, Mandetta vê também nos recentes ataques de membros governistas à sua gestão no Ministério da Saúde como uma reação à pesquisa Datafolha divulgada nesta semana, que mostrou que 54% dos entrevistados avaliam como ruim ou péssima a gestão de Bolsonaro no combate ao coronavírus.
Mandetta reagiu às declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que acusou o ex-ministro de “sair com R$ 5 bilhões no bolso”, que deveriam ter sido gastos na compra de vacina. No entanto, Mandetta deixou o Ministério da Saúde em abril de 2020, e os primeiros testes em humanos com as vacinas contra covid só foram realizados em maio.
“Paulo Guedes foi de uma infantilidade, de uma desonestidade, tão absurda”, disse Mandetta sobre os ataques.
Na quinta-feira (18), em sua transmissão semanal, Bolsonaro voltou a criticar o ex-ministro pela recomendação inicial de não procurar unidades de saúde aos primeiros sintomas.
“Se você é contra, sem problemas, segue a receita do ministro Mandetta. Quando você tiver falta de ar, vai pro hospital. Eu perguntei pro Mandetta. ‘Ele vai sentir falta de ar e vai pro hospital fazer o quê? Vai ser intubado’”, afirmou o presidente, imitando uma pessoa com falta de ar.
‘Negacionismo pode levar mundo à estaca zero’
Na entrevista ao Yahoo, o ex-ministro da Saúde explicou a orientação “naquele momento da pandemia” e criticou a a atitude do presidente de imitar pacientes com falta de ar. Na avaliação dele, o governo tentar “terceirizar” a culpa pela “péssima condução” da pandemia, jogando a responsabilidade nele, nos governadores e prefeitos, no Supremo Tribunal Federal (STF) e na imprensa.
“Bolsonaro agora deveria estar de joelho, no milho, rezando, com um oratório bem grande. Porque se tiver uma variante, com essa quantidade de vírus que está circulando no Brasil, e essa variante for resistente a vacina, e fazer o mundo voltar à estaca zero por conta desse negacionismo dele, acho que ele vai ser levado diretamente daqui para Haia” [onde fica o Tribunal Penal Internacional, onde são julgados governantes acusados de genocídio], afirmou.
“Hoje ele foi ao STF para falar que governadores e prefeitos não devem recomendar nada, que quem deve recomendar é ele. Calcula ele fazendo a recomendação? Será que ele ia mandar ‘dilui cloroquina nas caixas d’água das cidades’? Acho que essa que ia ser a medida dele”, acrescentou.
“Nós temos claramente um presidente não está sabendo lidar com a crise de saúde”, destaca.
Ele ressalta ainda a responsabilidade do presidente pelo alto número de mortes no Brasil pela covid-19, por ter boicotado ações de prevenção, de atendimento aos pacientes e de vacinação.
“Ofereceram vacinas em agosto ao Brasil e eles falaram não e ainda começam a fazer um movimento anti vacina. Começam a falar que a vacina tem um chip que vai entrar no seu cérebro, que vai virar jacaré. As pessoas que são mais cultas riem, mas a pessoa mais simples tem uma relação com autoridade muito forte. Ela fala que não vai tomar porque o presidente falou que vai virar jacaré”.
Filiado ao DEM, Mandetta fala também sobre uma eventual candidatura à Presidência da República em 2022 e sobre a possibilidade de sair do partido.
“É natural que, pelo momento, que eu seja o centro das atenções por conta da gravidade da situação que a pandemia se impõe, mas o partido ainda não teve o assunto deliberado”.
Sobre uma articulação entre candidatos do chamado “Centro”, ele acredita que é importante oferecer uma opção para o eleitorado diante da “polarização da extrema esquerda com a extrema direita”.
“Uma parte enorme da sociedade fala ‘não quero nem um nem outro’, nesse cardápio aí tem uma pimenta malagueta ou um limão azedo, não tem uma farinha aí no meio, pra ter um troço pra dar liga social, para cicatrizar, para dialogar com todos e parar com essa cultura do ódio?”, defende.