Criminosos tentam se aproveitar do momento de crise pelo qual o Acre passa, com cheia de rios, surto de dengue, pandemia de Covid-19 e crise migratória, ao criar um perfil falso no Instagram para se beneficiar da campanha “SOS Acre”, do Ministério Público do Acre (MP-AC) junto com outros parceiros. O Órgão iniciou investigação logo após identificar a página falsa.
A Campanha foi lançada na última semana, quando os rios do Acre começaram a transbordar e chegaram a atingir 10, das 22 cidades do estado. Os cards se espalharam pelas redes sociais. Uma corrente de ajuda humanitária se formou e foi reforçada a nível nacional com pedidos de vários artistas. Porém, logo após o lançamento da campanha, o perfil falso foi criado.
“Imediatamente, após a notícia de que tinha esse perfil falso, foi instaurada uma investigação e já conseguiu identificar e tomar algumas providências, que para não atrapalhar as investigações estão em segredo de justiça, são medidas cautelares. Mas, o que se pode identificar é que são pessoas de fora do estado principalmente”, disse promotor Fernando Cembranel, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Uma das medidas foi o pedido de suspensão da página, mas, o promotor explicou que leva um tempo até que a empresa responsável seja notificada da medida judicial. E alerta que as pessoas fiquem atentas porque a página ainda está ativa.
Na conta que ainda está ativa, o perfil disponibiliza um PIX, que a campanha do MP não tem, e número de conta que é diferente do anunciado pelo MP, em sua página oficial. A conta tem mais de 1,3 mil seguidores e oito publicações que falam sobre a enchente no Acre e usa os cards do órgão.
Investigação
Após detectar o perfil falso, o MP alertou que não criou um perfil específico para a campanha e que toda a mobilização é feita por meio da página oficial do órgão.
O promotor disse que foi instaurada uma investigação e que a suspeita é que mais de uma pessoa esteja envolvida. Os envolvidos podem responder por associação criminosa, estelionato e falsidade por usar a logo marca e brasão do MP.
“Quem praticou estes atos fraudulentos está sendo investigado. É possível a configuração de mais de um crime; a utilização de logo marca, brasão oficial da forma como foi feita configura crime, é uma espécie de falsidade, prevista no Código Penal e também a potencialidade de praticar estelionato virtual, e também por associação criminosa”, afirmou.
Alerta para doações
O promotor Cembranel pede que as pessoas continuem doando porque “é importante que quem puder contribua porque a situação é de calamidade.” Mas, ele alerta para que fiquem atentas e verifiquem para quem está sendo feita a transferência.
“O alerta para pessoas, que são movidas por sentimentos nobres, de solidariedade e altruísmo é que procurem as páginas oficiais, porque não foi criado nenhum perfil exclusivo para a campanha. O alerta é que as pessoas usem os perfis oficiais e se for colaborar que preste atenção qual a destinação, porque a conta é da Associação do Ministério Público, a Ampac. Então, antes de confirmar vai aparecer lá o destinatário e antes de confirmar, verificar se o destinatário é realmente vinculado a uma destas entidades”, explicou.
O promotor informou ainda que uma outra conta, chamada BB21 também foi identificada e usa a campanha de forma fraudulenta.
As pessoas que foram prejudicadas, que tenham feito depósitos ou transferências para as contas do perfil falso, o promotor orienta que façam o registro de um boletim de ocorrência em uma delegacia.
Calamidade pública no Acre
Com 10 cidades atingidas pela cheia dos rios, a Acre decretou calamidade pública. O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) reconheceu, na segunda-feira (22), em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), a situação calamidade pública em 10 cidades do estado.
Os municípios de Rio Branco, Sena Madureira, Santa Rosa do Purus, Feijó, Tarauacá, Jordão, Cruzeiro do Sul, Porto Walter, Mâncio Lima e Rodrigues Alves enfrentam dificuldades com parte da população desabrigada (encaminhada para abrigos) e desalojada (levada para casa de parentes).
O governador do Acre, Gladson Cameli, havia decretado calamidade em uma edição extra do Diário Oficial do estado (DOE) também na segunda. Pelo menos em oito dessas cidades atingidas os rios estão com vazante (diminuição no nível das águas) e com estabilidade. Mesmo assim, a cheia é considerada histórica e atinge cerca de 118 mil moradores do estado acreano.
Mais de 10 mil sem energia
A enchente dos rios no Acre afetou diretamente a distribuição de energia no estado. A Energisa informou que suspendeu a energia elétrica em 10.489 clientes de quatro cidades: Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Sena Madureira e Rio Branco.
A medida, segundo a Energisa, foi tomada para evitar acidentes com a rede elétrica nos bairros atingidos pela cheia dos rios. “A Energisa Acre reforça sobre os cuidados que a população deve ter para evitar acidentes com a energia elétrica durante esse período, como por exemplo, ficar distante dos cabos e fios elétricos. A combinação água e eletricidade é a responsável por acidentes graves e, em boa parte das vezes, fatais.”
‘Como se fosse uma guerra’
O governador do Acre, Gladson Cameli, diz que o cenário no estado não é fácil.
“O estado é pequeno, pobre e precisa-se do apoio das pessoas, principalmente do governo federal e unificar as instituições para que a gente chegue com atendimento imediato à população. Nós fizemos toda uma estrutura de abrigos para os atingidos cumprindo as regras da Covid-19, que tem que ter distanciamento, para que a gente possa dar uma tranquilidade e segurança às pessoas que estão sem sua moradia e ao mesmo tempo alimentação, remédios e também kit de limpeza. Estamos vivenciando uma situação como se fosse uma guerra”, desabafa.
Sobre a mobilização na internet, ele diz que toda ajuda ao estado é bem-vinda e que chegou a se emocionar com a mobilização.
“Isso nos orgulha, são milhares de homens e mulheres que têm esse olhar, esse carinho especial pelo estado do Acre. Somos um estado pequeno na Amazônia, que faz fronteira com dois países, que tem 92% do sistema de saúde que é público e que a gente precisa desse olhar das pessoas em prol da enchente, dengue, crise na fronteira e também Covid-19”, destaca.
O governador destacou ainda que tem acompanhado o drama das famílias e que não tem sido fácil.
“Que Deus nos proteja e nos abençoe e que a gente possa virar logo essa página, porque eu tô firme e forte porque tenho Deus, mas sou ser humano. Lagrimei quando vi a situação das pessoas, elas querem tão pouco”, finaliza.
As campanhas em canais oficiais estão sendo feitas pelo:
Pandemia, enchente, surto de dengue e crise migratória
O Acre segue registrado alto número de casos de Covid. O Acre registrou mais de 54,9 mil casos da doença até dia 22 de fevereiro, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre).
Na última semana, alguns rios ultrapassaram a cota de transbordo atingindo milhares de famílias. A cidade de Tarauacá, no interior do Acre, chegou a ficar com 90% do território tomado pela água. Em número atualizados até domingo (21), a Defesa Civil estimava que 118.496 pessoas estavam atingidas pelas enchentes, mas o Acre chegou a ter 130 mil pessoas atingidas de alguma forma pela cheia dos rios na capital e no interior do estado. A Defesa Civil considera atingidas pela cheia casas onde a água chegou, desabrigando ou não os moradores.
O Acre também registrou 8,6 mil casos suspeitos de dengue em menos de dois meses de 2021.Outro dado que chama atenção é que dos 22 municípios do Acre 20 estão infestados pelo mosquito Aedes aegypti. A capital acreana já declarou situação de emergência devido o aumento no casos de dengue.
No início da semana passada, também se agravou o cenário dos imigrantes que estão retidos na fronteira do Acre com o Peru desde o ano passado, quando o país vizinho decidiu fechar as fronteiras e impedir a passagem deles para o lado peruano. Os imigrantes já estavam sendo atendidos pela prefeitura de Assis Brasil, mas no último domingo (14) se rebelaram e ocuparam a ponte da cidade.
Pelo menos 60 imigrantes que fazem rota reversa pelo Acre e tentam entrar no Peru continuam a acampados na Ponte da Integração, uma semana depois de ocuparem o local. A cidade ainda tem mais de 300 imigrantes que continuam chegando em pequenos grupos.