Conheça a emocionante história da jovem que morreu dias após casar

Sorrindo um para outro e com o olhar que dá a entender que a pessoa encontrou um amor para a vida toda. As fotos tiradas pelo padrinho de casamento de Adarlele Ribas de Andrade e Ruan Pablo de Lara mostram o momento de êxtase em que o casal estava ao completar um mês de namoro.


Casal se conheceu no ano passado pela internet – Foto: Felipe João Vetterlein

Quem vê as fotos não tem dúvidas que se trata de uma verdadeira história de amor. Porém, diferente dos filmes onde princesas vivem felizes para sempre, o roteiro desse clichê romântico terminou de uma forma triste: Adarlele morreu apenas dez dias após subir ao altar com Ruan.


O motivo: um câncer que a acompanhou durante toda a vida. Mas, antes de chegar ao fim dessa história é preciso voltar no tempo e viajar até União da Vitória, cidade do Paraná que faz divisa com o município de Porto União, em Santa Catarina, onde tudo começou.


“O encontro de almas”

Adarlele é lembrada pela família e amigos como uma jovem alegre, carinhosa e que espalhava felicidade por onde passava. Essa alegria, porém, escondia uma luta que ela vivenciava todos os dias.


Ainda criança, aos seis anos ela foi diagnosticada com câncer nos rins, uma patologia rara em pessoas dessa idade. Por conta disso, ela teve que retirar um dos órgãos, o que trouxe uma grande comoção aos 57.913 habitantes de União da Vitória.


Adarlele lutava contra um câncer desde os seis anos de idade – Foto: Felipe João Vetterlein

Adarlele lutava contra um câncer desde os seis anos de idade – Foto: Felipe João Vetterlein

Esta primeira etapa ela venceu. Mas já adulta, um novo diagnóstico: sarcoma de ewing, câncer raro que atinge os ossos.


“Ela descobriu o diagnóstico em maio de 2018, fez uma série de tratamentos e após um transplante de medula, ficou quase um ano curada. Porém, em 2020, o câncer voltou atingindo várias partes do corpo”, conta Felipe João Vetterlein, amigo e padrinho de casamento de Adarlele.


Porém um mês antes, o destino quis que outra notícia, dessa vez positiva, chegasse a vida da jovem de 26 anos.


Nas redes sociais, ela conheceu Ruan. Os dois começaram a conversar, se apaixonaram e iniciaram um namoro. Segundo Felipe, a união foi um verdadeiro encontro de almas.


“Ele veio para vida dela para ser o príncipe encantado. Era um relacionamento que você via que o amor exalava. A sintonia dos dois era uma coisa incrível”, relembra. Nesta época, Ruan já sabia do diagnóstico da jovem.


O acompanhamento até o casamento

Após descobrir a volta do câncer, os dois começaram juntos mais uma etapa na luta pela cura de Adarlele. Felipe conta que, a todo momento, Ruan estava ao lado da futura esposa, com que também nutria o sonho de se casar.


“Quando eles se conheceram ela já tinha o físico de uma pessoa que lutava contra o câncer. Além disso, desde pequena ela tinha o sonho de se casar. Ela tinha muita esperança de que iria se curar da doença”, pontua Felipe.


Apaixonados, os dois resolveram marcar a data do casório: dezembro de 2020. Adarlele queria uma cerimônia com tudo que tinha direito: festa, jantar e um vestido dos sonhos.


Mas, por um breve momento, o sonho teve que ser adiado por, ao menos, dois meses: por conta da alta nos casos da Covid-19 na região, a festa precisou ser cancelada e remarcada para o dia 6 de fevereiro.


Foi aí que a história começa a mudar e entra no chamado “plotwist”, que é quando um acontecimento muda totalmente o rumo de um filme.


Casal nutria o sonho de celebrar o casamento com uma grande festa – Foto: Felipe João Vetterlein

Casal nutria o sonho de celebrar o casamento com uma grande festa – Foto: Felipe João Vetterlein

O casamento dos sonhos

Dias após o cancelamento da cerimônia, Adarlele teve uma piora no estado de saúde. Ela, então, foi até Curitiba – capital do Paraná e onde realizava o tratamento -, para entender o que estava acontecendo.


Foi aí que veio o diagnóstico que ela mais temia: o câncer havia avançado para fase terminal.


“Eles falaram que agora o tratamento ia ser paliativo. Ela poderia viver um mês, um ou cinco anos”, relembra Felipe. A notícia pegou todos de surpresa, principalmente porque eles torciam pela recuperação da jovem.


Mesmo com o diagnóstico, ela manteve a data. Com a ajuda dos enfermeiros do hospital de Curitiba, onde estava internada, ela alugou e fez a prova do vestido que usaria no grande dia.


“Só que nas semanas que antecederam o casamento, ela teve uma piora muito séria. Toda a família fazia orações para que o casamento acontecesse e assim realizar seu grande sonho. Na semana da cerimônia, teve um dia em que ela ficou muito ruim e não conseguia nem falar”, conta Felipe.


Porém, com o casamento se aproximando, parece que a alegria voltou na jovem. Felipe, que foi padrinho dela, conta que na sexta-feira, dia em que ela colocou a prótese capilar para a festa, Adarlele estava feliz e animada.


“Neste dia, eu e minha esposa fomos até a casa dela para dar palavras de conforto e encontramos ela muito alegre. A Adarlele era muito forte”, diz.


No grande dia tudo preparado: maquiagem, vestido e decoração do jeito que ela queria. Além disso, para garantir que não acontecesse nada, uma equipe médica ficou de prontidão na porta da igreja.


Casal subiu ao altar no dia 6 de fevereiro – Foto: Kátia Luz Fotografia

Casal subiu ao altar no dia 6 de fevereiro – Foto: Kátia Luz Fotografia

“A forma como ela entraria ainda era um mistério. Eles a levaram de cadeira de rodas até metade do corredor. Neste momento, ela levantou e terminou o caminho andando. Tenho certeza que mesmo os corações mais duros choraram nesse dia”, relembra Felipe.


Ele ainda complementa: “tinha dor, mas a felicidade cobria ela para chegar no altar. Acredito que foi um dos esforços para que ela conseguisse chegar até ali”.


Devido a piora no quadro de saúde, a jovem não teve festa, apenas uma sessão de fotos para comemorar a data. Este foi o último dia que Felipe e a esposa, que conhece Adarlele desde criança, a viram com vida.


A jovem fez metade do caminho até o altar de cadeira de rodas – Foto: Kátia Luz Fotografia

A jovem fez metade do caminho até o altar de cadeira de rodas – Foto: Kátia Luz Fotografia

O fim de uma história de amor

No dia 10 de fevereiro, Adarlele voltou com a mãe para Curitiba, com o intuito de continuar o tratamento e saber se o câncer tinha ido parar na medula. Como estava muito fraca, os médicos decidiram por interná-la, mesmo ela insistindo para voltar para casa.


Foram dias de angústia e apreensão. Em União da Vitória, que fica a cerca de 300 km da capital paranaense, familiares e amigos aguardavam por uma resposta, que chegou da pior maneira possível seis dias depois.


“Por volta das 21h, a irmã dela mandou no grupo que ela não estava bem. O marido, o pai e os irmãos estavam a caminho de Curitiba. Quando era 22h, recebemos a notícia [da morte dela] pelo whats. Para nós foi um choque muito grande”, conta.


Adarlele morreu em Curitiba no dia 16 de fevereiro, dez dias depois do casamento. O marido estava na metade do caminho para ver o amor da vida dele quando recebeu a notícia.


“O sorriso dela é o que vai ficar marcado”

Quase uma semana depois da notícia que mudou, não só a vida da família, mas dos moradores da cidade parananese, Felipe e a esposa, Jasmine Beatriz Bastos Vetterlein, ainda buscam forças para curar a dor da morte da jovem.


“Nós tínhamos esperança que ia acontecer um milagre, como foi quando ela era criança. Ela só queria viver. Como Adarlele ficava sempre em Curitiba [para fazer o tratamento], a gente ainda acredita que ela pode voltar para casa a qualquer momento. Está tudo muito doloroso”, conta Felipe.


Segundo ele, o marido de Adarlele está desolado, já que Ruan era a pessoa que mais tinha esperanças na recuperação dela. Por fim, Felipe diz que todo mundo aprendeu com a história do casal e que o amor cura, nem que essa cura venha da pior forma possível.


“Ela era muito nova e uma pessoa que tinha vontade de viver. Às vezes, a gente está cansado e reclama da vida. A única vontade dela era de ter mais um dia. Para nós, o sorriso dela é o que vai ficar marcado. Ele era o cartão de identidade da Adarlele”, finaliza.


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