Após o estado acreano registrar ocupação de 100% dos leitos de Unidades de Intensiva (UTIs) nesse final de semana, o presidente do Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed), Guilherme Pulici, diz que a situação é caótica e preocupante e que chegou o momento em que tem que escolher entre qual paciente deve ser internado.
“É uma situação muito difícil, estamos chegando naquela situação em que o profissional tem que escolher entre um paciente ou outro. Apesar de haver uma fila natural para os leitos de medicina intensiva, às vezes, o profissional tem que escolher quem vai ocupar a vaga ou não”, disse durante entrevista à Rede Amazônica Acre, nesta segunda-feira (8).
O governador do Acre, Gladson Cameli, divulgou um vídeo em sua rede social, no domingo (7), falando sobre a ocupação de 100% de leitos de UTIs dos Hospitais de Campanha de Rio Branco – Instituto de Traumatologia do Acre, Into-AC e em Cruzeiro do Sul, no Hospital Regional do Juruá.
Na ocasião, o Sindmed também havia se manifestado dizendo que o sistema já estava colapsado nas duas principais unidades de saúde. Além disso, ele ainda alertou para a falta de profissionais para atuar nestas unidades.
Até segunda-feira (8), dos 80 leitos de UTI nos hospitais da rede SUS disponibilizados, 75 estão ocupados, fazendo a taxa de ocupação na UTI ficar em 98,8%. Os leitos de UTI estão concentrados em Rio Branco, com 60 vagas, e Cruzeiro do Sul, com 20.
‘Angustiante’
Pulici acrescentou ainda que a situação dos profissionais em ter que escolher entre pacientes é angustiante e causa danos psicológicos.
“Às vezes tem um paciente com todo um prognóstico favorável de vida, jovem e que ficam sem vagas para terem suas necessidades atendidas. Isso é muito angustiante para o profissional. Isso traz um sofrimento psíquico para quem está na linha de frente e afeta, naturalmente, o desempenho do profissional no dia a dia. É uma situação caótica, mas a gente já previa”, disse.
Falta de leitos e profissionais
O presidente do Sindmed afirma que o estado tem baixas na linha de frente, alguns profissionais com Covid, outros com dengue. Inclusive alguns profissionais morreram já neste ano por causa da Covid, como o caso do médico oftalmologista Laurence Huamani Alvarez, de 51 anos, que morreu no dia 26 de janeiro, em Cruzeiro do Sul. E o também médico Jaime Rider Carreno Limpias, que morreu no dia 30, em Rio Branco.
“O que nos deixa preocupados é a questão de saúde dos profissionais porque, naturalmente, estão ficando esgotados. Estamos vivendo uma situação de caos na saúde agora. É uma situação que avisamos. Não só na semana passada, mas, em anos anteriores quando avisamos sobre a necessidade de contratação de profissionais”, pontuou.
Reforço na UTI
A porta-voz do governo, Mirla Miranda, disse que o governo reconhece a falta de profissionais, e tenta fazer contratações.
“O governador vai a Brasília, porque nós só temos uma questão de não poder contratar médicos, por exemplo, do Mais Médicos, que é uma questão judicial. Mas, é do interesse dele a contratação de profissionais que queiram vir para o Acre para o atendimento nas UTIs, porque precisamos de pelo menos 15 profissionais de várias áreas para uma UTI”, disse a porta-voz.
Mirla disse ainda que o governador deve participar de uma reunião da próxima semana com o ministro da Saúde, onde deve conversar sobre a contratação de profissionais e compra de vacina.
Pulici afirmou que o estado tem em média 100 médicos provisórios e que a situação de instabilidade piora o quadro, porque o estado acaba exportando os profissionais que tem, que vão em busca de melhores condições de trabalho.
“Hoje, são mais de 100 médicos em contratos provisórios e isso vem desde a gestão anterior, para ver como isso é crônico, a questão da efetivação dos profissionais, e isso cria instabilidade e insegurança para o próprio profissional que já vinha, antes da pandemia, e muitos foram deixando o estado”, acrescentou.
Abertura de novos leitos
Além disso, o representante da categoria ainda criticou a decisão do estado de desativar alguns leitos de UTI. “[Errou] na demora em abrir leitos como errou ao fechar alguns leitos. Quando a gente teve uma queda no número de casos e óbitos no final do ano passado, alguns leitos foram fechados, como por exemplo, a enfermaria do quarto andar no pronto-socorro. O que nos deixou preocupados porque não sabíamos o que poderia acontecer.”
Com o aumento dos casos e de internações, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), aumentou de 40, para 50 leitos de UTI no Into.
Além disso, o governo também anunciou a reabertura do quarto andar do PS, com mais 30 leitos, sendo 10 para UTIs. E mais outras 30 no hospital do Idoso. Na última semana, o secretário de saúde, Alysson Bestene também afirmou que não descarta a possibilidade de a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Segundo Distrito voltar a ser unidade de referência no atendimento aos pacientes Covid.
Em Cruzeiro do Sul, o governo governo mandou equipamentos para abertura de mais seis leitos de UTIs, após a cidade também atingir 100% de ocupação.
Os casos de Covid-19 continuam subindo no estado e chegaram a 50.694 nessa segunda-feira (8). O número de mortes também subiu para 893, segundo dados da Sesacre.