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Após mais de 10 dias, cerca de 40 imigrantes barrados na fronteira do AC com Peru seguem acampados em ponte

Foto: Raylanderson Frota

Um grupo de pelo menos 40 imigrantes continua acampando na Ponte da Integração, que liga a cidade acreana de Assis Brasil ao Peru, após mais de 10 dias desde que foram barrados ao tentar passar para o país vizinho.


Com a fronteira fechada desde março de 2020, eles tentam sair do Brasil, mas estão impedidos pelas autoridades peruanas de seguir viagem usando o país como rota.


Conforme o prefeito da cidade, Jerry Correia, além dos 40 que estão na ponte, mais de 300 estão divididos nos dois abrigos montados na cidade. São cerca de 104 na Escola Edilsa e outros quase de 220 na Escola Irís Célia.


“Digo que a situação está é pior, porque a equipe está cansada, a gente não consegue mais atender. Tenho várias pessoas da equipe que estão pedindo demissão e temos o agravante da questão de caminhoneiros que estão desesperados também por não conseguirem passar pela ponte que está bloqueada pelos imigrantes”, disse o prefeito ao falar sobre o protesto da quarta-feira (24), quando caminhoneiros tentam passar com as cargas.


Desabafo

Correia disse que a prefeitura está cansada com a situação e voltou a pedir intervenção do governo federal. Ele disse que manter essas pessoas em ponte e em abrigos montados em escolas chega a ser “desumano”.


“A gente não entende essa inércia do governo federal. Somos cobrados por várias estruturas de direitos humanos e não tem ninguém que possa falar de direitos humanos a não ser esta prefeitura que tem atendido eles com água, alimentação, assistência médica, abrigos, mesmo com sua capacidade limitada. O que é desumano é o Brasil estar assistindo crianças, mulheres grávidas morar em cima de uma ponte, sob chuva e sol. E não compreendo aqueles que defendem a permanência dessas pessoas aí justificando que é direitos humanos. Pelo contrário, não temos como atendê-los com dignidade nem na ponte e nem nos abrigos”.


Centro de testagem e atendimento médico

A prefeitura montou um centro de testagem e atendimento médico para os imigrantes, onde essas pessoas vão ser atendidas por profissional médico pelo menos duas vezes na semana e as que apresentarem sintomas de Covid-19 devem ser testadas. O centro foi instalado em um prédio público da prefeitura.


A prefeitura já havia informado que estava se preparando para fazer a testagem de todos os imigrantes e iniciou nessa quarta-feira (24). Ao todo, 11 imigrantes foram testados, desses cinco deram negativo e outros seis deu que eles já tiveram contato com a doença, mas o vírus não está ativo.


A iniciativa de começar a testar os imigrantes se deu após uma haitiana de aproximadamente 35 anos testar positivo para Covid-19. Ela foi levada para o hospital regional de Brasileia, e como o quadro agravou, ela foi transferida para Rio Branco.


A Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) informou que o estado ofertou 600 testes que estão sob responsabilidade da unidade estadual mista de Assis Brasil e serão disponibilizados ao município após a entrega do plano ao Comitê Operacional de Emergência da secretaria. Para isso, o município precisa elaborar um plano de testagem, considerando que não pode ser em massa, uma vez que a doença tem o tempo de janela imunológica para aparecer no teste rápido.


A secretaria informou ainda que orientou o município para que a testagem não seja no abrigo e nem nas unidades sentinelas para Covid. Na intenção de não misturar os usuários do SUS. Além disso, a testagem também deve funcionar como um cadastro dos imigrantes.


O imigrante novo que chegar, ao solicitar acesso ao abrigo, deverá ser direcionado ao centro de testagem e atendimento médico ao imigrante para que, de acordo com a triagem e, se houver necessidade do teste rápido, esse imigrante tenha um destino correto, sem possibilidade de contaminar os imigrantes já alojados.


Protesto de caminhoneiros

Caminhoneiros que estão tanto do lado brasileiro como do lado peruano, na fronteira do Acre com o Peru, protestaram nessa quarta-feira (24), na tentativa de conseguir seguir viagem com suas cargas.


Pablo Cardoso, que é representante de um despachante aduaneiro e de uma distribuidora de combustível que fornece o produto para a Bolívia, disse que há pelo menos 37 caminhões no lado peruano com combustível para ser levado à Bolívia. Do lado brasileiro também há caminhoneiros que tentam sair do Acre.


“O que está acontecendo é que todos os caminhões estão presos por causa dos estrangeiros que estão na fronteira. É justo que eles façam sua reivindicação mas, fechar a ponte não é justo. Estamos com 37 caminhões do lado peruano carregados de combustível e mais uns dez do lado brasileiro querendo entrar na Bolívia para abastecer e não conseguem. O governo federal tem que resolver, queremos a abertura da ponte para que esses caminhões passem”, disse.


O caminhoneiro Adriano Braga disse que está há pelo menos cinco dias com uma carga de pescado avaliada em R$ 100 mil e teme que os peixes estraguem.


“Não podemos retornar com a carga, porque não temos autorização para tirar o lacre ou colocar gelo novamente. Não temos uma solução, já vai para o quinto dia. A carga é avaliada em torno de R$ 100 mil e o cliente está do outro lado, em Iñapari, no Peru, desesperado, sem saber o que fazer. Estamos prestes a perder a carga e correndo o risco de sermos multados por não termos um local adequado para descartar esse peixe”, desabafou.


Visita

O secretário Nacional de Assistência Social, do Ministério da Cidadania, Miguel Ângelo Gomes, esteve no dia 19 deste mês em Assis Brasil para ver de perto a situação dos imigrantes que estão no município acreano e tentam atravessar a fronteira para deixar o Brasil.


O representante do governo federal se reuniu com o governador da Província de Madre De Dios, Luis Guillermo Hidalgo Okimura, e o prefeito de Iñapari, Abraão Cardoso. Na conversa, segundo a Agência do Governo do Acre, as autoridades peruanas informaram que o país avalia uma forma de abrir a fronteira para liberar a passagem dos imigrantes, mas que, por enquanto, a fronteira no lado peruano segue fechada.


Ainda ao portal do Governo do Acre, o secretário Nacional de Assistência Social reconheceu que o problema precisa ser resolvido de imediato, por se tratar de uma situação diplomática, mas não disse como o governo federal deve resolver a situação diplomática, mas não disse como o governo federal deve resolver a situação.


Policiamento

Além dos policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar e do Gefron, mais de 12 militares da Força Nacional e mais de 20 policiais rodoviários federais fazem o policiamento na região de fronteira.


Uma portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública, publicada no dia 18, autorizou o emprego da Força Nacional no Acre, no apoio às forças policiais no estado. A autorização é válida por 60 dias e pode ser prorrogada.


A determinação estabelece que as Forças Nacionais devem auxiliar “nas atividades de bloqueio excepcional e temporário de entrada no País de estrangeiros, em caráter episódico e planejado”.


Ocupação

A situação dos imigrantes começou a ficar tensa desde o dia 14 deste mês, quando cerca de 400 imigrantes deixaram os abrigos que ocupavam e se concentrarem na Ponte da Integração, na fronteira com o Peru. Os imigrantes tentavam deixar o país, mas foram barrados pelas autoridades peruanas.


No dia 16, os imigrantes enfrentaram a polícia peruana e invadiram a cidade de Iñapari, no lado peruano da fronteira. Depois de confronto, o grupo foi reunido pelos policiais peruanos e mandado de volta para Assis Brasil.


A cidade de Assis Brasil registrou até esta quarta (24), 1.064 casos de Covid-19. De acordo com o boletim da Sesacre, o município tem a maior taxa de contaminação pela doença no estado com 1.412 caos a cada 10 mil habitantes.


Rotas

São duas situações que fazem com que o número de imigrantes cresça na cidade de Assis Brasil; a primeira, a de imigrantes que entraram no Brasil entre 2010 e 2016 em busca de uma vida melhor e, com a crise da pandemia, tentam sair do país para seguir viagem até México, Canadá, Estados Unidos e outros países.


A segunda é que o Peru, mesmo fechando a passagem para a entrada de imigrantes, libera a saída deles para o lado brasileiro, então é uma porta de entrada para venezuelanos.


Sem conseguir passar para o Peru, alguns dos imigrantes retidos no Acre também tentam uma rota alternativa para chegar na Bolívia e de lá seguir viagem. Um grupo de mais de 40 pessoas foi barrado, no final da semana passada, já na Bolívia e mandado de volta por policiais bolivianos ao Acre após tentar fazer a nova rota.


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