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Anti-inflamatórios X analgésicos: entenda as indicações contra sintomas da Covid

No início da pandemia, pesquisas apontaram que o uso do ibuprofeno no tratamento de sintomas da Covid-19 poderia estimular a infecção ou agravar os quadros da doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em um primeiro momento, contraindicou o anti-inflamatório no combate aos sintomas (como dores e febres), mas logo voltou atrás, pois o estudo não ofereceu dados suficientes para comprovar que o medicamento tenha qualquer efeito prejudicial no quadro do novo coronavírus.


O artigo publicado pela revista científica The Lancet tinha como referência um grupo de pacientes diabéticos e hipertensos, que demonstrou um aumento da expressão da enzima conversora de angiotensina 2, mais conhecida como ECA-2, no mesmo período em que utilizaram ibuprofeno. A enzima é uma das portas de entrada do coronavírus, por isso os pesquisadores, naquele momento, contraindicaram o ibuprofeno e outros AINES — Anti-inflamatórios Não Esteroides – em pacientes com Covid-19. A hipótese que foi derrubada por falta de comprovação.


O médico infectologista e professor de doenças infecciosas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmilson Migowshi afirma que o uso do medicamento, além de não ser contraindicado, pode também auxiliar no tratamento da infecção causada pelo SARS-CoV-2.


“Bem no início da pandemia levantou-se essa hipótese que foi derrubada logo em seguida, foi uma possibilidade experimental. De tal forma, depois se comprovou que essa afirmação é totalmente infundada e que o uso do ibuprofeno poderia inclusive ajudar na evolução do tratamento da Covid-19.” Edmilson Migowshi, médico infectologista e professor da UFRJ


O professor de farmacologia André Luiz de Moura concorda que não é possível ligar o aumento de expressão da enzima ECA-2 com uma facilitação do contágio pela Covid-19. “Existem algumas situações patológicas onde ela é requerida pelo organismo, pela célula, para responder a situações agressivas, como por exemplo, a infecção por um vírus. Então ela tem um papel benéfico na resposta do paciente à infecção”, explicou.


Moura também destaca que pesquisadores trabalham no momento para entender “o que seria menos pior para o organismo: aumentar a expressão da enzima ou inibi-la”.


O ibuprofeno é classificado como um anti-inflamatório, assim como a aspirina, a nimesulida e o diclofenaco. Esse grupo de medicamentos tem propriedades de alívio da dor e, em casos específicos, da febre. Em maiores quantidades, são capazes de combater inflamações no organismo.


Alguns médicos preferem o uso de analgésicos no tratamento de dores e febre, como a dipirona e o paracetamol, no lugar de anti-inflamatórios.


Especialistas explicam que essa preferência não está relacionada ao efeito esperado dos medicamentos: ambos são eficazes no combate às dores e à febre. A recomendação pode surgir de alguns profissionais por conta do efeito colateral gástrico que o uso indiscriminado e sem recomendação médica do anti-inflamatório pode causar. Em excesso, a automedicação com ibuprofeno e outros AINES pode causar problemas como azia e gastrite.


“Em doses mais altas, não a que geralmente é receitada para a febre e a dor, o uso de medicamentos que são essencialmente anti-inflamatórios poderia potencializar a lesão gástrica e, se alguns pacientes estiverem fazendo o uso, por exemplo, de corticoide, isso poderia ocorrer com mais facilidade. Entretanto, são exceções”, afirma Migowshi.


O médico infectologista, porém, é cauteloso quanto ao uso do paracetamol no tratamento da Covid-19, por exemplo.


“Cerca de 30 a 35% dos pacientes com Covid-19 desenvolvem hepatite ou lesões hepáticas, e o paracetamol é hepatotóxico — ou seja, pode ser prejudicial ao fígado se usado de forma incorreta. Eu indico mais aos meus pacientes o uso do ibuprofeno e da dipirona, que são mais seguros e combatem a dor e a febre”, explica.


André Luiz de Moura também destaca que não há diferenças exorbitantes entre esses remédios. “Eles são parte de uma mesma classe farmacológica, analgésicos e anti-inflamatórios, são todos muito parecidos. Foram desenvolvidos a partir da aspirina, o primeiro medicamento com função analgésica, anti-térmica e anti-inflamatória”, disse.


Segundo o professor de farmacologia, todos os anti-inflamatórios têm ação de alívio da dor, mas os analgésicos não conseguem combater inflamações no organismo, sendo essa a principal diferença entre os dois remédios.


Ambos reiteram que o uso de qualquer medicamento deve ser orientado por um profissional da saúde.


“Todo medicamento possui efeitos colaterais, em maior ou menor grau. Por isso, todo tratamento deve ser orientado por um médico ou outro profissional qualificado.” André Luiz de Moura, professor de farmacologia no Centro Universitário São Camilo


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