O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), afirmou ontem (21) ao UOL que o estado só tem dinheiro para manter o sistema de saúde funcionando para tratar pacientes da covid-19 por no máximo mais três meses e pede ajuda ao governo federal.
Em meio a uma crise humanitária causada pelas enchentes na última semana e os problemas gerados pelos imigrantes haitianos barrados na fronteira com o Peru, o estado encara também seu pior momento da pandemia, com hospitais lotados e internações ainda em alta.
“Só tenho recursos para, no máximo, três meses para manter a estrutura, e olhe lá. Eu tenho um saldo na conta hoje de R$ 42.597.948,63 no caixa do covid-19. Por mês, são de R$ 12 a 15 milhões com os gastos”, disse Gladson Cameli.
O governador explica que o valor se refere ainda a um resto dos recursos enviados pelo governo federal no ano passado, mas que não previam uma segunda onda nessa magnitude.
“Em 2020, recebemos R$ 173 milhões. Hoje, dia 21 de fevereiro, temos esse valor que citei, e estamos aguardando mais sinalizações do governo federal para que eu possa melhorar o gasto, mas precisamos para manter a máquina funcionando”, afirma.
Outro ponto importante citado por ele é a queda no financiamento federal de leitos de terapia intensiva. “Estamos pedindo o apoio do governo federal para ajudar a questão das UTIs (unidades de terapia intensiva), como estava prevista. Já tivemos várias reuniões com o ministro e tem uma sinalização”, afirma.
Ontem, segundo dados do Secretaria da Saude do Acre, havia 89 pessoas internadas em leitos de UTI no estado, ou 86% de ocupação total. O estado registra, até o momento, registra 151.367 casos e 963 mortes.
Falta de vacinas
Para complicar a situação, diz Cameli, o estado sofre com a escassez de vacinas para a população. Ele pede — assim como houve com o Amazonas — prioridade na remessa de vacinas.
Se você contar, são 400 mil munícipes [do Amazonas] que dependem da nossa saúde pública, e não vamos negar atendimento. O que é pouco para outras regiões, para cá é muito: temos uma população de 900 mil habitantes. E, se você olhar, temos aqui a fronteira com Amazonas, com Rondônia, com Peru e com Bolívia, além a situação dos haitianos. Tudo isso nos traz ainda mais preocupação pela covid-19.”
O governador diz ainda que, entre os últimos dias até a próxima semana, o estado vai totalizar mais 60 leitos para atender a população, mas que não é garantia de que dará conta da demanda. “Estamos ampliando aquilo que é possível, mas vai chegar em um momento em que não tem como ampliar”, afirma.
Cameli ainda afirma que esperava uma maior participação dos serviços particulares — o que não veio.
“O serviço privado não está fazendo os investimentos de ampliação. Tomamos todas as providências, nos precavemos para o pior adquirindo usinas de oxigênio, e soube que a rede privada está pedindo para gente porque não tomaram a iniciativa”, disse.
Distanciamento em abrigos
Diante do cenário com mais de seis mil famílias desalojadas ou desabrigadas, uma das preocupações do estado é conseguir fazer abrigos que garantam o isolamento social.
“Os abrigos estão sendo montados seguindo uma regra de afastamento. Mas autorizei toda a nossa equipe a alugar pontos que possam ter um distanciamento, caso necessário; mas a sinalização hoje é positiva, a cheia começou a dar sinal de vazante. Isso começa a nos dar um alívio, ao mesmo tempo em que traz uma preocupação na mesma magnitude: o pós enchente, com doenças como dengue, a covid — que não sabemos o que pode acontece r—, a leptospirose”, explica.
Em Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do estado, por exemplo, as mais de 30 escolas estão recebendo desabrigados, mas com uma família por sala de aula.
Situação “muito crítica”
Sobre a situação do estado, ele afirma que o momento é de dificuldade extrema com várias crises. “Estamos numa terceira guerra mundial. Eu não estou aqui fazendo nenhum exagero, a situação aqui está crítica, crítica, crítica, e você ainda recebe pressão para abrir comércio. A população está com os nervos à flor da pele, porque uma hora a conta vai chegar, e como fica?”, questiona.
“É uma situação muito difícil. É exatamente uma uma crise humanitária, com os principais municípios do Acre todos debaixo d’água. Ficamos de coração partido pela dor das pessoas, mas o Brasil todo está sendo solidário, recebemos muitas doações”, afirma.
Ele diz que na próxima quarta-feira o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) irá ao estado e ele deve fazer cobranças. “Eu o convidei, e já antecipei nossos pedidos. Ele se comprometeu em ajudar. O governo federal também deve reconhecer o decreto de emergência logo, e com isso entre segunda e quarta deve cair R$ 6 milhões para começar a atender as vítimas”, finaliza.