Sem receber repasse, laboratório fica sem insumos para analisar exames de Covid-19 e volta a parar por 3 dias no Acre

Pela segunda vez no mês de janeiro, o principal laboratório do Acre, Laboratório Charles Mérieux, voltou a parar as atividades por falta de insumos. Desta vez, já são três dias sem realizar as análises de exames para Covid-19. A informação foi confirmada ao G1 nesta quinta-feira (21) pelo gerente-geral do laboratório, Andrea Stocker.


Conforme o boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), nessa quarta-feira (7), 757 amostras de RT-PCR estão em análise no Laboratório Charles Mérieux e no Laboratório Central de Saúde Pública do Acre, o Lacen-AC.


Até essa quarta, o Acre registrou 45.429 casos confirmados de Covid-19 e 840 vidas perdidas pela doença. Em todo o estado, 151 pessoas seguem internadas.


Desde o início deste ano, a média diária tem ficado entre 160 a 300 exames em análise nos laboratórios. No entanto, neste mês de janeiro teve dia que chegou a mais de mil exames em espera nos laboratórios do estado.


O gerente-geral do laboratório informou que ainda não recebeu o repasse do estado referente ao mês de dezembro e nem de janeiro, por isso, tem enfrentado dificuldades para manter as atividades.


Dívidas

Para não ficar 100% parado durante todo o mês de janeiro, Stocker disse que chegou a pedir empréstimos e liberação de insumos por parte de empresas fornecedoras para receberem o pagamento posteriormente. Com isso, a dívida do laboratório já chega a cerca de R$ 500 mil.


“Não recebemos o repasse porque o calendário financeiro do estado ainda não abriu. E gastamos uma média de R$ 500 mil por mês com nossas análises, sendo que cada análise custa uma média de R$ 80 a R$ 90 em reagentes. Consegui empréstimos e algumas empresas que mandaram o material, porque precisei, de alguma forma, pagar as análises de dezembro até agora. Mesmo assim, ainda paramos dois dias no início do mês e agora está há três dias parados”, afirmou o gerente.


Stocker informou que conseguiu novamente insumo para retomar as atividades e os produtos devem chegar em Rio Branco ainda nesta quinta. Segundo ele, assim que chegar já vai voltar com as análises. O laboratório faz, em média, 300 análises por dia.


Em entrevista à CBN Rio Branco, o secretário estadual de Saúde, Alysson Bestene, confirmou o atraso no repasse para o laboratório e disse que a situação deve ser resolvida nos próximos dias. Ele voltou a dizer que o contrato com o laboratório foi renovado em dezembro e que o atraso se deu porque o orçamento para o ano ainda não tinha sido liberado.


“Em dezembro nós renovamos, porém, pelo fechamento de orçamento, o repasse ficou comprometido. Mas, a gente já abriu orçamento agora na segunda-feira [18] e já estamos fazendo o repasse para que eles atualizem a compra de insumos. Tivemos uma reunião para adiantar esse processo para que a gente tenha aí, no máximo, em uma semana restabelecido toda essa ordem de exames dentro do Charles Mérieux, voltando para nossa capacidade máxima para realização de exames de RT-PCR”, disse Bestene.


Ainda de acordo com o secretário, os dois Lacen do estado, o que fica em Rio Branco e o do Juruá, estão funcionando normalmente e têm a capacidade para 100 análises diárias.


Denúncia de assédio

Funcionários que trabalham no laboratório Charles Mérieux denunciaram que estão sendo coagidos a trabalhar além da carga horária contratada e que também têm sofrido assédio moral na instituição.


Questionado sobre as denúncias, o gerente do laboratório afirmou que no local as pessoas trabalham de forma voluntária e que cerca de três meses após o início do trabalho foi que eles passaram a receber um contrato de 30 horas semanais. No entanto, segundo ele, esse valor seria apenas uma gratificação, uma vez que são todos estudantes voluntários.


“Aqui estamos trabalhando desde março com voluntários sete dias por semana. Na verdade, eu sou o professor e treinador das pessoas para mestrado e doutorado, são todos estudantes se preparando para pós-graduação e eles fazem essa análise gratuitamente. Finalmente, depois de três meses, eles receberam um contrato de 30 horas semanais, quase como uma gratificação, porque ninguém paga o horário completo deles”, afirmou.


Ele disse ainda que estão todos estressados, uma vez que a pressão e responsabilidade no local é muito grande e que, portanto, é “normal” acontecer pequenas discussões.


“Todo mundo está muito estressado, sempre tem uma pequena briga. Mas, isso está resolvido, não tem problema com isso. Todo mundo está nesse estresse, reagindo um pouco fora do padrão. É normal, porque é uma pressão muito grande.”


Sobre as denúncias, o secretário de saúde disse que não recebeu nada formalmente na Sesacre. “Ainda não temos nada com relação a essa denúncia, vou procurar ver na ouvidoria.”


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