O número de mortes em população mais jovem teve um crescimento significativo no Acre desde o registro das primeiras mortes no estado. Aumento foi de 600% na população com idade entre 40 a 49 anos.
Dados são dos boletins da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre), nos quais foram avaliados os dados registrados ao final de cada mês, desde o dia 30 de maio a 31 de dezembro de 2020.
Neste período analisado, as mortes saltaram, nessa faixa etária, de 8 para 56 no último mês do ano. A primeira morte pela doença no estado, foi registrada em abril do ano passado, de uma idosa de 79 anos.
Para o infectologista Thor Dantas, esse crescimento dos óbitos na população mais jovem é porque o cuidado acaba sendo esquecido por não fazer parte do grupo de risco pelo fator idade.
“A gente teve claramente uma mudança de maior infecção entre jovens. Então, essa segunda onda, como muitos têm chamado, a gente teve uma ocorrência muito intensa de casos em populações mais jovens em função do comportamento mesmo, porque são eles quem mais se expõem. Acham que por serem mais jovens, não têm tanto risco de quadros graves. Vão a festas, a encontros sociais, atividades sociais. É mais difícil, talvez, para o jovem abrir mão da sua vida social e ele se expõe mais”, explica o infectologista Thor Dantas.
O infectologista afirma que mesmo que o risco de adoecer seja menor num determinado grupo, se esse grupo adoece muito, acaba tendo muitos óbitos nos números absolutos. É o reflexo dos números registrados no Acre.
“Porque teve muita gente doente. A proporção dos jovens que morrem é menor que os idosos, sim, é. Mas, se tiver muito jovem adoecendo, vai morrer também mais jovens consequentemente. Então, é uma consequência primeiro do número elevado do número de ocorrências”, explica.
Além disso, o infectologista fala que há na Covid-19 uma imprevisibilidade grande, no sentido de que ser idoso coloca alguém no grupo de risco, mas, existem idosos que têm quadros autolimitados, ou seja, não apresentam quadro grave da doença. E há jovens que evoluem para quadros graves.
“Então, existe uma coisa ainda na Covid que a ciência vai descobrir, não sabemos direito ainda, mas, existem estudos saindo de alguns genes, alguns grupos sanguíneos. Porque existe um grupo de pessoas que tem um risco de adoecer e fazer quadros graves maior, mesmo sendo mais jovens. Então, ser jovem não é uma garantia de que você vai ter quadro grave. Essa imprevisibilidade deve ser um alerta”, pontua.
O idoso sabe que tem risco e se protege mais. O jovem acha que tem menos risco e se protege menos. “A gente vê isso no Brasil inteiro, um número maior de jovens adoecendo e ficando com quadros graves.”
Outras faixas etárias
Desde maio do ano passado, quando foram registrados óbitos de pessoas não idosas, com oito, na população com idade entre 40 a 49 anos, outras faixas etárias também apresentaram aumento ao longo do meses seguintes.
Para a população com idades entre 50 a 59 anos, no dia 30 de maio tinham sido registradas 24 mortes. Em dezembro, o número saltou para 119.
Descendo para a população mais jovem, com idade entre 30 a 39 anos, no mês 5, o registro de mortes foi de 13. No último mês do ano foi de 39.
“A pandemia não acaba tão rápido. Enquanto a gente não vacinar a população em massa, a pandemia não acaba, então a gente tem um 2021 ainda de muito alerta, de muita comunicação eficiente com a população”, pontua Dantas.
Para aqueles que são de fato jovens, com idade entre 20 a 29 anos, em maio ainda não havia óbito desta população, os registros só começaram a aparecer no boletim em julho, com 4 mortes. Dezembro fechou 2020 com 10 mortes.
Em todo estado, quatro crianças de 1 ano morreram vítimas do novo coronavírus. Com idade entre 1 a 10 anos, foi registrada apenas uma morte; e outras cinco, com idade entre 10 a 19 anos. Na população idosa, com mais de 70 anos, foram 386 mortes até 31 de dezembro.
Covid-19 no Acre
O Acre registrou, até o domingo (3),42.046 casos da doença. O boletim da Sesacre também confirmou mais quatro mortes em decorrência da Covid-19, assim o número de vítimas fatais da doença chegou a 802 e todo estado.
O estado está em contaminação comunitária desde o dia 9 de abril, com uma taxa de incidência de 4.809 casos para cada 100 mil habitantes e a de mortalidade é de 91,7 para o mesmo grupo. Já a letalidade está em 1,9%.
Dos 65 leitos de UTI nos hospitais da rede SUS disponibilizados, 42 estavam ocupados, uma taxa de 65%. Os leitos de UTI estão concentrados em Rio Branco, com 55 vagas, e Cruzeiro do Sul, com 10.