A família do idoso Raimundo Borges, de 86 anos, que morreu na madrugada deste sábado (9) no Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into), em Rio Branco, hospital de referência para atendimento e tratamento de pacientes com Covid-19, questiona o motivo do óbito dele e afirma que a causa foi atestada como Covid-19, mas, não tinha o exame para comprovar.
O problema é que a família alega que Borges deu entrada no hospital no último domingo (3) e que até a sexta-feira (8) ainda não tinha sido feito o exame para Covid-19. Depois da morte, o hospital deu como causa para a morte o novo coronavírus.
“Meu pai sentiu febre, gripe, sentiu uma tosse e minha sobrinha trouxe ele no Into. Quando chegou aqui, o médico olhou e disse: ‘o senhor vai ficar aqui, vai receber o oxigênio, tomar um remédio e depois vai pra casa.’ Só que depois que botaram o oxigênio no meu pai pela manhã, quando foi à noite, ele teve a primeira parada, no domingo (3). Ontem [sexta-feira, 8] cheguei aqui para ver o exame e não tinha nenhum tipo de exame. Não fizeram porque até ontem não constava”, conta o filho José Raimundo.
A gerente de assistência do Into, Clícia Santos, disse ao G1 que foram feitos dois exames no paciente, um no dia que ele deu entrada e outro no dia 7, o problema é que o resultado ainda não tinha saído.
“Foi solicitado sim, duas vezes. O que ocorre é que no sistema ele ainda se encontra em análise. Então, o exame foi realizado só que não saiu o resultado. Ontem mesmo [na sexta] explicamos para um dos filhos, foi mostrada as amostradas cadastradas. Nós não temos como acelerar [a divulgação do resultado] e ficamos no aguardo, infelizmente ele faleceu”, explicou Clícia.
José Raimundo reclamou ainda sobre a dificuldade de obter informações e para conseguir liberar o corpo do pai na manhã deste sábado (9).
“Sei que a pandemia está maltratando muita gente, principalmente funcionários da saúde, mas eles têm que dar uma resposta pra gente que está com o familiar aí dentro. Perdi meu pai, colocaram que foi Covid hoje pela manhã. Estamos desde às 7 horas para retirar o corpo do meu pai e a psicóloga diz que o hospital está com problema de paciente passando mal e não tem como resolver o problema da UTI para liberar o corpo do meu pai. Até para enterrar está complicado, isso aqui está muito difícil”, desabafou José Raimundo.
Clícia Santos confirmou que houve uma demora para o corpo ser liberado e que os protocolos de liberação ficaram mais rígidos depois da suspeita de uma troca de corpos no hospital.
“Na UTI onde ele estava, teve intercorrência. Então, o corpo só é liberado na presença da psicóloga e o profissional que participou da identificação do corpo. Nós, agora, fizemos um protocolo muito mais rígido sobre a liberação de corpo depois que teve aquela situação [suposta troca] então agora está mais rigoroso”, acrescentou.
Espera por resultado
A gerente de assistência do Into informou que a média de espera por resultado de exame pode ser de até sete dias.
“Quando se iniciou a segunda onda, a média de saída de resultado tem sido de 5 a 7 dias, às vezes, até 10 dias e aí a gente sempre cobra e eles [laboratório] justificam que é a grande demanda. Eles passaram alguns dias aguardando materiais que estavam faltando lá e passaram alguns dias sem processar e isso gera acúmulo de amostras”, explicou.
Além disso, Clícia explicou que a família aguardava para tentar o tratamento por meio de plasma, porém, ela diz que para esta alternativa é preciso ter o resultado do exame. A gerente ainda explicou o motivo pelo qual o óbito do idoso foi por Covid-19.
“É lei que todo paciente internado em hospital de campanha Covid, ele tendo resultado ou não, é classificado como Covid porque a gente não pode liberar um corpo para um velório [sem a causa]. Então, todo paciente em hospital de campanha, é considerado Covid, tendo ou não o resultado. Mas, o resultado dele vai sair”, explicou.
Falta de insumos
Nessa sexta-feira, o principal laboratório do Acre, Laboratório Charles Mérieux, confirmou que ficou terça (5) e quarta-feira (6) com as atividades paralisadas. A informação foi confirmada ao G1 pelo gerente-geral do laboratório, Andrea Stocker.
O gerente-geral do laboratório explicou que não recebeu o repasse do estado no mês de dezembro e, por isso, acabou ficando sem um dos materiais necessários para as análises.
Foi após conseguir uma quantidade, que eles retomaram o trabalho nessa quinta-feira (7). No entanto, sem uma previsão para receber o recurso, ele disse que não sabe até quando vai conseguir manter o serviço.
“A Sesacre ainda não pagou os insumos de dezembro e já estamos em janeiro. Então, a situação é um pouco difícil. Ficamos parados dois dias até eu conseguir novas enzimas e não sei quanto tempo eu vou ficar trabalhando. Estou esperando a verba entrar para fazer novas compras”, afirmou Stocker.
Ao G1, o secretário estadual de Saúde, Alysson Bestene, disse que não tinha conhecimento que o laboratório tinha ficado sem funcionar por dois dias e que iria se inteirar do caso. Ele confirmou que o contrato com o laboratório foi renovado em dezembro e que aguarda liberação do recurso para fazer o pagamento.
“Estamos esperando a abertura do orçamento, que ficou tudo certinho que assim que abrisse agora na primeira semana, a gente já iria fazer esse repasse. Mas, para isso, a gente já tinha o quantitativo de insumos que eles vinham estocando, e usa também no Lacen. Os exames são nossa prioridade, e agora compramos 40 mil testes rápidos e estamos só aguardando a entrega, que demora alguns dias”, disse Bestene.
Além da falta de insumos, o gerente informou que nas últimas três semanas aumentou a demanda de análises no laboratório, saindo de uma média de 100 amostras por dia para 400. “Acredito que, com essa segunda onda, esse número ainda deve aumentar mais nos próximos dias.”