Ex-marido jogou beach tênis em Ipanema horas antes de matar juíza a facadas


Poucas horas antes de matar a ex-mulher, a juíza Viviane Vieira do Amaral, Paulo José Arronenzi jogou beach tênis na Praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio. A informação foi revelada em depoimentos prestados na Delegacia de Homicídios (DH) por três amigos do engenheiro que estiveram com ele no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, na parte da manhã. De acordo com as testemunhas, Paulo José, que era conhecido como “Risadinha”, jogou uma partida de duplas com outros três amigos entre 10h e 11h, estava “bastante tranquilo e calmo” e, quando começou a chover, se despediu desejando “Feliz Natal” aos demais presentes. Cerca de sete horas depois, o engenheiro mataria a juíza a facadas na frente das três filhas do casal, com idades entre 7 e 9 anos.


Em todos os depoimentos, Paulo é descrito como uma pessoa “tranquila” e “sociável”. Dois dos amigos afirmam que nunca observaram “nenhum comportamento violento ou agressivo” por parte do engenheiro. Um deles lembra que o apelido de Paulo, “Risadinha”, se deve ao fato de Paulo José “ser uma pessoa risonha e de bem com todos”. Ele chega a lembrar que, durante uma conversa na manhã do crime, o engenheiro chegou a dizer “que não sabia onde comeria rabanada naquela noite”.


O colega de beach tênis também afirmou que o engenheiro “demonstrava estar sempre disponível, aparentando viver uma vida de aposentado, que viveria de renda”. Já para uma amiga que prestou depoimento na DH, Paulo — que estava desempregado há seis anos — passava uma imagem de “dono de casa”, por ter tempo livre para “fazer as coisas e ficar com as crianças”.


A mulher — que, de todos os colegas de beach vôlei, era a mais próxima de Paulo — também afirma que ele “passou a ter um comportamento diferente, demonstrando estar deprimido, sempre triste e lamentando o relacionamento” após a separação do casal, em setembro passado. Segundo ela, Paulo dizia que “a separação se deu de forma amigável e que tudo ocorria bem”. Ela afirmou que não sabia das agressões e ameaças que Paulo fazia à Viviane.


Um vídeo revelado pelo EXTRA na semana passada, gravado na época da separação, mostra que Paulo não aceitou a decisão de Viviane de romper o relacionamento. Na ocasião, ele encheu malas com roupas da mulher e das filhas e as arremessou por cima da grade do prédio para onde a juíza se mudou, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Viviane foi à 77ª DP (Icaraí) e alegou que o ex-marido também a empurrou para forçar a entrar no local. Depois da cena, Viviane, assustada, pediu ao Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) que disponibilizasse uma escolta que pudesse acompanhá-la. Um mês antes do crime, ela dispensou a escolta.


No último sábado, a Justiça recebeu a denúncia oferecida pelo Ministério Público contra o engenheiro. Na decisão, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal, manteve a prisão do acusado. Segundo o magistrado, “imperativa é a segregação cautelar de Paulo, pessoa dotada de postura violenta e, indiciariamente falando, responsável por agredir diversas vezes, mediante tortura, Viviane na presença das três filhas menores na véspera de Natal, data tão significativa para o universo infantil”.


Segundo a denúncia do MP, o crime foi motivado pelo “inconformismo do acusado com o término do relacionamento, especialmente pelas consequências financeiras do fim do casamento na vida do engenheiro”. Numa mensagem de áudio enviada a uma amiga logo após a separação, Viviane relatou que Paulo José passou a extorquir dinheiro dela após o rompimento, pedindo que ela fizesse depósitos em sua conta. “Eu achava que depois do divórcio, se eu desse tudo do jeito que ele tava querendo, tudo ia acabar. Mas não, piorou. Depois que ele entregou a chave (do apartamento que o casal alugava na Zona Sul, antes da separação), depois que eu vi aquilo tudo, ele ficava me achacando. Já fiz vários depósitos para ele. Fica me pedindo dinheiro disso, daquilo. Quando eu vi, já tinha depositado pra ele mais do que ele me deu de pensão esse mês”, contou a juíza.


Três dias depois do crime, a Justiça do Rio determinou o bloqueio de R$ 640 mil encontrados em contas bancárias do engenheiro. O objetivo da decisão, tomada pelo juiz João Guilherme Chaves Rosas Filho no sábado, durante o plantão judiciário, é impedir que o dinheiro possa ser enviado para o exterior: o autor do feminicídio tem cidadania italiana e, mesmo preso, teria condições de fazer transferências por meio de terceiros. O valor passa a ficar disponível para o sustento das três filhas do casal, que estão com a avó materna. Paulo José está preso no Complexo de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio.


 


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