Mais de 2 mil profissionais de saúde do Acre foram diagnosticados com Covid-19 em oito meses. Dados são da Divisão de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Saúde (Sesacre) que teve a última atualização dos casos feita entre março e outubro de 2020.
Nesse período, foram mais de 6 mil notificações, das quais 2.066 testaram positivo para a doença. O maior registro de casos ficou concentrado em Rio Branco com 1.278 profissionais infectados, seguido de Cruzeiro do Sul, no interior do estado, com 248. A cidade que apresentou o menor registro foi Epitaciolândia com apenas cinco profissionais.
Em maio do ano passado, foi criada uma comissão para acompanhar mais de perto os servidores que foram infectados pelo coronavírus, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) criou uma Brigada de Combate a Contaminação dos Trabalhadores em Saúde, que é coordenada pelo Núcleo de Humanização da Sesacre e, além de acompanhar os casos da doença entre os servidores, também atuou na capacitação e orientação sobre o uso correto de EPIs e outras medidas de segurança.
Comissão
Jeane Rodrigues, chefe de acolhimento e humanização do Huerb e assessoria técnica da Humanização da Sesacre, disse que o trabalho da brigada foi feito em três pontos principais que estavam divididos desde a oferta dos testes, tanto no PS –para os servidores do loca l- e também na Policlínica do Tucumã, que tem médico exclusivo para os servidores.
Além do atendimento psicológico que também é oferecido, o trabalho de doação de equipamentos de Proteção Individual (EPI) e orientação em relação ao uso.
“A gente fez o acompanhamento dos casos. Os gerentes das unidades enviam para a gente uma lista dos servidores com o sintoma e referencia esse nosso servidor, porque foi criado um sistema específico para atender na Policlínica do Tucumã. E as outras orientações das intervenções que a gente fez, foram orientações dentro das unidades, elaboramos plano de ação e a gente visitou as unidades”, conta.
Jeane afirma que dos 22 municípios do estado, a brigada só não esteve três cidades por causa do difícil acesso. Além disso, ela ressaltou que foi criado o programa chamado Acovida para oferecer atendimento psicológico.
“Temos o programa Acovida, nós tínhamos 12 psicólogos como voluntários para atender estes servidores. Temos o mapa de risco, onde há um questionário que a gente encaminha para a unidade que passa para o servidor responder, e lá tem uma pergunta se ele precisa de acolhimento psicológico e quando esse servidor responde que precisa, encaminhamos ele para o serviço”, acrescenta sobre as ações.
Sindicato
O presidente do Sindicato dos Servidores em Saúde do Acre (Sintesac), Adailton Cruz, disse que o estado tem hoje cerca de 12 mil servidores e que o problema maior foi em dar assistência a estes servidores que adoeceram nesse período.
“Essa comissão que foi criada ela fez o acompanhamento, mas foi um acompanhamento mais de notificação e algumas orientações. Aquele acompanhamento de apoio, inclusive, psicológico para os trabalhadores que tiveram problemas sérios como depressão e dificuldade para se readequar ao trabalho, foi precário”, afirma o presidente do sindicato.
Cruz diz que o em alguns aspectos o atendimento melhorou. E torce pela chegada da vacina no estado para imunizar os servidores e diminuir os índices.
“Melhorou um pouco aqui na capital, criaram uma unidade de referência para estes atendimentos, mas na parte de assistência em si, ainda é muito precária e os trabalhadores sentem na pele. Vamos continuar cobrando uma assistência mais integrada para quem está doente e que a gente consiga avançar e torcer para que chegue a vacina”, acrescenta.
Após morte de três servidores da saúde por Covid-19, colegas fazem homenagem e protesto em frente de hospital do AC — Foto: Ana Paula Xavier/ Rede Amazônica Acre
Mortes
Ainda de acordo com os dados da saúde, pelo menos oito profissionais morreram nesse período. Em uma mesma semana do mês de junho três profissionais do Huerb morreram. Os colegas chegaram a fazer um ato em frente ao hospital.
Cláudio José morreu no dia 6 de junho. A Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) divulgou, após a morte, uma nota lamentando a perda do profissional. O técnico atuava no Centro de Emergência Clínica, conhecida por sala vermelha da unidade.
Também técnica em enfermagem, Mirian Montefusco faleceu no dia 9. Ela trabalhava na ala pediátrica do pronto-socorro. Em nota, a Sesacre se solidarizou com os amigos e familiares e também lamentou a morte de Miriam.
A outra vítima fatal da Covid-19 na área da saúde foi o enfermeiro Eudes Pinheiro, que morreu nno dia 10. Pinheiro atuava na Emergência Cirúrgica do PS. Ele foi contaminado há 20 dias e ficou internado na UTI do hospital.
O enfermeiro Danilo Moura, de 41 anos, foi outra vítima da doença. Ele morreu em julho, após passar 10 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do do Santa Juliana. A morte dele causou comoção nas redes sociais.
Das oito vítimas fatais em todo estado, um desses servidores era de Cruzeiro do Sul, um de Senador Guiomard, e outros seis da capital acreana.
Danilo Moura, de 41 anos, morreu vítima de Covid-19 no dia 18 de julho — Foto: Arquivo pessoal
Maiores infectados
Os auxiliares e técnicos de enfermagem são os que mais testaram positivo com 607 dos casos. Seguido por enfermeiros (302), médicos (145) e agentes comunitários de saúde (133).
O G1 entrou em contato com a presidente do sindicato dos técnicos, mas, não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.