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Em meio a série de mortes e falta de oxigênio em Manaus, pacientes internados fogem ou pedem para ‘morrer em casa’

Cenas de pavor em alas de hospitais lotados e medo de morrer longe da família estão fazendo com que doentes infectados com Covid-19 fujam de hospitais e unidades de saúde de Manaus e até peçam para “morrer em casa”. O relato foi feito por enfermeiras que atuam na rede pública de saúde da capital.


Segundo elas, alguns pacientes não estão suportando o estresse causado pelo caos no sistema de saúde causado pelo aumento no número de casos de Covid-19 e pela instabilidade no abastecimento de oxigênio hospitalar.


O Amazonas vive o pior momento desde o início da epidemia de Covid-19, no ano passado.


Na semana passada, faltou oxigênio hospitalar em unidades de saúde e houve relatos de mortes de pacientes por asfixia. O pânico fez com que centenas de pessoas se aglomerassem nas portas de empresas que produzem oxigênio hospitalar de Manaus em busca de um cilindro do produto para os seus familiares.


A técnica em enfermagem Arlene Loureiro de Albuquerque, que atua no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), contou o caso de um paciente estava internado no Hospital 28 de Agosto, maior de Manaus, que não suportou as cenas vivenciadas nas alas lotadas da unidade e fugiu.


— Ele ficou alucinado vendo tantas coisas. Em questão de horas, algumas pessoas morreram perto dele, e ele ficou com medo e fugiu. Quando chegou em casa, a família tentou internar ele de volta. Ele está com Covid-19 e estava nas alas destinadas a pacientes com a doença. É horrível. Ele não aguentou essa pressão — disse a enfermeira. Segundo ela, o homem, que tem 46 anos, voltou a ser internado.


Ao lado dela, outra enfermeira que trabalha no Hospital 28 de Agosto, mas pediu para não ter o nome divulgado, narrou um caso parecido. Ela contou que, na semana passada, um paciente com Covid-19 demonstrou sinais de estresse diante da movimentação causada pela escassez de oxigênio. Ela disse que o paciente estava em situação moderada e implorava para ir embora.


— Ele queria ir embora pra casa. Ele falava que ia fugir porque, se fosse pra morrer, que morresse em casa e não longe da família — contou a enfermeira.


Horas mais tarde, ela disse, o paciente, que não tinha alta prevista, não estava mais na unidade.


Situação tende a se agravar nas cidades do interior


O caos no sistema de saúde do Amazonas voltou a chamar a atenção na semana passada após os relatos de mortes por asfixia em unidades de saúde do estado.


No dia 14, o governador Wilson Lima (PSC) decretou toque de recolher na cidade como forma de diminuir o avanço da doença. Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde iniciou a transferência de pacientes internados no Amazonas para outros estados.


Apesar do envio de cilindros e tanques de oxigênio, a situação ainda não está normalizada e tende a se agravar em municípios do interior. Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), a lotação dos leitos de UTI em Manaus está em 98%. A taxa de ocupação de leitos clínicos está em 92,8%.


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