Após horas de muita conversa e até confusão em frente ao Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into-AC), a família do motorista de aplicativo Francisco das Chagas Miranda, de 40 anos, que morreu de Covid-19 na noite de terça-feira (5), recebeu a informação de que não houve troca de cadáver.
Apesar dessa confirmação, ficou a dúvida de que podem ter enterrado a pessoa errada, segundo informou o ex-cunhado do motorista, Romilson de Lima. Ele disse que no documento assinado pela funerária e pelo Into para a liberação do corpo, o horário não bate com a hora que o corpo de Miranda foi retirado do hospital para o cortejo.
No entanto, como o único parente legítimo de Miranda seria uma tia de 78 anos, a família optou por não ir adiante com a denúncia e não pedir a exumação do corpo. Isso porque eles temem que a mulher, ao buscar atendimento para resolver a situação, acabe se infectando pelo novo coronavírus e tenha complicações, uma vez que é do grupo de risco.
“Nós saímos para o cortejo era 10h50 e no documento do Into, que a funerária assinou e o Into assina também para liberar o corpo, está como se ele tivesse saído de lá 9:40, sendo que ele não saiu esse horário. Aí, de todo jeito tem erro. Se a gente pedir a exumação do corpo, possa ser que não seja ele que está lá. Mas, como ele tem pouca gente da família e de sangue mesmo só uma tia de 78 anos e a filha de 12 anos, nós optamos por deixar por isso mesmo. Por ela ser idosa, preferiu não correr risco de ir para o Into para resolver isso e acabar sendo contaminada [pela Covid]”, disse Lima.
Comunicado errado
A empresa Medial, responsável pela http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração do Into, informou que não houve nenhuma troca de cadáver e que, na verdade, houve erro na comunicação entre a funerária e a família de Miranda.
“Felizmente não houve nenhuma troca de cadáver, houve sim um comunicado sem critério e de forma errada entre a empresa funerária e a família de um paciente que faleceu no dia 05/01/21 às 18:58 minutos ocupante do leito 8 da UTI 4 de nome FCMS nascido em 07/03/1980. Tendo o corpo retirado do necrotério às 11:00 horas de 06/01/21”, afirmou em nota.
Ainda conforme a empresa, um outro paciente também de nome Francisco faleceu na unidade e por isso, deve ter havido a confusão. “Ocorre que veio a óbito o Senhor FASC ocupante do leito 04 da UTI 4, nascido em 26/06/1965 às 06:05 horas do dia 05/01/21, sendo que o corpo permanece no hospital e será retirado amanhã [quinta, 7] às 07:00 horas.”
“O Into fala que o erro foi só no papel, até a funerária tem dúvida de qual corpo está lá [enterrado]. Por mais que seja ele lá, houve um transtorno, porque eles pediram para a gente enterrar uma outra pessoa às 16h30, fomos reconhecer e vimos que não era nosso parente. Aí, depois disseram que o que tínhamos levado era mesmo nosso parente, mas gerou a dúvida por conta da documentação que não bate com o horário que nós saímos. Vamos ficar com essa dúvida para sempre, infelizmente”, declarou o ex-cunhado.
Enterro e aviso de possível troca
O motorista estava internado no Into desde o dia 26 de dezembro de 2020. Na noite de terça, ele não resistiu à doença e morreu. A família foi informada e, na manhã dessa quarta, esteve no Into para fazer o reconhecimento de Miranda e se preparar para o cortejo até o cemitério.
Ao G1, a também motorista de aplicativo e amiga de Miranda, Diva Gadelha, disse que o amigo tinha complicações no pulmão e já foi internado no Into-AC com pneumonia. Miranda foi enterrado na parte da manhã e, por volta das 15 horas, a família recebeu uma inesperada ligação da funerária.
“O cortejo foi marcado para iniciar às 10 horas, fizemos o cortejo do Into para o [Cemitério] Morada da Paz. O corpo já estava dentro do caixão, tudo certo. A funerária disse que tínhamos enterrado a pessoa errada e o nosso Francisco ainda estaria no Into, que seria enterrado às 16h30”, afirmou.
O G1 entrou novamente em contato com a direção da Funerária Morada da Paz, mas não obteve resposta até última atualização desta reportagem. Nessa quarta, a direção chegou a dizer que estava fazendo o levantamento de todas as informações para se posicionar.
A família chegou a ir na Delegacia do Conjunto Tucumã, mas informada de que precisava registrar o boletim de ocorrência na Delegacia de Flagrantes (Defla). No entanto, com a desistência de levar o caso a diante, eles resolveram não fazer o registro na polícia.