A segunda onda de contágio na pandemia de coronavírus no Brasil produziu uma situação que relembra os momentos mais trágicos da primeira onda. Estão de volta as filas para o enterro de vítimas da Covid em Manaus.
Somente nesta segunda (28), 38 pessoas foram enterradas em um cemitério em Manaus. Do lado fora, a movimentação de carros funerários era grande. E de parentes, que por medida de segurança, não são autorizadas a entrar. Desde o início da pandemia, no máximo três pessoas podem acompanhar o enterro de quem morre por Covid. No caso de morte por outra doença, o número sobe para cinco.
Dona Matilde e os sobrinhos viram o enterro de um parente pelo celular.
Para evitar a proliferação do vírus, o cemitério limitou a área para sepultamentos por Covid-19. De um lado, estão os casos suspeitos, enquanto do outro e no fundo estão os casos confirmados de mortes pela doença.
Segundo a prefeitura de Manaus, a média de enterros aumentou de setembro para cá, com a flexibilização das medidas de isolamento. De 30, pulou para cerca de 45 sepultamentos diários.
O enterro solitário contrasta com as festas clandestinas que acontecem na capital do Amazonas, com aglomeração e divulgação de informações falsas sobre o fim da pandemia. O Amazonas, especialmente Manaus, vive um novo aumento de casos de Covid. Segundo o governo, dos 11 hospitais particulares da capital, sete estão com 100% dos leitos destinados a doença ocupados. Já os hospitais públicos estão com mais de 90% de taxa de ocupação de leitos.
A Secretaria Estadual de Saúde disse que iniciou uma nova fase para enfrentar a doença. “Representa a utilização da rede de todos os leitos da rede pública serão destinados ao combate e ao enfretamento da Covid”, disse Marcellus Campelo, secretário de Saúde.
No sábado (26), o governo do estado, por decreto, fechou as atividades não essenciais por 15 dias. Os comerciantes protestaram e o governo recuou. Permitiu que o comércio reabrisse nesta segunda (28) com restrição de horário. Bares continuam fechados.
O Amazonas já tem mais de 196 mil casos da doença e mais de 5 mil mortes.
Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz, alerta que Manaus pode reviver cenas que chocaram o mundo entre abril e maio, quando a cidade passou pelo pico da pandemia, com enterros coletivos e pessoas morrendo em casa por falta de vagas nos hospitais.
“Isso tem uma implicação prática muito objetiva, você não vai conseguir reduzir o número de pacientes graves demandando por internação hospitalar, não vai conseguir reduzir a demanda de pacientes por leitos de UTI, o que significa mais adoecimento e morte que poderia estar sendo atenuado com essas medidas restritivas que poderiam estar valendo a partir do dia 26”, diz.