A disseminação de mensagens falsas sobre fraudes nas urnas eletrônicas, que marcou o debate virtual sobre as eleições municipais do último domingo, ficou restrita à base bolsonarista, especialmente da chamada ala ideológica. Um levantamento feito a pedido do GLOBO pela consultoria Arquimedes, especializada no monitoramento das redes, identificou 152 mil menções sobre o tema no Twitter entre o domingo de eleição e a última quinta-feira. Ao todo, 65% das publicações partiram de perfis alinhados ao bolsonarismo.
Os dados apontam que influenciadores da base do presidente Jair Bolsonaro impulsionaram mensagens com referências a fraudes no processo eleitoral brasileiro e em defesa do voto impresso. Tiveram destaque no compartilhamento de publicações os blogueiros bolsonaristas Oswaldo Eustáquio e Bernardo Kuster, além dos deputados federais Daniel Silveira (PSL-RJ), Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kics (PSL-DF). Dois dias após a eleição, Eustáquio foi preso por descumprir medidas cautelares determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele, que é alvo da investigação sobre atos antidemocráticos, agora cumpre prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.
Pedro Bruzzi, da Arquimedes, vê paralelo com o discurso de fraude eleitoral difundido por apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, derrotado na última eleição presidencial. Ele defende que o debate tem servido para manter ativa a base de sustentação de Bolsonaro nas redes.
— O tema ficou restrito aos perfis mais fiéis ao bolsonarismo, não encontrando repercussão para além deles. Não deixa de ser importante para manter a base coesa e criar uma justificativa para o resultado ruim no último domingo. Contudo, falam para si. Outro ponto importante é que, ao menos nesse caso, parece que a oposição não caiu na armadilha e não deu tanta atenção, deixando a pauta ainda mais isolada — analisa Bruzzi.
A oposição a Bolsonaro somou 19,5% das menções sobre o tema e atuou para desmentir as acusações. As demais citações (15,5%) também foram negativas, mas na forma de memes e conteúdos humorísticos.
Mensagens falsas sobre fraudes nas urnas eletrônicas já haviam circulado nas redes sociais nas eleições de 2018. Antes do primeiro turno do pleito municipal no domingo passado, um relatório do Digital Forensic Research Lab (DRFLab), ligado ao Atlantic Council, tinha apontado a relação entre atores que divulgaram conteúdos sobre o tema na disputa presidencial e os responsáveis pelo retorno da pauta às redes agora. Ao longo do período desta eleição, o Fato ou Fake, serviço de checagem de fatos do Grupo Globo, verificou mais de 20 boatos que citam fraudes nas urnas. Desde 1996, quando o equipamento passou a ser usado nas eleições brasileiras, a Justiça Eleitoral nunca registrou qualquer fraude.