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Energia ficará 11 vezes mais cara e conta voltará a subir em 2021; entenda


O ano de 2021 promete ser difícil para o setor elétrico se duas variantes não apresentarem tendência de melhora. A mais preocupante é a falta de chuvas, que tem deixado os reservatórios das hidrelétricas — principal fonte de geração de eletricidade no país — em baixa. O outro fator é antigo: o estresse na distribuição da energia até os consumidores.


O Metrópoles cruzou dados de produção energética, de consumo e de capacidade de reservatórios — e a tendência não é boa. Com os resultados desanimadores, especialistas apontam que, em 2021, a conta de luz deve ficar mais cara para a população.


O consumo aumentou nos últimos três meses e pode sobrecarregar ainda mais o sistema elétrico, já estressado. A reabertura econômica, após o período crítico de isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, elevou a utilização de energia.


Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a variação do consumo de energia no terceiro trimestre teve alta em relação ao mesmo período do ano passado.


Após seis meses em queda, o recorte de tempo coincide com o fechamento do comércio, das escolas e dos serviços. Por exemplo, nos últimos três meses, o consumo de eletricidade cresceu 1,9% no país.


Veja a variação do consumo de energia em relação ao mesmo período do ano passado:


1º trimestre: -2,1%
2º trimestre: -8,4%
3º trimestre: +1,9%


Se os consumidores estão usando mais o produto, a geração precisa aumentar. Essa é a lógica de mercado. Contudo, a capacidade da principal fonte brasileira pode não corresponder.


É que a estiagem prolongada tem castigado os reservatórios das hidrelétricas. Sozinhas, elas geram 108.540 MW, o que representa 65,7% da energia consumida no país. São 7,4 mil usinas do tipo operando no Brasil, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).


O pior panorama, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), aparece no Sudeste/Centro-Oeste, onde os aquíferos operam com 18,86% da capacidade, e no Sul, região em que o índice está em 18,81%.


Veja o nível dos reservatórios das hidrelétricas por região:


Norte – 28,86%
Nordeste – 55,832,54%
Sudeste/Centro-Oeste – 18,86%
Sul – 18,81%


Outras fontes


Quando as hidrelétricas funcionam com capacidade inferior à total, o sistema elétrico precisa recorrer a outras fontes geradoras, como as termelétricas, que têm custo mais elevado na produção.


Dados da CCEE revelam que, entre abril e novembro, o custo de produção de energia elétrica no país cresceu 981%. Passou de R$ 39,68, na primeira semana de abril, para R$ 428,96, na última semana. Ou seja, o preço ficou quase 11 vezes maior.


Para especialistas do setor elétrico, essa combinação de fatores pessimistas elevam a probabilidade de aumento nas contas dos brasileiros.


O especialista em economia doméstica Roberto Bocaccio Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB), explica que o principal fator a ser observado é a capacidade de aumentar, a curto prazo, a produção e a distribuição de energia.


Caso o país não recupere a capacidade de geração e o governo queira interferir no preço da conta, não existe alternativa: terá que subsidiar, ou seja, arcar com parte dos custos.


“Já temos um problema fiscal que existe e é sério. Seria um acréscimo ao volume de subsídios, que já é levado. Uma conta que o Tesouro teria de bancar em uma condição fiscal que é problemática em todos os aspectos”, explica Piscitelli.


Engenheiro eletricista formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e especialista em planejamento energético, Roberto Pereira d’Araújo explica que as intempéries do clima devem ser observadas para evitar efeitos negativos.


“Não podemos apostar que o padrão dos rios brasileiros vai permanecer. O clima tropical varia muito, e a hidrologia também. Podemos ter mudança do clima e chuva intensa. Isso engana que está tudo bem. Depois, enfrentamos uma seca histórica”, destaca o especialista.


Olhos em 2021


O ONS é responsável por monitorar o fornecimento de energia em todo o Brasil e fazer a gestão dos recursos energéticos disponíveis. O órgão está monitorando a situação com cautela.


Em 2020, por causa da pandemia de Covid-19, o governo federal suspendeu o sistema de bandeiras, que norteia a cobrança nos preços da conta de luz.


“Sazonalmente, de maio a novembro, entramos no período chamado de seco, ou seja, com escassez de chuva, o que acaba influenciando no nível de armazenamento da água que cai nas bacias e que efetivamente chega aos reservatórios de cada usina, podendo reduzir a geração hidrelétrica no país”, explica, em nota, o ONS.


Assim, há maior despacho de outras fontes de energia, como termelétricas. “As eólicas também têm alta produção nesse período”, continua o comunicado.


Apesar das condições ruins, o órgão descarta falhas no fornecimento. “O Brasil é um país com uma matriz elétrica bastante diversificada. Não há nenhum risco de desabastecimento no país”, destaca o texto.


Contudo, o órgão faz uma ressalva sobre o aumento nas contas. “Para os próximos meses, é preciso esperar e avaliar como o período úmido, que começa agora e vai até abril, irá se comportar para definir as estratégias de operação”, alerta.


Termelétricas elevam custos
O ONS admite que o custo de produção subiu por conta da necessidade da ativação de usinas termelétricas. Nos últimos anos, segundo o órgão, o sistema vivencia escassez que não permite a total recuperação dos níveis dos reservatórios e, em 2020, a seca atingiu, principalmente, as bacias da Região Sul do país.


“Durante esses meses, foi feito um reforço na gestão de todos os reservatórios, sempre respeitando seus limites operativos e as vazões necessárias para o atendimento aos requisitos de abastecimento de energia, ambientais e de usos múltiplos da água”, justifica o ONS.


Ainda não se sabe se o custo da operação no próximo ano vai continuar subindo. Isso dependerá de como vai se configurar o próximo período úmido, que começa agora e vai até abril.


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