Os sinais vitais do presidente Donald Trump, que está com Covid-19, estiveram “muito preocupantes” ao longo do último dia e ele não está fora de perigo, disse neste sábado o chefe de Gabinete da Casa Branca, Mike Meadows. As declarações contrariam o que havia sido dito pelos médicos minutos antes, trazendo ainda mais incerteza sobre o real estado de saúde do presidente americano e os detalhes de seu diagnóstico.
Enquanto a equipe médica disse que Trump estava “muito bem” após sua primeira noite no hospital, Meadows afirmou que os próximos dois dias serão “críticos” para a recuperação do presidente:
“Os sinais vitais nas últimas 24 horas foram muito preocupantes, e as próximas 48 horas serão críticas para o seu tratamento”, disse a repórteres no lado de fora do hospital Walter Reed, para onde Trump foi transferido na sexta. “Nós ainda não estamos em um caminho claro para a recuperação.”
Inicialmente, as declarações de Meadows foram atribuídas a uma fonte anônima “próxima ao presidente”, mas um vídeo mostra o chefe de Gabinete se aproximando dos repórteres e pedindo para falar sob anonimato. A confusão é retrato da falta de transparência e das declarações contraditórias do governo americano, que só aumentaram as dúvidas sobre a saúde do presidente.
Em uma entrevista coletiva na manhã de sábado, os médicos que cuidam de Trump se recusaram a fornecer detalhes sobre seu estado de saúde e deram declarações que não condizem com a linha do tempo da Casa Branca para quando Trump adoeceu e começou a ser tratado. Segundo fontes ouvidas pelo New York Times, o líder americano chegou a receber oxigênio na sexta-feira, após ter dificuldades para respirar e sua taxa de oxigenação cair. Frente a isso, foi levado para o hospital para que pudesse ser monitorado mais de perto.
Questionado múltiplas vezes sobre o assunto, Sean Conley, o médico do presidente, disse apenas que Trump não estava recebendo oxigênio neste sábado, se recusando a dizer se isto teria acontecido anteriormente:
“Não agora e nem ontem, com a equipe médica. Enquanto estávamos todos aqui, ele não esteve no oxigênio”, disse, aparentemente sugerindo que o presidente teria recebido oxigênio antes de ir para o hospital.
O médico também evitou comentar o resultado de exames, se foram detectados danos pulmonares e não quis informar quando o presidente testou negativo para a Covid-19 pela última vez. A todo custo, tentou enfatizar que o estado de saúde de Trump é bom: disse que ele “passa muito bem”, não tem dificuldades para respirar e apresenta sinais vitais normais, com taxa de oxigenação de 96%, considerada normal para uma pessoa saudável.
Conley afirmou ainda que, após ter febre na quinta e na sexta, Trump estaria há 24 horas com a temperatura normal. Sua tosse, congestão nasal e fadiga, afirmou também, estariam melhorando. Questionado sobre a necessidade de internação se tudo estaria bem, o médico disse apenas que é “porque ele [Trump] é o presidente dos Estados Unidos”.
A linha do tempo
A equipe médica também deu a entender que o presidente foi diagnosticado na quarta-feira, e não na quinta, como antes se acreditava. Ao descrever o progresso do presidente, Conley disse que o presidente teria sido diagnosticado “há 72 horas”, o que significaria na tarde de quarta. O resultado do teste PCR, ele disse, teria endossado o diagnóstico na quinta .
Outro médico da equipe, Brian Garibaldi, deu a entender que o presidente já estava em tratamento na tarde de quinta ao dizer que Trump teria recebido a primeira dose de uma terapia experimental com anticorpos cerca de “48 horas atrás”. Por meio de um comunicado emitido posteriormente, Conley afirmou que usou incorretamente o termo “72 horas” em vez de “dia três” e “48 horas” no lugar de “dia quatro”. Segundo a nota, Trump foi diagnosticado na noite de quinta.
Trump cumpriu agenda de viagens na quarta e quinta-feira, pariticpando de eventos de campanha em Minnesota e em Nova Jersey, reunindo centenas de apoiadores que não se protegeram adequadamente do vírus. Não está claro se o presidente viajou ciente da doença ou se já apresentava sintomas na terça-feira, quando participou do primeiro debate presidencial contra o democrata Joe Biden. O ex-vice-presidente testou negativo para a doença.
Enquanto isso, o número de pessoas que tiveram contato com o presidente nos últimos dias e foram diagnosticadas com a doença só aumenta. Além de Trump e Melania, foram diagnosticados: a conselheira do presidente, Hope Hicks; a ex-assessora Kellyanne Conway; os senadores Mike Lee e Thom Tillis; o chefe da campanha de Trump, Bill Stepien; o presidente da Universidade de Notre Dame, John Jenkins; a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel; e o ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, que anunciou neste sábado ter sido internado “por precaução” após apresentar febre. Obeso e asmático, Christie faz parte de dois grupos de risco diferentes.
Com a exceção de McDaniel, todos estiveram presentes na cerimônia de nomeação da juíza Amy Coney Barrett para a Suprema Corte, no último sábado, onde não foi respeitado o distanciamento e pouquíssimas pessoas usavam máscaras. O número de infectados e pessoas expostas na alta cúpula republicana levantou dúvidas sobre a realização da sabatina de Barrett, prevista para começar dia 12, mas o presidente do Senado, Mitch McConnell, disse que o procedimento não será postergado.
Remédio experimental
Segundo os médicos, Trump despacha normalmente na suíte presidencial do hospital e teria afirmado pela manhã que se sentia tão bem que “poderia sair hoje mesmo” do hospital. Em um tom similar, a conta do presidente americano no Twitter publicou uma mensagem em primeira pessoa elogiando o trabalho da equipe médica:
Internações envolvendo presidentes americanos são muito raras, uma vez que o aparato médico da Casa Branca é considerado muito robusto. O presidente americano, no entanto, integra o grupo de risco do novo coronavírus por ter 74 anos e estar acima do peso. Entre os tratamentos experimentais incluídos no tratamento do presidente está o remdesivir, que teve o uso emergencial autorizado pela Food and Drug Administration, agência americana equivalente à Anvisa, em maio e expandido em agosto.
Projetado para tratar o ebola e vírus respiratórios comuns, o remédio foi criado para atuar como um antiviral de espectro amplo, ou seja, capaz de parar a síntese de material genético de vários patógenos. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins (EUA), os Estados Unidos, o país mais afetado pela Covid-19 no mundo, soma mais de 7,3 milhões de casos confirmados e 208,7 mil perdas de vidas para o novo coronavírus.