Líder de terreiro de umbanda é denunciado por abusos sexuais contra seis mulheres


Um dos líderes da umbanda mais populares do país, Heraldo Lopes Guimarães, conhecido como Pai Guimarães de Ogum, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por abusos sexuais praticados contra seis mulheres entre os anos de 2011 e 2014. Ele comanda o Templo de Umbanda Estrela Guia, no bairro do Ipiranga, e a Associação Brasileira dos Religiosos de Umbanda, Candomblé e Jurema. O religioso nega as acusações.


Uma das vítimas é uma jovem de 22 anos, que começou a frequentar o terreiro aos oito anos de idade, com a mãe. Ela conta que via em Guimarães um pai. E que, ao completar 12 anos, foi autorizada por ele a participar dos rituais religiosos. Numa sessão, ela conta que ele a levou para um quarto, batizado de “tronqueira de exu”, onde eram incorporadas entidades espirituais.


Lá, de acordo com ela, o líder religioso teria mandado que a menina praticasse sexo oral nele. Ele determinou ainda que ela não comentasse com ninguém sobre o ritual. A adolescente conta que depois chegou a ser contratada por Guimarães numa serralheria de propriedade do religioso.


A vítima conta que Guimarães dizia que ela precisava fazer os “trabalhos” para ajudar na recuperação da saúde de uma irmã de santo do terreiro, diagnosticada com câncer. Ela obedeceu e, por diversas vezes, teve relações sexuais com o líder religioso, “a mando do santo”.


A vítima também contou que só conseguiu se afastar do terreiro três anos depois de iniciados os abusos. No ano passado, Guimarães a procurou por meio de redes sociais e disse que ela deveria voltar a encontrá-lo, porém, sem nada dizer à “Mãe do terreiro”.


“Ele não representa a religião, é um monstro”


A decisão de fazer a denúncia, segundo a jovem, foi tomada após conversa com outras mulheres que frequentavam o terreiro na mesma época e que comentaram também terem sido vítimas de abusos. Com a descoberta de que não era a única, ela decidiu procurar o Projeto Acolhimento de Vítimas, Análise e Resolução de Conflitos (Avarc), do Ministério Público de São Paulo.


— Ele agia como um pai e usava o santo para fazer isso (os abusos). Só depois percebi. Hoje acho ridículo, mas na época eu era uma criança e acreditei (nele). Ele não representa a religião, é um monstro — diz a jovem, que passou a ter sintomas de síndrome do pânico e hoje toma medicamentos.


Feita a denúncia, a jovem, assim como as demais vítimas, passou a receber apoio psicológico.


As seis vítimas relatam casos de atos libidinosos e abusos sexuais, ocorridos dentro e fora do templo de umbanda, mas sempre com abuso do poder religioso exercido por Guimarães. Pelo menos uma outra vítima denuncia o abuso quando era menor de idade — tinha 14 anos. Outras vítimas foram abusadas sexualmente pelo “santo” pois assim seriam curadas de doenças graves ou teriam pedidos atendidos, como engravidar.


Uma das vítimas é ex-mulher de Guimarães. Viveu com ele durante seis anos e denuncia que era ameaçada sempre que ouvia rumores sobre os abusos sexuais cometidos por ele. O líder espiritual, de acordo com ela, afirmava sempre que ele era “o santo”.


Algumas das vítimas contam que foram expulsas do terreiro depois de comentarem sobre os abusos e difamadas, chamadas de “loucas” e “vagabundas”.


Religioso nega acusações


Marco Antônio de Castro, advogado de Guimarães, afirma que seu cliente nega todas as acusações e que divulgará vídeos nas redes sociais para se defender. Segundo ele, o pai de santo está preparando sua defesa. A Justiça deverá ouvi-lo antes de decidir se aceita ou não a denúncia, apresentada pelo MP-SP no último dia 15 de setembro.


— Meu cliente nega (as acusações). Em crimes sexuais a palavra da vítima é fundamental, mas não pode ser absoluta — diz Castro.


Guimarães tem também forte atuação política. É presidente da Executiva do Partido da Mulher Brasileira (PMB) no município de São Paulo e criador do grupo Guerreiros do Axé, que estimula candidaturas de representantes da umbanda nas eleições para vereador na cidade.


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