Após pouco mais de 30 dias, a Polícia Civil concluiu, nesta sexta-feira (11), as investigações que apuram o atropelamento seguido de morte de Jonhliane Paiva de Souza, de 30 anos, no dia 6 de agosto. Segundo a perícia, Ícaro José da Silva Pinto, que conduzia a BMW que matou a vítima, estava a uma velocidade estimada de de 151 km/h. O motorista do outro carro, Alan Araújo de Lima, estava a 86 KM/h. Os dois foram indiciados por homicídio qualificado.
O delegado Alex Danny, que comandou as investigações, disse que além do homicídio qualificado, eles também foram indiciados pelo crime de racha. A velocidade em que o carro de Ícaro atingiu era três vezes maior que a permitida na Avenida Antônio da Rocha Viana, que é de 50 km/h.
“No inquérito específico, Alan e Ícaro foram indiciados pelos crimes de racha, que tem previsão no Código de Trânsito Brasileiro [CTB], homicídio qualificado por circunstância de que não deu à vítima a possibilidade de esboçar a mínima reação de defesa”, explicou o delegado.
O G1 entrou em contato com o advogado Sanderson Moura, que faz a defesa de Ícaro, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem. Mas, ele tinha afirmado nessa quinta que preferia não comentar o caso publicamente e que se restringe a defesa nos autos.
O advogado Romano Gouveia, que defende Alan, disse que o indiciamento já era esperado, mas que as provas estão sendo colocadas nos autos e que Alan não deve, é primário, o carro não tem nenhuma multa e é estudante e deve ser provada sua inocência.
“O nome já diz, indício. Os indícios devem ser provados em juízo. Indício não aufere culpa, principalmente que o próprio Código de Processo Penal (CPP) e o entendimento é majoritário dizendo que as provas produzidas em sede policial, por si só não servem como base para o édito condenatório. Então, a defesa está trabalhando tranquilamente”, afirmou.
O delegado acrescentou que neste inquérito principal, tanto a namorada de Ícaro, Hatsue Said Tanaka, quanto Eduardo Andrade, que estava no carro com Alan, serviram como testemunhas do caso e não foram indiciados.
“Tanto Hatsue, que era carona de Ícaro ao tempo do crime, e Eduardo, que era carona de Alan, serviram de testemunhas e também ficaram como vítimas de crime contra o perigo à vida que eles correram ao tempo em que Alan e Ícaro praticavam o racha”, acrescentou Danny.
Ao todo, a polícia analisou 36 vídeos de câmeras de segurança e ouviu pelo menos 18 pessoas entre testemunhas e autores.
Além dos crimes principais que foram investigados ao longo do inquérito policial, Danny disse que foram identificados outros crimes considerados secundários e que devem ser investigados de forma paralela, como o crime de causar aglomeração de pessoas dando o risco à saúde pública. “Esses crimes paralelos vão ser investigados em procedimento a parte.”
Morte de Jonhliane
Johnliane foi atingida quando ia ao trabalho pela BMW em alta velocidade, que era pilotada por Ícaro. Ícaro e Alan faziam um racha, segundo a polícia, no momento em que a mulher foi atingida.
Alan foi preso preventivamente no dia 14 de agosto, na casa de um irmão. Já Ícaro foi preso no dia 15, no posto da Tucandeira, divisa do Acre com o estado de Rondônia. Ele voltava de Fortaleza, para onde tinha ido após sofrer ameaças, segundo a defesa dele.
O pedido do habeas corpus de Ícaro Pinto foi negado nessa quinta (10) por unanimidade pela Câmara Criminal em Rio Branco.
Alan não teve o HC julgado na quinta. O advogado dele, Romano Gouveia, informou que o julgamento deve ocorrer na próxima semana.
Com a decisão da justiça, os dois seguem presos preventivamente. Na última semana, a Polícia Civil voltou na casa Alan para fazer buscas por uma peça do carro que seria responsável por dar mais potência ao veículo que ele dirigia no dia do acidente, mas que teria sido retirada.
Perícia
Com a conclusão do inquérito, a perícia apontou que a velocidade de impacto da BMW era de 151 km/h na hora do acidente. A motocicleta conduzida por Johnliane estava em 46km/h e o carro de Alan a 87 km/h.
“No local da ocorrência, conseguimos materializar a velocidade por no mínimo dois metros. Então, o método que a gente utilizou pelos danos, mais a frenagem, mais as sulcagens, tudo isso já conhecido por tabelas internacionalmente, fizemos o cálculo de toda a deformação do veículo, medições devidas de todo veículo e a gente consegue chegar nesse cálculo preciso, que é essa velocidade mínima que nós calculamos de cada veículo”, explicou o perito João Thiago.
O perito Diego Timóteo, que fez as análises no carro conduzido por Alan, confirmou que a peça, alvo de buscas da Polícia Civil na última semana, tinha sido retirada e que ela é responsável por turbinar o motor do veículo.
“A perícia constatou que esse elemento foi suprimido antes de ser conduzido para a nossa seção de identificação veicular. Ele pode gerar um ganho de eficiência, mas, para que ele gere potência, são necessários outros elementos e outros exames para categorizar isso”, pontuou.
Festa
As investigações apontam que os envolvidos no acidente participavam de uma festa. Quando conversou com o G1, a estudante de http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração Hatsue, namorada de Ícaro, afirmou que o casal participava de uma festa, onde consumiu bebida alcoólica, e discutia antes de o carro atingirJohnliane. O motivo da discussão, segundo ela, foi uma crise de ciúmes porque um amigo a abraçou. Ela negou conhecer o motorista do outro carro, Alan, e rechaçou a disputa de racha.
Hatsue afirmou que o namorado não sabia no que tinha batido e decidiu seguir dirigindo.
“No momento em que aconteceu a tragédia, foi tudo muito rápido. A primeira reação do Ícaro foi continuar dirigindo. A gente não sabia direito o que tinha acontecido. Quando ele parou o carro, saímos, olhei, e percebi o que tinha acontecido, ficamos muito sem reação”, relembrou.
Menos de 10 minutos após a batida, Ícaro e a namorada foram flagrados por uma câmera de segurança caminhando de mãos dadas. O carro foi abandonado algumas ruas após o acidente. Segundo Hatsue, o momento mostrado pelo vídeo é a hora em que ela tentava acalmar o namorado.
O casal foi resgatado por Diego Hosken, de 32 anos, investigado pela polícia por dar fuga para o motorista. Hosken foi preso dirigindo embriagado e por tentar atropelar policiais militares durante a abordagem. Ele foi liberado após pagar fiança.
Hatsue disse que só soube da tragédia quando entrou no carro de Hosken e ouviu dele um resumo dos fatos. Questionada se não pensaram em voltar para prestar assistência, ela afirmou que o casal queria voltar, mas foi aconselhado a não ir. Ela disse que o namorado ficou desesperado ao saber da morte de Jonhliane e tentou se jogar do carro.
Racha
O principal motivo para o atropelamento e morte de Jonhliane foi um racha feito entre Ícaro e Alan. Segundo as investigações, Alan estava na mesma festa que o amigo e os dois disputavam um racha antes da BMW de Ícaro bater na motocicleta de Jonhliane.
“Essa questão do racha é uma coisa que não consigo colocar na minha cabeça, porque estava conversando com o Ícaro, a gente estava discutindo desde a hora da festa. Acredito que a polícia e o MP querem criar algo pela questão da velocidade e do ocorrido”, defendeu Hatsue.
O MPAC, por meio da 6ª Promotoria de Justiça Criminal, com atribuições perante a 2ª Vara do Tribunal do Júri de Rio Branco, destacou, na época do acidente, que a investigação constatou que os acusados estavam disputando racha e fugiram do local do crime sem prestar socorro à vítima.
Um vídeo de câmeras de segurança mostra os dois carros em alta velocidade na Avenida Antônio da Rocha Viana.