Caso Flordelis divide filhos entre defensores e acusadores da deputada


A família de 55 filhos, antes chefiada pela deputada Flordelis e o marido, o pastor Anderson do Carmo, está dividida. A mãe é acusada de ser a chefe de uma trama que envolve poder, dinheiro e religião. A CNN teve acesso a vídeos, documentos e entrevistas exclusivas relacionada à morte do pastor Anderson.


“O que percebemos é que havia um núcleo da família mais próximo à ela e quando a operação ocorreu houve uma indginação por parte desse grupo. Mas da outra parte da família, que não concordava com esse plano macabro, houve uma satisfação”, diz o delegado Allan Duarte, que foi substituído no caso por Bruno Cleuder.


O filho adotivo conhecido como Misael, cujo nome real é Wagner Andrade Pimenta, foi o primeiro a se revoltar. Ele deixou a igreja da família e não fala mais com Flordelis desde o assassinato de Anderson. “Eu morei lá quase 30 anos, fui acolhido com 12 anos. Infelizmente, falo com tristeza isso, minha mãe está envolvida no assassinato do meu pai”, afirma Misael.


Em depoimento à polícia, é a mãe adotiva quem acusa o filho. Segundo Flordelis, tudo começou quando Anderson não aprovou a candidatura de Misael para a prefeitura de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A desavença teria ocorrido em 2019 e, em junho daquele ano, o pastor foi assassinado com mais de 30 tiros. A investigação mostra que um ano antes Anderson foi vítima de tentativas seguidas de envenenamento. No enterro, os filhos Flávio e Lucas foram presos pelo homicídio.


O início da investigação policial revelou vários segredos da família. Para a polícia, a tática de defesa da deputada é o ataque e os alvos, que mudam com o tempo, são os filhos. Primeiro foi Misael, depois Lucas.


“O Lucas foi tratado como alvo por ela desde o início. Ela tentou manipulá-lo encaminhando uma carta com conteúdo em que ele se acusava como executor, e acusava outros dois irmãos, o Misael e Luan, como mandantes do crime. A todo momento ela gira o canhão dela pro Lucas, o filho que hoje está preso junto com o Flávio, que sabemos que foi o responsável por participar da compra da arma do crime”, explica Duarte.


Regiane Rabello, testemunha do caso e que sofreu um ataque à bomba no início do mês, conta que Lucas não se dava bem com ninguém da família Flordelis. “Ele queria uma vivência de família e começou a não concordar com a loucura daquela casa. O Flávio só queria que ele ficasse lá até assumir a autoria do crime. Essa era toda a tática do Flávio, em conluio com a mãe e os advogados aqui fora. Se não der certo com ele [Lucas], ela vai tentar com outro”, afirma.


O lado ‘secreto’ da família


Após a morte de Anderson, outros segredos da família começaram a ser expostos. Testemunhas relataram à polícia casos de abusos sexuais, tortura, rituais, trabalhos forçados e a diferença de tratamento entre os filhos.


Misael relata a sua rotina: “Acordava cedo, arrumava a casa, cuidava das crianças menores. Mas tinha irmãos que não precisavam acordar cedo.”


Para o delegado, há evidênciais concretas da divisão hierárquica da família. “São facções dentro do mesmo núcleo familiar. As pessoas mais próximas à ela eram tratadas com privilégios, tanto com relação à comida, vestuário, lazer, dinheiro e até mesmo as acomodações no interior da residência. Já a parte que era mais distante era tratada com indiferença. Percebemos, então, que essa parte da família não concordava com o plano [de matar Anderson]”, diz Duarte.


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