Boliviano que teve filha estuprada e família morta por acreanos conhecia suspeitos há 5 anos: ‘Me levaram tudo’


“Me levaram tudo e mais a vida dos meus dois filhos e da minha mulher”, contou o agricultor boliviano de 49 anos, que perdeu parte da família assassinada. No último domingo (13), ele flagrou um acreano estuprando sua filha de 14 anos e decidiu amarrá-lo para chamar a polícia. Enquanto isso, parentes do suspeito de estupro apareceram e atacaram a família boliviana.


O crime bárbaro ocorreu por volta das 7h na propriedade da família boliviana, que fica próximo das cidades de Acrelândia e Plácido de Castro, na região de fronteira com a Bolívia. Os corpos das vítimas foram encontrados na segunda (14).


A menina de 14 anos levou cerca de quatro tiros, mas conseguiu ser socorrida e está internada no pronto-socorro da capital acreana. Segundo a direção, ela foi transferida para a clínica médica e permanece estável.


O pai, que não teve o nome revelado para preservar a identidade da adolescente vítima de estupro, contou que confiava nos acreanos que tinha contratado para trabalhar na sua casa e que os conhecia há cerca de cinco anos.


Depois do ocorrido com sua família, ele soube que os homens já tinham se envolvido em outras situações de violência.


“Estamos muito abalados realmente. Eu tinha confiança neles, contratei para trabalhar lá na minha propriedade, conhecia há cerca de cinco anos e eles estudaram tudo, até como minha mulher guardava o dinheiro”, disse.


Abalada


O G1 teve acesso a um áudio da adolescente contando como ocorreu a chacina. O trecho da conversa é parte do depoimento dela dado à polícia. Muito abalada e chorando, ela conta como os criminosos agiram.


“Primeiro dispararam na minha mãe e depois disparam em mim, depois dispararam no [nome de um dos irmãos] e depois no meu irmão [nome do outro irmão], que estava atrás de uma árvore.”


A gravação é interrompida quando a adolescente começa a chorar.


A Polícia Civil do Acre investiga o caso. Segundo o delegado Samuel Mendes, de Acrelândia, inicialmente dois homens foram presos em flagrante, mas um deles acabou sendo solto e o outro foi levado ao presídio de Rio Branco.


Outros cinco da mesma família, sendo um menor, estão foragidos. A polícia chegou a dizer que os autores e as vítimas tinham uma relação de amizade.


Crime bárbaro


A ocorrência foi atendida pelas polícias Civil e Militar do Acre. Segundo a PM, dois moradores de Acrelândia, que são da mesma família, trabalhavam com a retirada de madeira em uma propriedade boliviana e um deles teria estuprado a menina de 14 anos na localidade.


O pai da menina flagrou a situação, amarrou o homem a um tronco de árvore e foi até o lado brasileiro para pedir ajuda da polícia para prendê-lo.


Ao perceber a situação, outro acreano que estava no local correu até sua casa, avisou que o parente estava preso na propriedade do boliviano e chamou os familiares para resgatar o suspeito de estupro.


O grupo, então, foi em motocicletas até a propriedade boliviana para libertar o homem. No local, eles mataram a mãe da menina de 14 anos, dois irmãos dela, e ainda atiraram contra a adolescente.


Os corpos foram jogados próximos a uma árvore, e a casa da família foi queimada. O grupo teria ainda roubado cerca de R$ 10 mil e mais uma quantidade de dinheiro boliviano que estava na casa das vítimas.


Ouviu os tiros


O agricultor contou que, depois que amarrou o suspeito na árvore, foi até Acrelândia buscar ajuda da polícia, mas foi informado que não poderiam atender, já que o caso tinha ocorrido em território boliviano.


Ele, então, resolveu retornar para casa quando no caminho soube que três motocicletas tinham passado em direção ao local com seis pessoas armadas de rifles e espingardas.


“Quando estava pegando meu barco para voltar, escutei os tiros, acredito que foram quatro de espingarda e quatro de rifle. Aí me preocupei mais, tentei buscar ajuda e encontrei um boliviano e ele foi quem salvou a vida da minha filha e me falou ‘Carlos, sua família está toda morta. Tenha cuidado porque estão procurando você’. Daí, já me levaram e minha filha já estava na ambulância’, lembrou o agricultor.


Emoção ao lembrar da família


Casado com a mulher há 20 anos, o boliviano se emociona ao lembrar da companheira. Sobre os filhos, ele contou que eram muito trabalhadores e tinham o sonho de comprar pasto e gado.


“Minha mulher me ensinou muitas coisas; a trabalhar desde cedo, era uma pessoa boa, nunca vou duvidar disso. Me lembro que uma vez ela falou: ‘Quando eu morrer, você vai responder como mãe e como pai e, se você morrer, eu vou responder como pai e como mãe. Ela me falou essas palavras e agora tenho uma filha que está no hospital e peço a Deus que se recupere da operação”.


Autoridades bolivianas


Em matéria publicada nessa quarta (16), o consulado da Bolívia no Brasil tinha informado que não sabia do crime e que, após contato da equipe de reportagem, iria tentar falar com a polícia para levantar informações sobre o caso.


Nesta quinta (17), o G1 não conseguiu contato com o consulado. As autoridades bolivianas no Acre dizem não ter conhecimento do caso.


O agricultor faz ainda um apelo às autoridades para que os envolvidos no crime sejam extraditados para Bolívia.


“Peço por favor, e também falo ao meu país, que eles sejam pegos e extraditados para o consulado. Somos trabalhadores, nunca tivemos nenhum problema em Plácido de Castro, nem em Acrelândia ou Califórnia [vila], mas tive a família baleada, querem tampar minha boca, mas não, a mim não vão calar. Quero que se cumpra a lei e que paguem seus delitos na Bolívia, porque mataram na Bolívia. Vou falar com governador da Bolívia, vou ao Ministério Público, eu quero Justiça”, desabafou.


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