A dona de casa Ana Amélia Farias não imaginava que iria passar por um sufoco que durou mais de quatro meses para retornar para casa, em Cruzeiro do Sul, interior do Acre. Com os voos para a cidade acreana suspensos devido à pandemia, Ana Amélia chegou em Rio Branco no último dia 27 e pagou R$ 800 em um táxi até o interior.
Os voos para a cidade de Cruzeiro do Sul foram suspensos em março deste ano, quando foram registrados os primeiros casos de coronavírus no Acre. Desde então, o único acesso ao município tem sido via terrestre, mas o transporte rodoviário também está reduzido.
No último dia 25, o Ministério Público do Acre entrou com uma ação civil pública contra a Gol para que ela retome as atividades na segunda maior cidade do Acre. Três dias depois, a Justiça julgou procedente uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Acre e determinou que a empresa Gol retomesse as atividades a partir do próximo dia 5 de agosto.
Porém, mesmo com a determinação, a empresa descumpriu a decisão judicial e não voltou com os voos. Então, o MP-AC pediu que a companhia área tenha multas elevadas para R$ 1 milhão por dia, seja condenada por má-fé e bloqueio diário de contas da empresa.
Com isso, vários morador se sentem prejudicados sem os voos. Ana Amélia saiu de Cruzeiro do Sul no dia 26 de fevereiro para Santa Catarina com a intenção de voltar em maio. Ela ia deixar dois netos com a filha em Joinville (SC) e levou a filha que tem paralisia cerebral junto.
Em abril, ela entrou em contato com uma agência e comprou três passagens, já que a neta de 11 anos decidiu voltar com ela, para Cruzeiro do Sul novamente. Foi aí que começou o transtorno na vida da moradora.
“Comprei à vista as três passagens. Quando a gente pensava que ia voltar eles cancelavam. Conseguiu chegar no Acre depois de cinco meses quando alterei a passagem para Rio Branco. Sai de lá no dia 26 de julho em um voo para Navegante, que fica a uma hora de Joinville, chegamos em Guarulhos no final da manhã, ficamos à tarde inteira, saímos de lá nove e meia da noite. Ninguém deu assistência para nós nesse período, ficamos nas cadeiras”, relembrou.
À Rede Amazônica Acre, a Gol Linhas Aéreas afirmou que não comenta decisão judicial.
Sufoco
De Guarulhos (SP), Ana Amélia foi para Brasília (DF), onde dormiu em um hotel e conseguiu sair no dia seguinte, 27, às 9 horas. Por volta do meio-dia, a família chegou em Rio Branco, mas os problemas não acabaram.
“Cheguei sem nenhuma assistência, tinha ligado antes e expliquei que tinha uma filha especial, que minha viagem para Cruzeiro do Sul, mas nada. Tive que pagar uma lotação. Paguei R$ 800 para Cruzeiro porque queria chegar no mesmo dia, não queria voltar para casa. Minha viagem para lá foi ótima, foi direta”, criticou.
Frustrada com a viagem, a dona de casa pretende acionar a Justiça contra a companhia aérea. “Foi uma viagem muito cansativa que até me arrependi. Perdemos sono, nos alimentamos mal, porque a alimentação nos aeroportos são caríssimas. Fomos só eu e minha filha”, criticou.
Ana Amélia disse que só conseguiu retornar para o Acre em julho quando mudou o trajeto de Cruzeiro do Sul para Rio Branco, mais de 600 quilômetros longe de casa.
“Ligava para a Gol e falava que tenho uma filha especial e precisava que quando chegasse em Rio Branco me transportasse para minha cidade, porque minha passagem estava direta para Cruzeiro do Sul. Até que mudei a cidade pra chegar em casa”, lamentou.
Prejuízos
Cristiano Falcão é dono de uma agência de viagens e presidente do Conselho Municipal de Turismo e, segundo ele, a conexão em Cruzeiro do Sul atende moradores de ao menos oito municípios da região, com um total de 300 mil pessoas.
“O prejuízo é irreparável. Não dá para vender amanhã a passagem que podíamos ter vendido hoje e muito menos o hotel não dá para utilizar a diária de hoje, amanhã. Não é como um açúcar que está na prateleira que pode ser comprado amanhã. Tirando o voo de Cruzeiro do Sul, o turismo para. Um cliente que está na Europa ou Estados Unidos faz a pesquisa de passagem e percebe que só tem voo até Rio Branco. Não vai se deslocar de ônibus sem saber como é a estrada. É surreal”, frisou.
Ainda segundo ele, os quase cinco meses sem voo, além dos transtornos aos passageiros tem gerado um prejuízo em outros setores da economia local.
“Isso não está restrito só a agência de viagem, ao setor de turismo, mas todo mundo tem um parente que precisa de tratamento, fazer uma viagem de férias e por um motivo ou outro a pessoa vai fazer uso da Gol”, concluiu.