O governo do Líbano anunciou nesta segunda-feira (10) a renúncia de todos os membros do gabinete que http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistra o país. Decisão surge menos de uma semana depois que uma grande explosão no porto de Beirute matou mais de 160 pessoas, e cujas suspeitas de negligência por parte das autoridades libanesas desencadearam protestos ao longo do último fim de semana.
“Estamos indo um passo para trás para ficar do lado do povo e lutar com eles a batalha da mudança. Nós queremos abrir a porta perante a salvação nacional para que todos os libaneses participem da criação desse projeto. É por isso que eu anuncio hoje a demissao deste gabinete. Que Deus proteja o Líbano”, disse Hassan Diab, premiê do Líbano, em pronunciamento nesta segunda-deira.
Uma fonte ministerial do alto escalão disse à CNN que acredita que o governo passará à condição de interino ainda nesta segunda. Até então, três ministros e sete membros do Parlamento já haviam anunciado que deixariam seus cargos.
O Líbano enfrenta sua pior crise econômica em décadas e ainda lida com o aumento de casos do novo coronavírus. Após a explosão, aumentaram as acusações de corrupção e má http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração.
O gabinete do governo, formado em janeiro com o apoio do poderoso grupo Hezbollah e seus aliados, se reuniu hoje. Mas antes mesmo do encontro, fontes ministeriais e políticas já diziam que muitos ministros pretendiam renunciar.
Explosão agravou crise
A explosão de terça-feira (4) destruiu a região do porto de Beirute e causou estragos em toda a capital libanesa. Ao menos 163 pessoas morreram, mais de 5 mil se feriram e 300 mil ficaram desabrigadas, segundo autoridades do país.
Horas depois, o primeiro-ministro do país, Hassan Diab, disse que cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amônio, um material altamente explosivo, vinha sendo armazenado em um depósito perto do porto há seis anos, “sem medidas preventivas”.
O presidente Michel Aoun afirmou que considera como causa da explosão interferência externa, acidente ou negligência. Uma investigação sobre o caso está em andamento e, até o momento, as autoridades não confirmaram oficialmente o que desencadeou a explosão.
Diante disso, a população foi às ruas pressionar pela renúncia de todos os membros do governo. As manifestações dos últimos dois dias foram as maiores desde outubro. Os manifestantes também acusam a elite política libanesa de desviar recursos do país para benefício próprio.
Nitrato chegou a Beirute em 2013
Documentos obtidos pela CNN mostram que o nitrato de amônio estocado chegou a Beirute em um navio russo em 2013, que tinha como destino Moçambique. A embarcação parou na capital libanesa em razão de problemas financeiros e para que os tripulantes pudessem descansar, e nunca mais deixou o local.
A tripulação abandonou o navio, que foi confiscado pelas autoridades, e o nitrato de amônio a bordo foi armazenado em um hangar no porto.
De acordo com os documentos, Badri Daher, diretor da Alfândega libanesa, alertou por anos sobre o “perigo extremo” de deixar a substância no local. À CNN, ele disse que funcionários da alfândega escreveram seis vezes às autoridades solicitando que a carga fosse removida do porto, mas os pedidos não foram atendidos.
Dias depois da explosão, os compradores originais do nitrato de amônio disseram à CNN que o produto foi adquirido para ser usado na mineração. A Fábrica de Explosivos Moçambique (FEM), uma empresa do país africano, afirmou que foi ela que solicitou a compra do material. O pedido estava destinado à fabricação de explosivos para companhias mineradoras de Moçambique.
No entanto, o nitrato de amônio nunca chegou a Moçambique, segundo um porta-voz da FEM, e acabou sendo armazenado em um depósito no porto da capital libanesa. A empresa disse que esta foi a única compra da substância química que nunca chegou ao seu destino.
Outros documentos encontrados sugeriram que diversas agências do governo libanês foram informadas sobre o armazenamento do nitrato de amônio no porto, incluindo o Ministério da Justiça – cuja ministra, Marie Claude Najm, afirmou hoje, antes do anúncio da saída de todos os membros do governo, que apresentou sua carta de renúncia.
A empresa que representa a tripulação do navio russo divulgou um comunicado em que diz que enviou cartas em julho de 2014 a autoridades do porto de Beirute e ao Ministério dos Transportes “alertando para os perigos dos materiais transportados no navio”.
Ainda de acordo com esses últimos documentos, autoridades alfandegárias emitiram avisos sobre os perigos da carga a um juiz. Mas este, que não teve o nome revelado por razões legais, respondeu várias vezes alegando que a embarcação e sua carga poderiam não estar dentro da jurisdição do tribunal. Com isso, o material permaneceu no local.
(Com Reuters)