Quase três semanas após o atropelamento e morte de Jonhliane Paiva, em Rio Branco, a estudante de http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração Hatsue Said Tanaka, de 28 anos, namorada de Ícaro José da Silva Pinto – que dirigia a BMW em alta velocidade – quebrou o silêncio e falou ao G1, com exclusividade, sobre a manhã da tragédia. Hatsue disse viver um ‘pesadelo’.
A estudante afirmou que o casal participava de uma festa, onde consumiu bebida alcoólica, e discutia antes de o carro atingir a motocicleta de Johnliane. O motivo da discussão, segundo ela, foi uma crise de ciúmes de Ícaro porque um amigo a abraçou ainda na festa. Ela negou conhecer o motorista do outro carro, Alan Lima, e rechaçou a disputa de racha.
Hatsue afirma que o namorado não sabia em quê tinha batido e decidiu seguir dirigindo.
“No momento em que aconteceu a tragédia só ouvi o impacto, foi tudo muito rápido. A primeira reação do Ícaro foi continuar dirigindo. A gente não sabia direito o que tinha acontecido. Quando ele parou o carro, saímos, olhei e percebi o que tinha acontecido, ficamos muito sem reação. Aquele foi um momento de muito susto”, relembrou.
Flagrados por câmera
Menos de 10 minutos após a batida, Ícaro e a namorada foram flagrados por uma câmera de segurançacaminhando de mãos dadas. O carro foi abandonado algumas ruas após o acidente. Segundo Hatsue, o momento mostrado pelo vídeo é a hora em que ela tenta acalmar o namorado.
“Aquele momento eu estava acalmando ele, estava muito desesperado, sem saber o que tinha acontecido e a preocupação dele é que tivesse feito algo e machucado alguém porque, até então, a gente não sabia do falecimento da jovem. Só falava ‘calma, vamos pensar positivo que não aconteceu nada, se acalma”, frisou.
O casal foi resgatado por Diego Hosken, de 32 anos, que é investigado pela Polícia Civil por dar fuga para o motorista da BMW. Hosken foi preso na noite de domingo dirigindo embriagado e tentou atropelar os policiais militares. Ele foi liberado após pagar fiança.
Hatsue disse que só soube da tragédia quando entrou no carro de Hosken e ouviu dele um resumo dos fatos. Questionada se não pensaram em voltar para prestar assistência, ela afirmou que o casal queria voltar para o local, mas foi aconselhado a não ir. Ela diz que Ícaro ficou desesperado ao saber da morte de Jonhliane e tentou se jogar do carro.
“No momento em que entramos no carro, falamos para ele levar a gente até lá, mas ele falou ‘gente, aconteceu uma tragédia, vocês bateram, o carro colidiu em uma moto, tinha uma moça. O Samu já chegou lá, o socorro está lá’. No momento eu estava muito atordoada tentando acalmar o Ícaro. Estava desesperado querendo se jogar do carro”, afirma.
Contato com a família
Ainda segundo a estudante, a família do namorado tentou contato com os parentes de Jonhliane para prestar apoio. Mas, ela afirmou que a família da vítima não quis a aproximação.
“Soube que os pais dele entraram em contato várias vezes com pessoas que conheciam parentes da mãe da moça, com a mãe, mas não conseguiram, não queriam fazer contato com a gente”, pontuou.
O G1 entrou em contato com o irmão de Jonhliane, Jonata Paiva, e ele afirmou que a família nunca foi procurada para conversar.
“Não entraram em contato. Nunca. O depoimento não condiz com a verdade”, resumiu.
Possível racha
O principal motivo para o atropelamento e morte de Jonhliane Paiva seria um racha feito entre Ícaro Pinto e Alan Lima. Segundo as investigações da Polícia Civil, Alan Lima estava na mesma festa que o amigo e disputava um racha antes da BMW bater em Jonhliane. Os dois estão presos preventivamente pelo crime.
“Essa questão do racha é uma coisa que não consigo colocar na minha cabeça porque estava conversando com o Ícaro, a gente estava discutindo desde a hora da festa. Acredito que a polícia e o Ministério querem criar algo pela questão da velocidade e do ocorrido”, defendeu Hatsue.
O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio da 6ª Promotoria de Justiça Criminal, com atribuições perante a 2ª Vara do Tribunal do Júri de Rio Branco, destacou, na época do acidente, que a investigação constatou que os acusados estavam disputando racha e fugiram do local do crime, sem prestar socorro à vítima.
Um vídeo de câmeras de segurança mostram os dois carros em alta velocidade na Avenida Antônio da Rocha Viana.
Viagem para Fortaleza
No último dia 13, um vídeo gravado em uma das praias de Fortaleza viralizou nas redes sociais por mostrar Ícaro Pinto, Hatsue e o ex-juiz eleitoral José Teixeira Pinto, pai de Ícaro, tomando água de coco na capital cearense. A defesa do rapaz afirmou que ele foi para a cidade porque estava sendo ameaçado de morte.
“A mãe dele está lá em tratamento. Ícaro precisava muito ver e conversar com a mãe dele. Ela estava muito desesperada e o pai dele pediu para que a gente ficasse perto dela nesse momento. Chegamos a levá-lo em um psicólogo, psiquiatra e começou a tomar remédio devido à perturbação na cabeça”, justificou a estudante.
A jovem também reafirmou que ela e o namorado receberam ameaças de morte após o acidente. Hatsue contou também que as últimas semanas têm sido um pesadelo, e que a família dela e de Ícaro estão sofrendo com tudo o que aconteceu.
“Parece assim que estou vivendo um pesadelo. Apesar de que não está sendo fácil para mim, nem para os pais do Ícaro e principalmente para o Ícaro que está preso agora, penso muito na família da moça, na mãe dela e por mais que a gente esteja vivendo sob ameaça, com medo dessa tragédia que aconteceu, não chega nem perto da tragédia da família dela”, acrescentou.
A estudante disse ainda que lamenta o que aconteceu, que tenta refazer a vida e seguir em frente. “A gente lamenta muito porque nada que a gente faça vai reparar e trazer a vida dela de volta. Então, nenhum suporte financeiro, emocional vai chegar perto de compensar a vida dela. Não tem como reverter uma fatalidade dessa”, reafirmou.
Críticas
Na última semana, vídeos de Hatsue fazendo exercícios físicos e brincando com uma amiga viralizaram. Segundo ela, as imagens foram usadas de forma maldosa para difamá-la e insinuar que está levando uma normal após acidente.
“Pegaram o vídeo e falaram que eu estava vivendo como se nada tivesse acontecido, e que estava vermelha do sol que peguei em Fortaleza. Gravei um vídeo revoltada. Entendo a revolta da sociedade diante do fato, mas pegar um vídeo e distorcer para querer difamar a pessoa? As pessoas não sabem o que estou vivendo, o que a família do Ícaro, o que ele está vivendo, o que passa pelo coração da gente, como se a gente não fosse ser humano e não tivesse sofrendo”, finalizou.