Quando o presidente da Câmara de Rio Branco, vereador Jessé Santiago (PSB) saiu da capital na tarde de quinta-feira,12 de agosto de 2010, para cumprir agenda em Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Acre não tinha a menor noção do que o destino havia preparado para ele, cinco dias depois. Além de vereador e presidente da Câmara de Rio Branco, Jessé Santiago era pastor da Igreja Assembleia de Deus e liderava as pesquisas de intenções de votos para deputado federal, na capital. Por isso, as chances de ele ser eleito como um dos campeões de votos eram reais.
Aquela manhã fúnebre de terça-feira, 17 de agosto de 2010, ficou marcada pra sempre na memória dos familiares e amigos de Jessé, além das pessoas que apoiavam sua candidatura, na capital e interior. Jessé pretendia voltar a Rio Branco na manhã de terça-feira, 17 de agosto ainda com tempo para presidir a sessão ordinária do Poder Legislativo Municipal, mas foi traído pelo destino. O que chegou foi apenas seu corpo, por volta das 20h, em um caixão. O vereador-pastor tinha dois compromissos importantes em Rio Branco no dia 17 de agosto: presidir a sessão ordinária na Câmara, às 10h e participar do culto às 19h, no templo sede da Igreja Assembleia de Deus. Ele lutou, mas não conseguiu participar da sessão, nem do culto. Ao chegar ao Aeroporto de Cruzeiro do sul, antes das 5h da manhã para fazer o “chek in”, esse e outras pessoas que também pretendia viajar a Rio Branco, foram surpreendidos com a notícia de que o vôo fora cancelado em função da falta de visibilidade, provocada pela fumaceira, o avião da Trip, nem saiu de Rio Branco. Uma nova previsão de vôo foi feita para a tarde do mesmo dia. Temendo que não haveria vôo naquele dia, esse se arrisco a voltar de carona na camionete que era um carro de campanha do deputado Luís Tchê (PDT), que disputava a reeleição pela mesma coligação. Mesmo imprensado, sem o mínimo conforto e segurança, esse se arriscou de carro e saiu antes das 6h da manhã com destino a Rio Branco.
Segundo os funcionários da empresa Colorado que assistiram ao acidente, o motorista da camionete não se deu conta de um desvio na pista em reforma à direita. A Toyota Hilux passou direto caindo num vão de 6m de largura por 5m de profundidade, onde estava a ser construída uma galeria de passagem de águas pluviais. O veículo ficou pendurado no buraco. O trágico acidente ocorreu na BR-364 – trecho da Terra Indígena Katukina, próximo ao Rio Liberdade, a 100 Km de Cruzeiro do Sul. Na colisão da Hilux, que seguia para Rio Branco, estavam mais seis pessoas. Morreram também no acidente Queline Melo, 37 anos, conhecido por Queline Melo” e, uma criança de cinco anos, Carla Dinar Viana Livas. As vítimas foram levadas ao Hospital Regional do Juruá, em Cruzeiro do Sul. Segundo informações, Jessé ainda chegou com vida ao Hospital de Cruzeiro do Sul. No entanto, depois de entrar em coma, o vereador não resistiu e faleceu por volta das 10h30m.Segundo as informações do motorista da Empresa Colorado, que executava obras de recapeamento da pista no trecho, Oséias Lima, que socorreu as vítimas, o acidente ocorreu por volta das 6h da manhã no km 56.
Foi coisa do destino, afirma jornalista
“Posso afirmar que foi uma fatalidade o que aconteceu com vereador. Ele foi uma vítima indireta do problema que o Acre vive com a grande quantidade de fumaça na sua atmosfera”, afirmou o jornalista Nelson Liano Junior, hoje diretor da Secretaria de comunicação Social do Governo do Acre. “Ontem, na madrugada, por volta das 3h15 da manhã, me encontrei com o Jessé Santiago, no Aeroporto Internacional de Cruzeiro do Sul. Nós iríamos embarcar no vôo da Trip com destino a Rio Branco. No entanto, devido à falta de visibilidade provocada pela fumaceira a aeronave nem saiu de Rio Branco. No chek in fomos informados do cancelamento do vôo”, escreveu Nelson no dia seguinte ao acidente.
Ainda segundo Nelson, todos os passageiros estavam bastante agitados com o transtorno. “Brinquei com o Jessé me referindo ao fato de ele que era um pastor evangélico pedindo votos na terra de Nossa Senhora da Glória, que teve o ápice do seu Novenário há dois dias”. Jessé retrucou que “isso era um detalhe e que seria um deputado federal de todas as religiões”. O vereador abraçou Nelson e afirmou que tinha pressa para voltar à Rio Branco. Ele estava esperando para conseguir uma carona de carro, já que a situação da fumaceira poderia se agravar e ele não queria ficar “preso” em Cruzeiro do Sul. “Todos que estavam no Aeroporto de Cruzeiro do Sul tinham um sentimento de revolta devido ao isolamento forçado, inclusive, eu. As pessoas queriam resolver seus negócios em outras cidades e estavam impedidas de voar e sem saber quando os aeroportos do Acre e de Rondônia reabririam novamente. Então, quem podia, estava montando logísticas via estrada para saírem do Juruá”. “Quando Jessé comentou comigo que talvez tivesse um carro para levá-lo, um amigo que estava comigo ainda sugeriu que ele poderia arrumar essa carona para nós dois também. Mas é claro que isso não foi possível. Conforme os relatos do acidente, a Hilux já estava com seis passageiros e deveriam viajar com pouco espaço para acomodar o vereador, o sétimo passageiro”, afirmou.
Sem cinto
Outro ponto a se destacar é que provavelmente Jessé Santiago não deveria estar com o cinto de segurança. É literalmente um risco trafegar nos trechos em obras da BR 364 sem os aparatos de segurança. Outro fator que pode ter contribuído à fatalidade foi o horário em que aconteceu o acidente. Por volta das 6h da manhã, onde a luminosidade é conhecida como lusco fusco podendo criar ilusões visuais perigosas para os motoristas.
Direto do aeroporto
Outra questão a se destacar é o fato de que para chegar nesse horário a 100 km de Cruzeiro do Sul, na BR 364, a camionete saiu direto do Aeroporto de Cruzeiro do Sul para a estrada. A condução de um veículo na madrugada sempre torna a jornada mais perigosa se levarmos em conta o fator cansaço e a baixa visibilidade. Ainda mais numa rodovia que estava praticamente toda em obras.
Mulher e três filhos
Jessé deixou a viúva, pastora Cacilda Santiago e três filhos: Lucas, Matheus e João Marcos, que à época eram todos menores. Seu nome foi eternizado pelo então prefeito Raimundo Angelim que prestou homenagem póstuma ao vereador. Jessé tem seu nome destacado na nova Rodoviária de Rio Branco, na Via Verde – Segundo Distrito e a uma escola, na Rua Dourado – Conjunto Jorge Lavocat.