O ex-árbitro Márcio Chagas da Silva, atualmente comentarista de arbitragem na televisão, revelou em entrevista ao portal UOL o motivo da demissão da RBS, afiliada do Grupo Globo no Rio Grande do Sul. Ele contou ter sofrido casos de racismo durante partidas e não recebeu apoio dos chefes, que deixaram a porta aberta para ele se retirar da transmissão.
– Cara, isso te incomoda? Se tu quiser sair da transmissão pode ficar à vontade – contou Márcio sobre o que o seu chefe disse no ponto eletrônico após sofrer ofensas raciais de uma torcedora do Juventude, no Gauchão de 2019, no Alfredo Jaconi.
No duelo entre Juventude e Internacional pelo Campeonato Gaúcho de 2019, uma torcedora do Juventude cometeu racismo contra o ex-árbitro, que estava na cabine de transmissão da RBS. Márcio alegou ainda que este não teria sido o primeiro episódio e que por isso ali na frente da cabine ficavam familiares dos jogadores, não torcedores.
– Tu tá vendo o que ele tá fazendo, seu negro de merda? Esse pau no c* não marcou um pênalti claro. Ele tá roubando, porr*. Ele tá prejudicando o trabalho do meu marido. Maldita Princesa Isabel, negro sujo – relembra o ex-árbitro sobre o que escutou da torcedora, familiar de algum atleta do Juventude.
No Alfredo Jaconi, Márcio Chagas da Silva já vivenciou outros casos de racismo. Torcedores já tentaram invadir a cabine para agredi-lo e este episódio teria motivado a RBS pedir a mudança da organização, colocando os familiares dos jogadores próximos da cabine, não torcedores.
– Olha bem o que tu vai falar aí, seu negro filho da put*. Hoje as bananas vão entrar pelo teu c* e não no teu carro – disse a mulher, fazendo referência ao episódio de 2014 na cidade de Bento Gonçalves, quando torcedores bateram no carro do ex-árbitro e arremessaram bananas.
Em novembro do ano passado, após participar do programa ‘Redação SporTV’ sobre o Dia da Consciência Negra, Márcio Chagas da Silva recebeu uma ligação do seu chefe contando que tinha planos para desligá-lo da emissora após o Campeonato Gaúcho deste ano. No entanto, o desligamento aconteceu durante a paralisação da pandemia.
– Cara, estou pensando em te desligar no final do Campeonato Gaúcho, mas não quero que pense que seja por ser negro. Teus posicionamentos estão causando muitos desgastes – disse o chefe em novembro do ano passado.
RBS nega acusações
O Grupo RBS defende e respeita a diversidade, seja ela de opinião, costumes, raça, credo, orientação sexual, e repudia de forma veemente qualquer tipo de preconceito. A empresa não só denuncia regularmente episódios discriminatórios em seus espaços editoriais como também apoia a formação e o desenvolvimento de grupos internos de diversidade de gênero, sexual e racial.
No caso específico do ex-juiz Márcio Chagas, sua saída ocorreu em meio a uma reestruturação da área de esportes que incluiu a movimentação de outros profissionais. O contato foi telefônico em razão do distanciamento social exigido durante a pandemia de coronavírus.
A exemplo de qualquer de seus profissionais que sofrem ameaças ou agressões durante sua atividade, a empresa ofereceu apoio jurídico ao comentarista em razão dos indignos ataques sofridos por ele, que preferiu recorrer a advogado próprio que já o assistia em processos anteriores à atividade na RBS.