A contaminação de amostras de asas de frango congeladas do Brasil na cidade chinesa de Shenzhen não deve levar a uma suspensão mais abrangente das exportações para o país asiático. A avaliação é feita por Welber Barral, sócio da consultoria BMJ, especializada em comércio exterior.
A notícia da amostra contaminada saiu nesta quinta-feira (13).
Barral, que foi secretário de Comércio Exterior do Brasil de 2007 a 2011, explica que o procedimento do comércio entre países prevê a suspensão da planta industrial que exportou a carga suspeita, e não de todas as unidades da empresa; e, muito menos, de toda a produção do país.
Em casos como esse, o governo local ou nacional pede uma nova certificação sanitária antes de reabilitar a planta industrial para que possa exportar novamente.
A exceção é feita para doenças específicas, como a do mal da vaca louca, em que o Brasil tem um protocolo bilateral com a China que prevê a suspensão temporária de certificados sanitários em caso de notificações da doença. Foi o que aconteceu em julho do ano passado.
O episódio acontece em um momento em que as exportações de carne de frango do Brasil para a China estão em alta: as receitas somaram US$ 790 bilhões de janeiro a julho, uma alta de 19% na comparação com o mesmo período do ano passado. Foi o sexto produto mais exportado para a China.
Barral alerta, no entanto, que há dois riscos: o primeiro é o de outros países que importam carnes do Brasil passarem a realizar testes sistemáticas nas cargas transportadas.
O segundo risco é reputacional, que ele pondera como algo difícil de ser antecipado neste momento. É a ameaça de muitas pessoas passarem a evitar o consumo de certos alimentos pelo temor de contágio, dado o elevado nível de preocupação de populações no mundo com o novo coronavírus.
Questões em aberto
O ex-secretário de Comércio Exterior ressaltou ainda que existem muitas questões em aberto sobre o episódio e que, diante das informações apresentadas até o momento, não é possível sequer afirmar que a eventual contaminação se deu em uma unidade de processamento da carne de frango no Brasil.
“Será necessário fazer a identificação da cepa do vírus que estava na amostra para saber é uma cepa típica da pandemia no Brasil ou que já circulava na China ou na Ásia”, afirma.
Ele explica que a carga provavelmente passou pelo procedimento de transbordo antes de chegar à China e, já dentro do país asiático, foi transportada por empresas locais até chegar a Shenzhen.
A carga com a carne supostamente contaminada foi atribuída por sites chineses à coopertiva Aurora Alimentos, de Santa Catarina. A empresa disse em nota que não houve confirmação oficial das autoridades chinesas, mesmo fato destacado pelo Ministério da Agricultura.
O especialista em comércio exterior ponderou ainda que não há comprovação científica de que é possível haver transmissão do novo coronavírus por meio de embalagens de alimentos. Esse diagnóstico foi reforçado nesta quinta pela Organização Mundial de Saúde (OMS).