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Brasileiros presos no Peru há 4 meses dividem casa com carrapatos: ‘Medo’


Um casal de Santos, no litoral de São Paulo, está entre as últimas pessoas que viajaram ao Peru antes da chegada do novo coronavírus ao país e não conseguiram retornar ao Brasil. O G1 conversou com a professora Rhanna Martins Franco, de 22 anos, que está em um intercâmbio que tinha previsão inicial de término em julho. O namorado dela, que chegou ao Peru para uma visita, pouco antes do país fechar as fronteiras, também não conseguiu voltar.


Rhanna viajou ao Peru no início de janeiro para estudar e ensinar português para alunos estrangeiros. O contrato inicial terminava em julho, quando ela deveria voltar para casa. Em março, seu namorado foi visitá-la, para ficar cerca de 15 dias.


Em 16 de março, o Peru fechou as fronteiras por tempo indeterminado, como medida para combater a transmissão do novo coronavírus pelo país. Brasileiros e outros estrangeiros foram pegos de surpresa com a decisão e permaneceram retidos no país, dependendo de voos humanitários negociados pelo Itamaraty. Apesar da medida anunciada ter sido por apenas 15 dias, a situação foi prorrogada até então.


Desde o fechamento, 12 voos humanitários saíram de Lima, capital peruana, para repatriar brasileiros. Rhanna afirma que ela e 180 brasileiros, que se comunicam por mensagens, não têm condições de viajar à capital. “Estamos há pelo menos 16 horas de Lima. É muito longe e a estrada é perigosa. Todos temos medo. Estamos em um lugar estrangeiro, não conhecemos as coisas daqui”, afirma.


“A saúde daqui está colapsando. Os casos estão muito altos, é muito angustiante não saber como as coisas vão ficar “, desabafa. “Eu até tenho um seguro saúde, mas é de um dos hospitais que não consegue mais atender ninguém, com fila [de pacientes] do lado de fora.”


Ela conta que, recentemente, ela e o namorado contraíram Covid-19, com diferença de uma semana. O namorado teve sintomas de gripe, dores no corpo e perda de paladar. Ela, por sua vez, teve dor no corpo, dor nos olhos e tosse. Ambos estão se recuperando e passam bem.


Saudade de casa


Rhanna conta que, durante este período, está morando com o namorado em um apartamento que divide com um casal peruano e uma criança na cidade de Arequipa. Desde o início da pandemia, ela e a outra família sofrem com a infestação de carrapato do lugar.


“Não tenho outro lugar para onde ir, porque ninguém quer aceitar estrangeiros em um momento como esse, sem certeza de quando tempo ficará no Peru”, desabafa.


Apesar do contrato do estágio terminar em julho, a professora conseguiu estender o prazo final até outubro. Mesmo assim, ela pretende sair do país o quanto antes. “Quero ver minha família, estar em casa. Tenho uma sobrinha pequena que é muito ligada a mim, quero poder vê-la novamente.”


Embaixada brasileira


A professora afirma que tentou contato com a embaixada brasileira no Peru, mas que não obtém retorno sobre a possibilidade de repatriação. “Dizem que não há previsão de novos voos. Justificam que já saíram 12 voos e que não podem fazer mais nada pela gente.”


Ela diz, ainda, que questiona o órgão sobre quais providências estão sendo tomadas pra tirar ela e os outros 180 brasileiros com quem mantêm contato. “A resposta que a gente sempre recebe é que as fronteiras estão fechadas e que estão encontrando impasses para resolver isso.”


Na última semana, a embaixada brasileira no Peru compartilhou, nas redes sociais, que uma agência aérea estaria oferecendo um voo privado com trajeto até o Brasil. Apesar de publicado em um perfil oficial da embaixada, a professora aponta que não há garantias sobre a procedência da empresa.


“A embaixada se isentou de qualquer responsabilidade com esse voo. Então se a gente paga, por exemplo, e essa empresa some, ninguém é responsável”, afirma. “O voo custa R$ 3 mil, é impossível pra gente, e nem sabemos se realmente vai sair. Não temos garantia de nada. Está bem desesperador.”


Procurado, o Itamaraty respondeu, por nota, que vem dedicando “máxima atenção ao retorno dos brasileiros que solicitam repatriação”, (leia a nota na íntegra abaixo). Aponta também que até o momento, cerca de 38 mil brasileiros foram repatriados, desde o início da pandemia, por meio de voos humanitários e, também, com auxílio de ônibus para transportar brasileiros em outras cidades do Peru até Lima, de onde saem os voos.


Leia na íntegra a nota enviada pelo Itamaraty
“Desde o início da pandemia, o Itamaraty vem dedicando máxima atenção ao retorno dos brasileiros que solicitam repatriação. Para tanto, em março último, foi estabelecido o Grupo Consular de Crise. Até o momento, foram repatriados com o apoio do Itamaraty cerca de 38.800 brasileiros, em operações que incluíram a contratação direta de voos fretados ou o apoio institucional de nossa rede de embaixadas e consulados.


Com relação ao Peru, o Itamaraty, por meio da Embaixada em Lima, já viabilizou o retorno de 1785 brasileiros retidos naquele país, sem custos, e a realização de doze voos de repatriação desde o início da pandemia.


Além de negociações com as companhias aéreas e o governo local, as operações incluíram a realização de dois voos da FAB que trouxeram, em 25 de março, 59 brasileiros e 7 estrangeiros residentes retidos em Cusco e voo fretado pelo Itamaraty, no dia 1º de abril, que repatriou 168 pessoas localizadas em Lima. O mais recente voo foi realizado em 25 de junho.


Com vistas a apoiar brasileiros que não se encontravam na capital peruana, a Embaixada do Brasil em Lima contratou, por ocasião de voo realizado em 15 de abril, dois ônibus para transportar brasileiros localizados em demais cidades do Peru – inclusive Arequipa – até o local de partida do voo, em Lima.


O Itamaraty permanece mobilizado na busca de soluções para casos de necessidade de repatriação ou de assistência a cidadãos desvalidos. A Embaixada em Lima mantém lista atualizada de cidadão que tencionam regressar ao Brasil e continua empenhada em realizar gestões junto a empresas de fretamento aéreo e de transporte rodoviário para viabilizar novas oportunidades de retorno. Em razão das restrições de circulação determinadas pelo governo peruano, a representação brasileira segue, igualmente, realizando gestões junto às autoridades peruanas para obtenção de autorizações de deslocamento até Lima, bem como à região de fronteira.”


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