Em nota de esclarecimento, médica nega negligência com paciente morta por Covid-19

No intuito de esclarecer o episódio envolvendo meu nome, amplamente noticiado nos meios de comunicação locais, informo que no dia 13 de julho deste ano estava de plantão na UTI do Hospital Santa Juliana, onde exerço atividade como médica diarista, além de Coordenadora das UTIs daquela entidade, quando chegou uma equipe do SAMU trazendo uma paciente.
Naquela ocasião, a equipe do SAMU adentrou até a porta do salão onde estão localizados os leitos, dentro, portanto, do ambiente da UTI. Foi quando, dirigindo-me ao médico da mencionada equipe, Dr. Carlos, perguntei quem havia regulado a vinda da paciente, já que nem eu, tampouco a equipe da UTI do Hospital Santa Juliana, tinha conhecimento sobre tal encaminhamento.
Ainda questionei minha equipe sobre a existência de alguma vaga cedida para outra unidade e todos afirmaram desconhecer. Registre-se que ao meu lado estava o colega Dr. Nilson, médico regulador de leitos, que igualmente não sabia sobre a transferência da paciente, mas me passou o nome e número de telefone da outra médica reguladora, com a qual tentei contato, sem sucesso, pois o telefone não foi atendido.
Apenas quando consegui contato com Dr. Eduardo Passos, este informou que, de fato, havia sido feito um pedido, por parte do Dr. Leonardo, relacionado a uma paciente oriunda da UPA.
Contudo, é importante destacar que, em meio a todos os fatos ora relatados, a enfermeira Kamila Kraveiro preparou um leito e recebeu a paciente, iniciando o acolhimento de enfermagem. A paciente em momento algum ficou desassistida.
Digo isso com muita tranquilidade, pois eu mesma a examinei, a admiti, fiz sua prescrição e os papéis de sua internação. Fiquei com a paciente até as 20h quando passei o plantão para outro médico e ela, naquele momento, já estava em uma condição melhor do que chegou.
Ocorre que há um protocolo regulamentado no Estado e este, para a boa ordem e prestação dos serviços, deve ser observado. Assim, deve o médico assistente repassar o caso ao médico que receberá o paciente, obviamente, antes da sua transferência, o que não ocorreu neste caso.
Além disso, é imperioso que ao menos a UTI seja previamente comunicada, uma vez que é possível a ocorrência de fatores diversos que impeçam o recebimento do paciente naquele momento, como o atendimento de uma parada cardíaca ou algum procedimento como intubação. No dia do ocorrido, por exemplo, nossa programação era a realização de duas tomografias de pacientes internados, saindo o Dr. Nilson da UTI, enquanto eu ficaria responsável por todos os demais pacientes.
De todo modo, enquanto a paciente trazida pela equipe do SAMU era recebida pela equipe de enfermagem do Santa Juliana, continuei falando com o médico Dr. Carlos, que trouxe a paciente. E lembro quando lhe disse que havia trabalhado quinze anos no SAMU, e a praxe é sempre avisarmos antes de levar o paciente para checar o leito.
Foi nesse momento que ouvi uma pessoa, de modo rude, falar “não é mais assim não, as coisas mudaram”. Quando olhei para o lado, verifiquei que se tratava do motorista de ambulância, chamado Ayache, o qual em um passado recente, fez ilações sobre mim e minha família que na ocasião, por motivos pessoais, achei por melhor não revidar.
Naquele momento estava conversando com um colega médico, de forma cordial, como deve ser e prontamente pedi ao Sr. Ayache que não interrompesse a conversa, pois se tratava de assunto técnico, regulado e tratado entre médicos.
Novamente, o Sr. Ayache retrucou algo de forma jocosa, sobre eu estar “nervosa”, algo que muitas mulheres, nas mais diversas estruturas organizacionais, devem ouvir com relativa frequência, quando o deboche é usado como meio de intimidação ou diminuição da autoridade feminina.
Nesse momento, determinei sua saída do ambiente da UTI, repetindo por três vezes a frase: saia da UTI motorista, minha conversa é com o médico. Após sua saída, pedi desculpas ao Dr. Carlos, e disse que faria um documento reclamando sobre a transferência de pacientes sem necessário aviso às duas regulações (urgência SAMU e leitos).
Essa é a realidade dos fatos, a síntese da discussão, que não mereceria qualquer relevância até a divulgação de nota de repúdio nos jornais eletrônicos locais, contendo ilações e inverdades.
Por fim, esclareço que não me importo com o que digam de mim em redes sociais. Atuo na terapia intensiva há 25 anos, sou uma das únicas 4 intensivistas adulto atuantes do Estado, mas na terça-feira pela manhã o que me deixou triste saber da morte da Daniele, que quando foi acolhida pela equipe do Santa Juliana disse conhecer a mim, o meu trabalho, bem como confiar na minha equipe. A paciente ainda deixou claro que havia pedido para ser transferida para os nossos cuidados.
No horário de visita, conversei com sua filha, passei-lhe a gravidade do quadro e a possibilidade de intubação. A paciente estava internada há 19 dias na UPA do 2º Distrito. Chegou saturando 65%, e quando eu saí já saturava 91%. Necessitou de intubação às 6h30, o que foi feito com muita presteza pelo colega que me sucedeu. Todavia apresentou 5 paradas cardíacas, vindo infelizmente a falecer.
Na manhã do dia 14 de julho, dei os pêsames à sua filha e disse sentir muito a perda da minha paciente, sua mãe, pois a partir do momento que ela adentrou na UTI do Santa Juliana, ela era de minha total responsabilidade.
Destaco, entretanto, que não será alguém destemperado, sem capacidade técnica, que julgará ou levantará dúvidas sobre minha conduta.
Como o que foi dito são calúnias e difamações, serão tratadas no foro adequado.
Sem mais.
Márcia Odilia Marçal de Vasconcelos-Médica Intensivista-CRM-568
RQE-235


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