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Pesquisa aponta que 35% das grávidas de Rio Branco sofrem com restrições alimentares

Dados de uma pesquisa em Saúde Coletiva da Amazônia feita por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac) sobre a segurança alimentar na gravidez apontam que 35% das grávidas de Rio Branco enfrentaram no ano de 2015 situação de privação de alimentos, incluindo experiência de fome.


O estudo avaliou 1.194 grávidas da capital acreana com informações sobre a segurança alimentar desde o período em que descobriram a gravidez até o dia do parto.


Um dos autores da pesquisa, Alanderson Ramalho explicou que os dados foram coletados diariamente por um período de três meses nos dois locais onde são feitos partos em Rio Branco, na Maternidade Bárbara Heliodora e no Hospital Santa Juliana.


“Fizemos isso para ter certeza que esse estudo era de base populacional, ou seja, que ele realmente representava Rio Branco como um todo. A gente consegue ter essa certeza porque Rio Branco tem uma sequência de partos extra hospitalares menor do que 0,11%. Ou seja, a cada mil partos, apenas um é fora da maternidade. Com isso, esses nossos resultados da pesquisa podem ser extrapolados para todas as gestantes de Rio branco daquele período”, disse.


Apesar dos dados serem do ano de 2015, o artigo científico intitulado “Insegurança alimentar durante a gestação em uma coorte materno-infantil na Amazônia Ocidental brasileira” foi publicado na revista Nutrients no último dia 28 de maio.


Conforme a pesquisa, a prevalência de insegurança alimentar durante a gestação foi de 35% em Rio Branco. O percentual é superior ao estimado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2013, com relação à população urbana brasileira, que foi de 20,5%. Assim como a do estado do Acre, de 31,2%. A taxa só ficou abaixo das estimativas para as regiões Norte e Nordeste, de 36,1% e 38,1%, respectivamente.


“Esses resultados impressionaram um pouco a gente. Nós fomos estudar quais fatores estavam associados a essa insegurança alimentar.
L Já é esperado que os principais fatores sejam em relação à renda. E a gente observou exatamente isso. Tivemos maior chance de insegurança alimentar nas gestantes que tinham esgoto a céu aberto próximo à sua residência, que pertenciam à classe socioeconômica C, D e E, que tinham menor escolaridade, não tinham parceiro fixo, não estavam na primeira gestação e as que não consumiam regularmente frutas e hortaliças”, informou.


Outra constatação da pesquisa foi que mesmo as gestantes que recebiam benefício do Bolsa Família, tinham consumo de frutas e hortaliças abaixo do esperado.


“Por mais que se tenha Bolsa Família, acredita-se que ele não é utilizado exatamente para alimentação. Porque, talvez, essas pessoas estejam num patamar de pobreza tão grande que outras situações vêm primeiro do que a própria alimentação. Não temos como ter certeza disso, porque o estudo não analisou a esse ponto, mas essas situações que a gente observou dá para deixar claro”, ressaltou o pesquisador.


O estudo utilizou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar como a instrumento para o levantamento dos dados. São 14 perguntas que variam de acordo com o nível de insegurança.


Mais de 5% passaram um dia sem comer


Se dividir por níveis de severidade de insegurança alimentar das gestantes daquele ano em Rio Branco, o estudo apontou que a insegurança leve foi de 24,6%, já a moderada estava em 4,7% e a insegurança grave com 5,4%.


O pesquisador explicou que o grupo que faz parte da insegurança grave é aquele que passou, pelo menos, um dia todo sem comer e realmente estava em um grau de fome.


“Se a gente pensar que a cada 100 gestantes, cinco estavam nesse nível é muito alto. É maior do que as médias nacionais e do que até mesmo algumas regiões bem pobres do Nordeste. Então, numa fase da gestação, que a mulher tem que ter o aporte nutricional adequado, ela estar nesse nível de insegurança grave, é muito grave tanto para mãe quanto para o bebê que vai nascer”, afirmou.


Ao final do estudo, os pesquisadores indicam algumas medidas que devem ser tomadas para que a situação dessas gestantes seja melhorada. Entre elas, ações voltadas para a economia doméstica nos programas de transferência de renda.


“É preciso empoderar as mulheres em relação à escolaridade, isso porque, aumentando a escolaridade, provavelmente, aumenta a renda. Outra coisa interessante seriam questões voltadas dentro do próprio Bolsa Família com formas de gerar renda para essa população, pensar em cursos para aproveitamento integral dos alimentos”, concluiu Ramalho.


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