A extremista Sara Giromini, que adotou o pseudônimo Sara Winter,presa nesta segunda-feira (15) em Brasília em uma investigação sobre movimentos antidemocráticos, foiexcluída do grupo feminista Femen em 2012 acusada de “desaparecer” após receber dinheiro para fazer protesto que não foi realizado e espalhar mentiras sobre a organização. As afirmações são de Inna Schevchenko, líder do Femen, em entrevista ao G1 por e-mail.
O Femen é um grupo feminista fundado na Ucrânia, famoso por protestos em várias partes do mundo de mulheres com seios à mostra e frases escritas no corpo. Na época em que deixou o grupo, Sara negou o uso irregular de dinheiro enviado pela matriz e disse que a organização assumiu uma postura “ditatorial” com as integrantes brasileiras.
Atualmente, Sara Giromini é chefe do grupo 300 do Brasil, de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo a investigação que levou à prisão de Sara nesta segunda, o grupo é suspeito de organizar e captar recursos para atos antidemocráticos e de crimes contra a Lei de Segurança Nacional. Integrantes do grupo 300 participaram de ato no último sábado (13), quando manifestantes lançaram fogos de artifícios contra o prédio do STF.
O grupo também participou de acampamento em Brasília que foi desmontado por policiais militares após o Ministério Público do Distrito Federal classificar o movimento como “milícia armada”.
“O engajamento político recente da Sara e as desinformações que ela espalhou sobre o movimento feminista nos últimos anos são uma vergonha”, afirma Inna.
O G1 entrou em contato com a defesa de Sara Giromini para questionar sobre as acusações feitas pela líder do Femen, mas não havia obtido resposta até a última atualização desta reportagem.
Sara Giromini em protesto em 2012 pela cassação do então deputado federal Jair Bolsonaro — Foto: Gabriel Barreira/G1
A filiação de Sara ao Femen ocorreu há oito anos, quando ela foi até a Ucrânia. Naquele ano, ela chegou a protestar pela cassação do então deputado federal Jair Bolsonaro, de quem hoje é aliada, segundo o inquérito das fake news.
“Ela se apresentou naquela época como uma dedicada feminista que queria liderar o movimento feminista no Brasil. Quando ela voltou ao Brasil, nós descobrimos por alguns jornalistas locais que Sara não era seu verdadeiro nome e que anteriormente ela estava envolvida em alguma organização estudantil de direita. Nossa surpresa e indignação foram enormes”, conta a ucraniana de 29 anos.
Já na época da filiação ao Femen, ativistas de esquerda a criticaram por ter adotado um pseudônimo igual ao de uma apoiadora nazista britânica morta em 1944: Sara Winter née Domville-Taylor.
Historiadores ouvidos pelo G1confirmam que há evidências da existência da britânica, embora ressaltem que ela não foi uma figura conhecida historicamente e que não há nenhuma comprovação de relação entre o nome das duas.
“Há evidências, sim, da existência de uma Sara Winter na União Fascista Britânica, mas não é possível afirmar que há uma relação de causalidade entre a Sara Winter original e a adoção [do pseudônimo] da Sara Winter brasileira”, afirma Odilon Caldeira Neto, professor de História Contemporânea na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Pesquisador de grupos neonazistas e de extrema-direita, ele diz que o grupo atualmente liderado pela Sara brasileira tem semelhanças com grupos radicais no exterior.
“O grupo adota algumas práticas que podem ser comparadas a grupos de extrema direita internacional, seja na simbologia das tochas, seja no termo ‘ucranizar’. Se enquadra dentro de um panorama de novos tipos de manifestação de grupos de extrema direita”, afirma ele.
‘Erro infantil’, disse Sara sobre movimentos de direita
Em 2012, quando confrontada pela líder do Femen sobre seu já existente envolvimento com movimentos de direita, Sara o teria atribuído a um “erro infantil”.
“Ela chorou e pediu para não ser expulsa do movimento, uma vez que o ativismo feminista era sério para ela e ela também queria corrigir seu erro anterior. Como feministas, que têm que apoiar outras mulheres, nós decidimos confiar na Sara”, relembra Inna Schevchenko.
A segunda chance, no entanto, durou poucos meses. O Femen afirma que enviou dinheiro para Sara viajar de São Paulo ao Rio para realizar um protesto que jamais foi realizado.
“No dia da ação ela simplesmente desapareceu”, diz a ucraniana, que decidiu expulsá-la.
“Depois disso, Sara começou uma campanha de desinformação vergonhosa contra o movimento feminista e contra a minha pessoa. Nós, entretanto, decidimos não abaixar ao nível dela e simplesmente ignoramos suas acusações ridículas, lamentando por ela”.
Atualmente, o Femen diz que Sara tem “ideologias perigosas” e se tornou uma adversária de todas as feministas, negando os direitos e autonomia pessoal das mulheres.
Depois de ter sido alvo de busca e apreensão no inquérito das fake news, que também apura ataques a membros do Supremo Tribunal Federal (STF), Sara disse que iria “infernizar” a vida do ministro Alexandre de Moraes.
Ela é investigada também pela Procuradoria da República do Distrito Federal por suposta incitação à subversão da ordem social.