“A UTI que ele tanto precisava chegou tarde demais”. Esse foi o desabafo do policial penal Francisco Evangelista de Souza após receber notícia da morte do pai, Cornélio Ferreira de Souza, de 90 anos, na madrugada desta quinta-feira (25), no pronto-socorro de Rio Branco.
No atestado de óbito consta que o idoso morreu por choque séptico, síndrome respiratória em decorrência da Covid-19. Souza foi enterrado nesta quinta no Cemitério Morada da Paz, em Rio Branco.
O policial chegou a se ajoelhar, no último dia 17 de junho, no pátio da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Segundo Distrito de Rio Branco para implorar por uma vaga na UTI para o pai, diagnosticado com Covid-19.
No mesmo dia, o idoso foi transferido. Mas, apesar da indicação do médico, segundo o filho, ser para que Souza fosse transferido para a UTI, ele foi colocado no 4ª andar do pronto-socorro, que é uma sala semi-intensiva.
“Ontem [quarta, 24] à noite por volta das 21h eles conseguiram a vaga de UTI, mas acharam melhor não levar devido às condições dele que ele não aguentaria. Quando foi na madrugada, ele faleceu”, contou o filho ainda em choque com a notícia.
Sobre a questão da vaga de UTI, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), por meio da assessoria, informou que um dia antes do filho do idoso se ajoelhar pedindo por um leito para o pai, a equipe de Saúde já estava tentando uma vaga para o paciente na UTI. Mas, já tinham outros pacientes na frente dele aguardando pela vaga.
Ainda segundo a Sesacre, o órgão aguarda a declaração de óbito para que ele conste no boletim diário oficial. No último boletim, divulgado na quarta, o Acre registra 326 óbitos confirmados pela doença e 12.022 casos de Covid-19.
No dia em que o idoso foi levado para o 4ª andar do pronto-socorro, a gerente de assistência da unidade, Mônica Nascimento, conversou com oG1 e disse que a transferência foi após uma decisão do médico regulador do estado. Segundo ela, o local foi adaptado e habilitado para atender pacientes críticos.
‘Um guerreiro’
O filho lembra com carinho de como era o pai e contou que com o senhor Cornélio não tinha tempo ruim. Ele era um verdadeiro guerreiro que amava a vida, gostava de comer um bom churrasco e dançar forró.
“O meu pai era um guerreiro. Com 90 anos, não tinha tempo ruim para ele, nunca foi sedentário. Ele era muito querido pelo pessoal do bairro e principalmente pelos familiares. O que ele deixa para família é exemplo de honestidade, hombridade e de amor pelo próximo”, disse.
O idoso morava com mais 12 pessoas entre crianças e, de acordo com o filho, ninguém apresentou sintomas de Covid-19. Souza começou a se sentir mal, foi levado pelo filho ao médico e teve o diagnóstico de dengue, mas após apresentar uma piora foi para a UPA do Segundo Distrito onde teve o diagnóstico de Covid-19.
“O que causa revolta para família é que desde o dia 16 eu venho pedindo socorro para todo mundo por uma UTI para meu pai. Mesmo tendo indicação médica, essa UTI veio aparecer ontem quando ele já estava com quadro de infecção generalizada, sendo que até um adulto dificilmente escapa”, lamentou o filho.