Ametodologia utilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com base nos conceitos da OIT (Organização Internacional do Trabalho) para calcular o índice de desemprego pode demorar para refletir o impacto da pandemia do novo coronavírusno mercado de trabalho brasileiro.
Ao consultar a população para elaborar os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), os pesquisadores perguntam inicialmente a idade dos respondentes. Se maiores de 14 anos, a questão passa a ser a respeito da situação ocupacional do entrevistado.
“Se você não estiver trabalhando, pode ser que você também não esteja procurando. Nesse caso, você não é considerado como um trabalhador desocupado. Você só está na população economicamente ativa que não procura trabalho”, explica André Diz, professor de economia do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais).
Caso não tenham ido fisicamente atrás de um posto de trabalho nas semanas que antecederam o período de referência da pesquisa, o profissional é enquadrado entre os que estão apenas fora da força de trabalho e os desalentados, que desistiram de procurar emprego. As pessoas presentes nos dois grupos não são consideradas como desocupadas.
A possível distorção nos registros futuros foi reconhecida até mesmo por membros da equipe do IBGE. Durante a divulgação do índice de desemprego do primeiro trimestre, a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, admitiu que as medidas de isolamento podem já ter refletido nos dados.
Ao todo, os números mais recentes da Pnad apontam que há 12,3 milhões de pessoas desocupadas no Brasil. No entanto, mais de 67,3 milhões encontram-se fora da força de trabalho e os desalentados somam 4,8 milhões.
“Não posso ponderar se o impacto da pandemia foi grande ou pequeno, até porque falamos de um trimestre com movimentos sazonais, mas de fato para algumas atividades ele foi mais intenso”, analisou a pesquisadora.
Na avaliação de Diz, a dificuldade de coletar dados também vai impedir que a realidade do aumento da taxa de desemprego seja refletida pela Pnad nos próximos meses.
“O cenário já é de um aumento de desocupados e, sem essa margem estatística do IBGE, a gente vai ficar com a percepção de que o número está pior por não ser tão acurado quanto costuma ter”, lamenta o professor do Ibmec.
A percepção do andamento do mercado de trabalho também será atingida pela ausência dos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Responsável por apurar as contratações e demissões com carteira assinada, o indicador não é divulgado pelo Ministério da Economia desde dezembro. “É uma pesquisa diferente porque só considera os empregos formais”, avalia Diz.