Ele pode ter servido de hospedeiro intermediário, já que o coronavírus não conseguiria fazer o salto adaptativo direto dos morcegos para os humanos. Precisaria de uma espécie para se recombinar, sofrer mutações e a partir daí poder infectar humanos. É o que mostra um estudo publicado na revista “Nature” ontem, feito por pesquisadores da Universidade de Hong Kong.
Outros estudos no mês passado já indicavam uma associação entre os pangolins e o coronavírus, mas este estabeleceu uma correspondência genética entre o vírus que já matou 23 mil pessoas ao redor do mundo desde o início da pandemia e outros tipos de coronavírus encontrados no animal. Os cientistas identificaram a relação bastante próxima entre os vírus em espécimes apreendidos em uma operação contra o tráfico de animais no Sudeste Asiático. A proximidade do genoma está entre 85% e 92%.
Além disso, há um rastro genético de suscetíveis mutações que liga os coronavírus dos pangolins, dos morcegos e dos humanos.
O sequenciamento genético associou duas linhagens de coronavírus do pangolim ao nosso coronavírus. “A descoberta de múltiplas linhagens de coronavírus e suas similaridades ao SARS-CoV-2 (vírus da pandemia) sugere que os pangolins devem ser considerados possíveis hospedeiros e devem ser removidos dos mercados de animais silvestres para prevenir a transmissão de animais para humanos”, conclui a publicação.
O primeiro surto em Wuhan aconteceu no setor de frutos do mar do mercado, que vende animais domésticos vivos e também animais silvestres. As autoridades sanitárias da China tentaram localizar a origem da transmissão, mas com o bloqueio do mercado não tiveram sucesso, o que dificulta a descoberta da origem da pandemia.
O pangolim (Manis javanica) é típico das florestas da Malásia. A espécie está ameaçada de extinção e é uma das mais traficadas da Ásia, sua carne é considerada uma iguaria e as escamas são usadas na medicina tradicional asiática e africana.