Embaixada da China diz que falas de autoridades brasileiras não vão afetar relação ‘madura’ com o país

Oministro-conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui, afirmou em entrevista coletiva neste sábado (10) que a relação entre os dois países é “madura”, e que o momento é de cooperação entre eles.


“Continuamos a achar que os comentários feitos por essas figuras públicas de alto escalão são lamentáveis, irresponsáveis. Ainda não conseguimos entender por que fizeram esse tipo de declarações. Ou por ignorância, ou por outras intenções que nós aqui não sabemos o que são”, disse.


A declaração do ministro-conselheiro foi dada em uma semana de novos ataques à China, desta vez pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que usou rede social para insinuar que o país poderia se beneficiar, de propósito, da crise mundial causada pelo coronavírus. Depois, o ministro apagou o texto.


Em março, também em uma rede social, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, escreveu que a “culpa” pelo coronavírus era da China.


Questionado, o representante chinês disse que essas falas não devem impactar, por exemplo, a importação de equipamentos e insumos chineses de combate à Covid-19.


“As declarações não vão influir na nossa cooperação porque não cremos que representem a opinião majoritária do povo brasileiro, que é amigo da China, tem seus laços de amizade com a China”, declarou.


Embora tenha dito que nenhum país receberá prioridade do governo chinês, o ministro também ressaltou que, na negociação entre empresas, a China não pode garantir a adoção de critérios específicos.


Nem todas as negociações são mediadas pelos governos, e distribuidores de materiais médico-hospitalares podem comprar diretamente das empresas ou de intermediários.


“No caso da aquisição [de equipamentos], no fundo, é um negócio comercial. O que o governo chinês pode fazer é, primeiro, garantir que os fornecedores recomendados são fábricas capacitadas, cadastradas no nosso sistema. Em segundo lugar, que os produtos enviados não sejam revendidos ou desviados para lucro especulativo”, declarou.


“O governo [chinês] não tem como interferir nos contratos comerciais firmados diretamente entre um comprador em um fornecedor ou intermediário. Cada caso é um caso, não sabemos muito bem os termos [dos contratos]. O intermediário pode ser chinês, brasileiro ou de outro país, então não temos espaço para intervir em tais termos.”


Produzir e exportar

Desde março, governos e empresas de todo o mundo relatam dificuldade para importar esses materiais. A China afirma que os pedidos ultrapassam, em larga escala, a capacidade de produção do país.


O ministro-conselheiro diz reconhecer que as dificuldades de compra geraram uma “corrida” às fábricas, com governos e empresas oferecendo condições vantajosas para tentar furar a fila dos pedidos. Segundo ele, o governo não controla esse tipo de relação e atua, principalmente, para facilitar o aumento da produção industrial.


“A China tem agora 21 fábricas de respiradores invasivos, mas a capacidade de produção para as maiores fábrica é em torno de mil respiradores por mês. Isso está ligado a vários aspectos, como o fornecimento de peças importadas e a falta de mão de obra qualificada. São máquinas sofisticadas, você não consegue contratar um ‘fulano’ para fabricar, precisa de trabalhadores experientes”, explicou.


Qu Wuhui também disse que mesmo as fábricas que já retomaram capacidade plena, e que estão operando 24 horas por dia, não vão conseguir atender a todos os pedidos de governos e empresas. “As encomendas já chegam para outubro deste ano”, informou.


O ministro da embaixada chinesa afirmou que, até a tarde desta sexta, (10), o órgão não tinha sido comunicado oficialmente dos mais de 40 voos a serem enviados pelo governo brasileiro à China, como alternativa para o transporte dos equipamentos. Segundo Wuhui, é possível que o contato ainda seja feito nos próximos dias.


Cooperação entre países

Questionado diversas vezes, Qu Wuhui foi enfático ao dizer que a provocação das autoridades brasileiras não favoreve a manutenção de um bom ambiente de cooperação de negociação entre os dois países. E disse apostar no histórico de boas relações bilaterais para evitar maiores danos.


“Por outro lado, as relações entre China e Brasil são muito maduros. Tem sido um trabalho assíduo de muitas gerações, feito por tantas pessoas dedicadas à causa, que não vai ser abalada ou danificada por um ou dois indivíduos irresponsáveis. Mas isso não quer dizer que podemos deixar que essa atitude saia totalmente imune”, ponderou.


Ainda assim, o ministro-conselheiro disse que a “tarefa número um” neste momento é continuar a trabalhar junto com o governo brasileiro e reforçar a cooperação com a China no combate ao coronavírus. Ele lembrou que a parceria entre os dois países continuará a ser importante após a pandemia.


“Respeitamos muito a política externa do Brasil, que busca equilíbrio, diversidades, independência das decisões. Esperamos que isso continue e pelo lado chinês, sempre vamos tratar o Brasil como um parceiro estratégico, um país amigo”, disse.


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