Maior parceira comercial do Brasil, a China volta a pedir retratações diplomáticas do governo brasileiro após acusações relacionadas à crise do novo coronavírus (COVID-19). No início da madrugada desta segunda-feira (6), a embaixada chinesa em Brasília divulgou manifestação no qual pedia que “indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros”.
O documento foi uma resposta a declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que mais cedo afirmou que espera a disseminação de “novos vírus” originários da China.
“[Os chineses] comem tudo que o sol ilumina e e algumas coisas que o sol não ilumina comem também. Eles têm contato com um monte de bicho que não é pra comer. E comem. E tem muito contato com porco e frango. Nos próximos 10 anos, vem outro vírus desse da China? Probabilidade é alta”, disse Weintraub em live nas redes sociais ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
No sábado, em postagem nas redes sociais, o ministro já havia atacado a China em texto no qual trocava as letras “r” por “l”, em referência ao personagem Cebolinha, de Mauricio de Sousa.
“Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu Weintraub, em postagem acompanhada da ilustração de um gibi da Turma da Mônica com referências à China.
Tuíte do ministro da Educação, Abraham Weintraub, imitando fala do personagem Cebolinha para atacar a China (04.abr.2020)
Foto: Reprodução/ Twitter
“Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China”, declarou a Embaixada chinesa no Brasil em manifestação divulgada nas redes sociais.
Em outro trecho do documento, o órgão considerou que tais falas prejudicam o relacionamento entre os dois países.
“Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”, diz o manifesto.
Além da questão comercial, a China é importante fonte de equipamentos médicos requisitados pelo Ministério da Saúde brasileiro no combate à crise do novo coronavírus. Entre esses produtos que devem ser importados nos próximos dias estão respiradores mecânicos e máscaras de proteção.
Alguns problemas foram relatados nessas encomendas. Na última quarta-feira, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que parte de aquisições de equipamentos de proteção inidividual (EPI) feitas pelo Brasil “caiu” após os Estados Unidos comprarem grande volume de itens médicos chineses.
No fim de março, o próprio Eduardo Bolsonaro, que dividiu a live deste domingo com Weintraub, havia sido o pivô de outra tensão diplomática com Pequim, após culpar o governo chinês pela pandemia do novo coronavírus.
Na ocasião, o atrito entre autoridades dos dois países foi agravado após o chanceler brasileiro Ernesto Araújo afirmar que era “inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores, como infelizmente ocorreu”.
Veja a íntegra da manifestação divulgado pela Embaixada da China no Brasil nesta segunda-feira (6):
Em 5 de abril, o Ministro da Educação do Brasil Abraham Weintraub, ignorando a posição defendida pela parte chinesa em diversas gestões, fez declarações difamatórias contra a China em redes sociais, estigmatizando a China ao associar a origem da COVID-19 ao país.
Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil.
O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude.
Atualmente, a pandemia da COVID-19 está se espalhando globalmente, trazendo um desafio que nenhum país consegue enfrentar sozinho. A maior urgência neste momento é unir todos os países numa proativa cooperação internacional para acabar com a pandemia com a maior brevidade, com vistas a salvaguardar a saúde pública mundial e o bem-estar da Humanidade.
A OMS e a comunidade internacional se opõem explicitamente à associação de vírus a um certo país ou uma certa região, combatendo a estigmatização sobre qualquer pretexto.
Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China.