Esta pandemia, certamente, vai acabar. Pelo menos no formato que assola o mundo atualmente. A ciência estabeleceu quatro linhas de atuação para controlar a doença:
1. Reduzir as chances de contágio (distanciamento físico entre pessoas).
2. Aumentar a capacidade de médicos e instituições de saúde em diagnosticar e tratar os infectados (disponibilizar melhores e mais rápidos testes diagnósticos, equipar hospitais com UTIs faz de conta, treinar e proteger equipes de saúde para atendimento apropriado).
3. Encontrar procedimentos ou medicamentos que debelem a infecção pelo vírus (selecionar e testar re- médios eficazes contra o vírus, utilizar métodos de aumentar passivamente a imunidade individual específica contra o vírus, com a http://ecosdanoticia.net/wp-content/uploads/2023/02/carros-e1528290640439-1.jpgistração de anticorpos presentes em plasma de pacientes que se recuperaram de infecção por Covid-19).
4. Desenvolver métodos eficientes de proteger por longo tempo as pessoas contra a infecção pelo vírus (procura por vacinas aplicáveis em nível populacional mundial). A maioria dos centros de pesquisa disponíveis no mundo está concentrando esforços para cumprir essas tarefas, cada qual atento a um aspecto dessas linhas estratégicas acima citadas. Mais cedo ou mais tarde, uma ou mais dessas pesquisas começarão a impactar significativamente a disseminação da infecção, a gravidade dela e a consequente avalanche de complicações e óbitos. E isso não é otimismo barato.
A ciência consegue nos ajudar a minimizar os estragos desta pandemia. Garantido, mas não automático. As autoridades públicas terão de tomar as rédeas da movimentação nacional para coordenar os esforços, evitando assim duplicação de trabalho, produção de resultados científicos duvidosos, perda de tempo em pesquisas sem relevância clara nesta fase da pandemia, oportunismo de pseudo-cientistas e de pseudoespecialistas, que passam os dias divulgando especulações infundadas, a preencher os horários dos telejornais à procura de comentários 24 horas por dia. Médicos que nunca trataram e nunca pesquisaram a fundo uma infecção qualquer emitindo opiniões que não se baseiam em experiência pessoal ou conhecimento profundo. Superficialidades midiáticas.
Sugiro aos jornalistas concentrarem suas entrevistas em pessoas que dedicam suas vidas ao tratamento de pacientes com infecção grave, de preferência com experiência no tratamento de pessoas infectadas pela Covid-19. Eu escolheria médicos na frente do atendimento a esta epidemia. Plantonistas de pronto-socorro, de UTIs e de laboratórios de análise, e não médicos midiáticos que provavelmente não viram e não verão um mínimo de pacientes para ter algum conhecimento prático (mesmo porque muitos desses entrevistados têm idades que tornam mandatório seu isolamento, e os impedem de chegar perto de qualquer pessoa infectada).
Também sugiro que limitem suas entrevistas a cientistas de verdade, com as mãos e os aventais sujos de reagentes utilizados diariamente em pesquisas e nas bancadas de laboratórios científicos espalhados pelas universidades de nosso país. Curioso notar a número crescente de “especialistas” opinando nas entrevistas a respeito de detalhes experimentais, profissionais que não sabem nem o que é uma micropipeta multicanal, ou que nunca seguraram nas mãos um tubo de Eppendorf. Suas opiniões não passam de repetição de dizeres de verdadeiros cientistas.
Sugiro que os jornalistas discutam a ciência com quem de verdade a entende, e não com quem a repete como eco sem substância. E não faltam pessoas com experiência específica por aí. Mas estes, em geral, não têm assessoria de imprensa.