Cenas de aglomerações pelo Brasil colocam autoridades em alerta

As cenas de desrespeito ao isolamento social se repetiram nesta sexta-feira (10) em várias capitais.


É a imagem do que não deve acontecer: pessoas amontoadas no saguão do aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos. O registro foi na hora do almoço, neste feriado. “A gente tá aguardando porque, desde ontem, tem um monte de voo atrasado para João Pessoa e eles não dão respaldo nenhum pra gente, não falam o que realmente está acontecendo”, reclamava a caixa Naiara Silva Medeiros.


A Latam disse que “em razão da pandemia de coronavírus, mantém apenas uma malha aérea mínima essencial em operação” e que “em casos de reacomodações de passageiros, a companhia orienta a todos que mantenham uma distância de segurança entre si, evitando aglomerações no atendimento”.


No feriado da Sexta-feira Santa teve fila também pra comprar os ingredientes do almoço da família: em Niterói e Nova Iguaçu, no Rio, em Salvador, em Fortaleza, Campo Grande, Florianópolis. Por todo lado, gente apinhada.


Nesta quinta-feira (9), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já tinha comentado o aumento de pessoas nas ruas: “Hoje eu vi que o pessoal começou a andar mais. Vamos pagar esse preço ali na frente. Esse vírus adora aglomeração, adora contato, adora que as pessoas achem que ele é inofensivo. E aí as cidades podem pegar a transmissão sustentada”.


Nesta sexta, no Mercado Municipal de São Paulo, a placa dava o recado, mas nos corredores estreitos, espaço é produto em falta. “A gente tenta, mas as pessoas não são conscientes ainda, né? Então, precisa de um pouco mais de consciência do afastamento um do outro”, falou a dona de casa Juliana Simão.


Em um supermercado de São Paulo, especializado em chocolates, muita gente foi em busca do ovo de Páscoa. O lugar encheu. “A gente tenta, na medida do possível, manter a distância, né?”, disse o vendedor Bruno Romanato.


O sistema de monitoramento inteligente do governo de São Paulo mostra que o percentual de isolamento social no estado foi de apenas 47% nesta quinta. Esse número vem caindo. No domingo, bem mais gente cumpria o isolamento social: 59%.


São Paulo, que tem o maior registro de casos da Covid-19 do país, quer chegar a 70% das pessoas dentro de casa, número considerado ideal para o país inteiro, porque reduziria a velocidade de transmissão da doença, com menos gente sendo contaminada. O que evitaria um colapso no sistema de saúde.


O coordenador dos testes do coronavírus no estado, diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, explica que esse é o número mínimo para conter a contaminação de pessoa pra pessoa: “Esses casos são baseados nas experiências de outros países que tomaram medidas progressivas de isolamento social e, no final, a conclusão foi que menos de 70% nós não seríamos efetivos no controle da velocidade da epidemia. Se nós diminuirmos o contato entre as pessoas, nós diminuímos a infectividade. Abaixo de 70%, a infectividade será acima de 2%. Ou seja, um indivíduo transmitirá a infecção para dois ou mais indivíduos. Quando nós reduzimos esse contato, isso significa que a taxa de infectividade cai próximo de um. Com isso, nós conseguimos diminuir a velocidade da infecção, da epidemia”.


O médico e professor de matemática da Fundação Getúlio Vargas, Eduardo Massad, fez projeções sobre a taxa de isolamento e o número de casos de coronavírus no Brasil. O gráfico mostra que, sem nenhum controle, os casos da doença crescem rapidamente e em pouco tempo. Com 50% da população isolada, o número de infectados cresce, só que mais lentamente. E com 70%, este crescimento é mais devagar ao longo do tempo.


“Se prosseguir nessa tendência de apenas 50%, daqui um mês, o Brasil vai chegar entre 180 e 200 mil casos. Por outro lado, se conseguirmos chegar ao número mágico de 70% de distanciamento social, daqui um mês, o Brasil estaria na ordem de 30 a 40 mil casos e, portanto, isso significa que com 70% de distanciamento social, o sistema de saúde é capaz de dar conta dos casos que vão chegando”, afirma.


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