Um estudo chinês concluiu que aparelhos de ar-condicionado podem ajudar a espalhar o coronavírus. A tese se baseia na análise do caso de três famílias que frequentaram, no mesmo dia, um restaurante no município de Guangzhou. Ao todo, 10 pessoas que estiveram no estabelecimento contraíram a doença.
Os pesquisadores apontaram que a provável causa do surto foi a transmissão de gotículas propagadas pela ventilação do ar-condicionado do restaurante. “O fator-chave para a infecção foi a direção do fluxo de ar”, escreveram em artigo prévio da edição de julho do periódico Emerging Infeccious Diseases, publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
Eles narram que o primeiro paciente infectado chegou a Guangzhou em 23 de janeiro após viagem a Wuhan, epicentro do coronavírus na China. No dia seguinte, ele almoçou com três parentes no referido restaurante. Outras duas famílias ocuparam mesas próximas cerca de uma hora depois do grupo.
Pouco mais tarde, o primeiro paciente apresentou febre e tosse e parou no hospital. Em 5 de fevereiro, outros nove membros das famílias estavam diagnosticados com Covid-19 – quatro da primeira, três na segunda e dois na terceira.
De acordo com os pesquisadores, a única fonte conhecida de exposição para pessoas nas duas últimas famílias foi o paciente presente no restaurante, que funciona em um prédio de cinco andares sem janelas. Cada andar tinha um aparelho de ar-condicionado.
O terceiro pavimento, onde as famílias comeram, conta com 15 mesas distribuídas numa área de 145 metros quadrados, distantes cerca de um metro umas das outras. Nele, estiveram outros 73 clientes e oito funcionários que não tiveram sintomas e ficaram em quarentena.
No estudo, os autores ressaltam que o contágio por gotículas não é suficiente para explicar a infecção, porque elas permanecem no ar por pouco tempo e percorrem distâncias curtas. A propagação, segundo eles, só seria possível por conta do forte fluxo de ar proveniente do ar-condicionado. Potencializadas pelo aerosol, as gotículas ficam no ar por mais tempo.
“Os aerosóis tendem a seguir o fluxo de ar, e as concentrações mais baixas de aerosóis a distâncias maiores podem ter sido insuficientes para causar infecção em outras partes do restaurante”, explicaram os pesquisadores.
A partir das conclusões, os autores recomendam maior atenção ao monitoramento da temperatura, aumentar a distância entre as mesas e melhorar a ventilação, para prevenir a disseminação de Covid-19 nos restaurantes.