científicos do século 21, a cura do câncer mobiliza em todo o mundo pesquisadores que fazem disso sua missão de vida. Avanços recentes já tornaram tratamentos tradicionais, como quimioterapia e radioterapia, capazes de curar alguns tipos de tumores.
Em outros casos, novos recursos terapêuticos, como a imunoterapia, aumentam a esperança da redução da mortalidade.
Quando se fala de câncer, é preciso entender que o termo cura é precedido pela remissão, quando a doença se torna indetectável a partir de cinco anos após o fim da terapia. Passado esse período, a probabilidade de reaparecimento cai significativamente, o que é um indicativo de que a pessoa está curada.
Um dos grandes desafios científicos do século 21, a cura do câncer mobiliza em todo o mundo pesquisadores que fazem disso sua missão de vida. Avanços recentes já tornaram tratamentos tradicionais, como quimioterapia e radioterapia, capazes de curar alguns tipos de tumores.
Em outros casos, novos recursos terapêuticos, como a imunoterapia, aumentam a esperança da redução da mortalidade.
Quando se fala de câncer, é preciso entender que o termo cura é precedido pela remissão, quando a doença se torna indetectável a partir de cinco anos após o fim da terapia. Passado esse período, a probabilidade de reaparecimento cai significativamente, o que é um indicativo de que a pessoa está curada.
Entretanto, a cura do câncer não é única, pois não existe um único tipo de câncer. O termo descreve um conjunto de centenas de doenças que podem afetar qualquer órgão ou tecido do nosso corpo ao longo de toda a vida.
O que caracteriza os mais diversos tipos de câncer são a reprodução descontrolada de células doentes e a chance de se reproduzirem em locais distantes do ponto inicial – a metástase.
De acordo com os dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 185 países identificaram no ano passado 18,1 milhões de novos casos de câncer e 9,6 milhões de mortes. Estima-se que o número de novos casos salte para 29,5 milhões em 2040.
No Brasil, foram 582,6 mil casos em 2018, com 218,6 mil óbitos no ano anterior, segundo o Ministério da Saúde. As estimativas de novos casos permaneceram estáveis de 2016 a 2018, segundo o Ministério da Saúde: cerca de 600 mil casos por ano.
O médico Walter Moises, hematologista da EPM/Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo), afirma que um eventual aumento dos casos de câncer em todo o mundo está relacionado ao aperfeiçoamento do diagnóstico.
“Estamos tendo mais diagnósticos do que no passado, porque os exames melhoraram e então conseguimos fazer diagnósticos mais precoces. Também tem um aumento da população idosa, que é mais propensa a ter câncer. Além disso, existem fatores da sociedade moderna, urbana, que levam a condições para o desenvolvimento de câncer.”
Embora já existam tratamentos modernos disponíveis no País, os pacientes que dependem exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde) ainda estão longe de ter acesso a essas terapias.
O aprofundamento no conhecimento sobre a biologia das células tumorais levou à criação de medicamentos capazes de ativar o sistema imunológico e combatê-las. Foi o estudo desse tema que rendeu aos pesquisadores James Patrick Allison, dos Estados Unidos, e Tasuku Honjo, do Japão, o Prêmio Nobel de Medicina em 2018.
A chamada imunoterapia, principal avanço no tratamento oncológico, fortalece o sistema de defesa do organismo do paciente. Juntamente com quimioterapia, cirurgia e radioterapia, forma o quarto pilar das terapias atuais no combate à doença.
Felipe Ades, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, explica que os primeiros estudos na área começaram em 2010, voltados inicialmente para o melanoma, o câncer de pele.
“Em 2010, as pesquisas identificaram que existem moléculas que ‘ligam e desligam’ os linfócitos, as células de defesa do nosso corpo. A ativação do sistema imunológico liberava essas células para procurar e matar as células cancerígenas”, explica.
De lá para cá, os resultados foram significativos. “Não havia tratamento capaz de curar metástase em casos de melanoma. Hoje, a imunoterapia cura cerca de 40% dos pacientes”, afirma Ades.
As pesquisas continuam tendo resultados promissores também no tratamento de outros tipos de tumores, como o de pulmão em fumantes, o de mama e o de rins. “A imunoterapia tem sido conciliada com a quimioterapia para esses tipos de câncer”, acrescenta o oncologista.
Ao contrário de algumas quimioterapias agressivas, a imunoterapia não causa perda de cabelo, vômito e outras reações desagradáveis. Mas podem ocorrer problemas autoimunes relacionados à tireoide e inflamações na pele.
Embora promissora, a imunoterapia ainda sofre muitas limitações em termos de difusão no Brasil. A maioria dos brasileiros não terá a oportunidade de tentar a imunoterapia, pelo menos por enquanto. Os fármacos não são oferecidos pelo SUS e uma única infusão tem custo estimado entre R$ 20 mil e R$ 40 mil.
Desde junho de 2018, a Anvisa aprovou dois fármacos utilizados na imunoterapia para o tratamento do câncer de pele: o avelumabe, para carcinoma de Merkel avançado, e o cemiplimabe, para carcinoma espinocelular de pele localmente avançado ou metastático. Ambos podem ser aplicados em pacientes que não sejam candidatos a cirurgia ou radioterapia.
Diagnosticado em 2017 com um linfoma difuso de grandes células B, o tipo mais comum de linfoma não Hodgkin (LNH), o aposentado Vamberto Luiz de Castro, de 64 anos, passou cerca de dois anos recebendo quimioterapia sem sucesso.
A doença evoluiu para um quadro que os médicos já consideravam terminal. Mas um tratamento experimental utilizado pela primeira vez na América Latina teve resultados positivos e pode ter curado o paciente. A confirmação, no entanto, vai depender de exames realizados nos próximos anos.
P U B L I C I D A D E
O tratamento pelo qual Vamberto passou foi a terapia de células CAR-T, sigla em inglês para receptor de antígeno quimérico. Embora já utilizado nos Estados Unidos, a um custo estimado de mais de R$ 1,5 milhão, pesquisadores brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) do campus Ribeirão Preto desenvolveram um modelo que pode custar até dez vezes menos: R$ 150 mil.
Integrante da equipe que trabalhou no caso do aposentado, o professor da USP Eduardo Magalhães Rego — coordenador da Hematologia da Oncologia D’Or e diretor da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia — explica como funciona a terapia a partir de células do próprio paciente.
“O tratamento utiliza o linfócito T, uma célula imune muito ativa. Ele consegue reconhecer a célula cancerígena e matá-la. Por meio de um processo de engenharia genética, criamos uma molécula chamada CAR, que é inserida nas células T. Essas células são desenvolvidas em laboratório e aplicadas de volta no paciente.”
Embora o paciente seja submetido a uma única infusão, existem efeitos colaterais, observa o médico. “Há uma enorme liberação de moléculas que podem ser consideradas inflamatórias”, explica. Por isso, o tratamento precisa ser realizado em um centro que faça transplantes.
O sucesso do tratamento depende da permanência dos linfócitos no paciente, acrescenta o hematologista. “Sabemos que, na primeira análise, 30% dos linfócitos que o paciente Vamberto tem em circulação vieram dos modificados. Em outros casos, já tratados nos Estados Unidos e na Europa, sabemos que esses linfócitos podem durar anos.”