Abalados com a tragédia que atingiu a família, parentes dos idosos Diva Vieira e Durval Batista, de 75 e 78 anos, respectivamente, assassinados pelo filho em Sena Madureira, interior do Acre, também se sentem revoltados.
Eles afirmam que por diversas vezes tentaram internar Alisson Vieira de Araújo, filho do casal e principal suspeito do crime. Araújo tem diagnóstico de esquizofrenia e tomava remédios controlados.
Batia na mãe e tentou matar primo
Os parentes relatam ainda que ele era agressivo com a família, batia na mãe e tinha até tentado matar um primo a facadas antes. Segundo Aldileide Vieira, sobrinha do casal assassinado, o rapaz evitava tomar os remédios.
“Minha prima procurou várias vezes ajuda porque aconteceu, em outras vezes, de ele ficar agressivo, bater na minha tia, na minha irmã, tentou matar meu irmão a facadas. Isso porque não queria tomar remédio. Consegui marcar uma consulta para ele no Hosmac, só consulta, para liberar o remédio que toma, que é muito caro. Conseguimos os remédios, mas estávamos tentando ajuda para internar ele”, contou a sobrinha dos idosos, Aldileide Vieira.
Os idosos foram mortos a golpes de faca na casa em que moravam com o filho, na Travessa Otávio Joaquino. De acordo com o 8° Batalhão da Polícia Militar, que atendeu a ocorrência, Araújo foi preso em flagrante próximo ao Polo Moveleiro do município.
Pedidos de ajuda
Ainda segundo Aldileide, o rapaz agredia qualquer pessoa que tentasse dar os remédios para ele. Em uma das vezes, a família acionou a Polícia Militar do Acre e Araújo foi levado para o hospital e os parentes pediram para que ele fosse encaminhado para o Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac).
“Nesse dia imploramos para o médico levar ele em uma ambulância para o Hosmac, ficamos na esperança de que se fosse na ambulância iriam interná-lo, mas não fizeram isso. Disseram que tinham que ir no promotor, na Justiça, para poder resolver o problema e dar a autorização para levá-lo. Minha prima procurou em todos os lugares ajuda, na Justiça, mas não obteve sucesso. Ninguém ajudou”, lamentou.
Ainda segundo a parente, a família também tentou ajuda para tentar internar o rapaz na promotoria de Justiça, no Fórum, e no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Sena Madureira.
“Disseram que não podiam ajudar, que ele não podia ser internado à força porque parecia ser uma pessoa normal. Ninguém estendeu a mão quando precisamos. Criticaram dizendo que a família não tinha internado, mas como, se a gente não tem o poder para isso?”, lamenta a prima.
“Infelizmente, mesmo tendo matado os pais, não podemos criticar porque não foi ele, foi a doença. A Justiça fechou os olhos para esse caso, porque não é de hoje que lutamos para internar ele”, critica.
Caps não pode internar, diz secretário
Ao G1, o secretário de Saúde de Sena Madureira e fundador do Caps na cidade, Daniel Herculano, explicou que o centro só atua com o transporte de pacientes para o Hosmac e mediante autorização judicial.
“Caps tem médico duas vezes por semana apenas, não é de alta e média complexidade. A gente recomenda buscar o Ministério Público e o juiz, porque só conseguimos internar paciente no Hosmac com determinação judicial. A única coisa que fazemos é pegar o paciente, com ajuda da Polícia Militar, e levar para o Hosmac. Esse caso é antigo, é um rapaz conhecido no município e há tempos tem transtornos”, confirma.
Procurado pelo G1, o Tribunal de Justiça do Acre informou que a Vara Civil da cidade de Sena Madureira não tem registrado nenhum pedido de internação em nome de Araújo ou dos pais dele. Segundo o Ministério Público do Acre (MP-AC), também não há nenhuma solicitação de internação em nome do rapaz.
Família temia tragédia
Aldileide revelou também que a família temia uma tragédia envolvendo os idosos e que com o passar do tempo Araújo ficava mais agressivo e não tomava os remédios.
“Fazia tempo que apresentava riscos para todo mundo. Meu tio tinha diabetes, a filha dele ia todos os dias aplicar insulina nele. Sempre levava um pouco de comida para eles, não podia levar muito, porque ele jogava tudo fora. Levava meio quilo de carne, que era o que dava para comer”, acrescenta.
A comida era levada escondida pela filha dos idosos porque, segundo a parente, Araújo jogava os alimentos e água portável para os cachorro no quintal. Ela relembra também momentos em que o rapaz atacava os pais por dinheiro, e o pai, com medo do filho, entregava todo o dinheiro que tinha.
“Derramava a água, arroz na casa, quando chegava jogava a comida fora. A vida toda foi assim. Para o tio e a tia não passar fome, a filha deles ia todos os dia deixar comida. Endoidava para conseguir dinheiro, dizia que queria dinheiro, se não dessem roubava. O tio tinha tanto medo dele que dava, nem discutia mais. Viviam oprimidos na casa, e a gente tentando obter uma ajuda”, conclui.