Se no Nordeste e no Sudeste facções criminosas utilizam veículo aéreo não tripulado (drone) para a entrada de celulares e chips nos presídios, no Acre, a malandragem usada pelo crime organizado pode ser bem mais simples. A rota pode ser terrestre.
Uma portaria publicada no Diário Oficial de ontem (14) pela direção do Instituto Penitenciário do Acre (IAPEN) determina a abertura de um processo investigatório e disciplinar que pode levar o setor de inteligência da Segurança Pública a desvendar como celulares e chips chegam nas principais celas do presídio Francisco de Oliveira Conde (FOC).
O caso que pode ajudar nas investigações é antigo, ocorreu em abril de 2016 durante uma revista normal com raio-X de equipamentos que chegavam ao presídio através de um transporte enviado pelo Núcleo de Apoio à Família, o NAF. Um televisor de 24 polegadas foi flagrado com celulares e chips em seu interior.
A tentativa de camuflar os celulares e chips é comum em todo o país. Segundo peritos do sistema de segurança ouvidos pelo ac24horas, o uso de televisores com LCD é normal para dificultar a identificação dos aparelhos. O flagrante sempre é dado em revistas e os acusados normalmente são familiares de presos. Mas há casos que o raio-X não identifica os celulares e chips similares aos dispositivos das TVs.
Na investigação em curso duas coisas chamaram atenção da direção do IAPEN. Primeiro o fato de não ter sido aberto na época nenhuma investigação para apuração do crime. O então diretor do presídio, Rames Mesquita, informou a imprensa que a tentativa de burlar a fiscalização ocorreu por familiares dos detentos. Ainda de acordo Mesquita, o televisor foi cadastrado no NAF.
O fato mais novo, que levou o diretor Lucas Gomes desarquivar o processo é um relatório do núcleo de apoio que segundo o gestor, negou o registro do equipamento eletrônico no dia do flagrante.
Documento que a reportagem teve acesso, um boletim informativo datado de agosto de 2015, informa ainda que apenas TVs de 16 polegadas de LCD ou LED estavam autorizadas a passar pelo setor de cadastramento de materiais do NAF.
Se o aparelho de TV de 24 polegadas, fora dos padrões exigidos para cadastro não passou pelo setor, como chegou no presídio em veículo oficial?
Essa é a principal linha de investigação que a inteligência do Estado passa a trabalhar. A suspeita é que o equipamento tenha sido inserido no transporte, durante o percurso até a FOC. Celulares e fones de ouvidos foram encontrados dentro de celas do presídio este ano.
De acordo com a portaria 934 assinada por Lucas Gomes, dois servidores serão investigados: os agentes R.R.N.F e A.F.F. R. R.N.F foi candidato a deputado estadual no Acre pelo PTB e obteve mais de 2 mil votos na última eleição.
A Comissão tem o prazo de 60 dias para concluir a investigação. O diretor do IAPEN, Lucas Gomes está em viagem fora de Rio Branco e não atendeu a reportagem.
O setor de pessoal do Instituto não informou o telefone pessoal dos agentes que serão investigados.