O surto do vírus da Zika no Brasil em 2015, associado ao aumento de casos de microcefalia em bebês, fez crescer o receio de grávidas brasileiras com a picada do mosquito Aedes durante a gestação. A novidade científica é que a malária, transmitida por outro inseto, a fêmea do mosquito
Anopheles, também pode estar associada à diminuição do perímetro cefálico em recém nascidos. A evidência foi apontada em um estudo publicado na última sexta-feira (3) na revista científica Jama Network Open.
O trabalho é resultado das teses de doutorado do professor do Centro Multidisciplinar do campus Ufac em Cruzeiro do Sul, Rodrigo Medeiros, e da enfermeira Jamille Dombrowski, egressa do curso de enfermagem da Ufac, e que foram apresentadas no Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) com orientação do professor Cláudio Marinho.
Com o título “Associação da malária durante a gestação com o perímetro cefálico de recém-nascidos na Amazônia brasileira”, o artigo científico em doenças infecciosas traz como destaque inédito a possibilidade da infecção pelo Plasmodium (protozoário causador da malária) durante a gestação estar associada ao desenvolvimento alterado do perímetro cefálico de recém-nascidos, com possíveis consequências para o seu desenvolvimento neurológico.
“Esta doença, quando ocorre na gravidez, contribui para vários eventos adversos ao feto e ao recém-nascido. No entanto, a associação da malária gestacional com a redução do perímetro cefálico ainda não havia sido estudada”, explicou Medeiros.
A malária é uma doença febril aguda, potencialmente fatal. Globalmente negligenciada, ela é a principal doença parasitária afetando mais de 200 milhões de indivíduos e levando à morte de aproximadamente 500 mil indivíduos anualmente.
Para realização do estudo (prospectivo e retrospectivo), foram analisadas quase 5 mil gestações de mulheres do Vale do Juruá (região responsável por 98,6% dos casos do estado do Acre, em 2018), além de gestantes procedentes de Guajará, Ipixuna e Eirunepé, no estado do Amazonas. A pesquisa observou que a malária causada pelo Plasmodium falciparum, quando ocorreu durante a gravidez, esteve significantemente associada à ocorrência da diminuição do perímetro cefálico.
“Para tentarmos explicar de forma mais aprofundada o motivo deste desfecho grave, analisamos as alterações no tecido placentário e algumas proteínas do sangue e notamos que algumas delas sofreram desregulação. Interessantemente, algumas destas alterações estiveram associadas à incidência da redução da circunferência da cabeça do bebê”, detalhou o pesquisador.
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