Celestine Egbunuche, conhecido como o ‘preso mais velho’ da Nigéria, está há 18 anos atrás das grades – sendo quatro deles no corredor da morte.
Por BBC –
Celestine Egbunuche é o preso mais velho da Nigéria. Pelo menos é assim que se referem a ele nas campanhas por sua libertação.
Condenado por planejar um assassinato, ele passou 18 dos seus 100 anos atrás das grades, sendo os últimos quatro anos no corredor da morte.
De baixa estatura e ligeiramente curvado, Celestine olha melancolicamente para o nada, sentado em um dos bancos da ala de visitas lotada da prisão.
De camiseta branca, short e chinelo, ele levanta a cabeça lentamente para mostrar que está ciente da nossa presença.
É o único gesto que faz, já que permanece o tempo todo em silêncio, ao contrário dos outros detentos da prisão de segurança máxima de Enugu, no sudeste da Nigéria, que falam em voz alta.
Seu filho, Paul Egbunuche, de 41 anos, fica sentado ao lado dele numa atitude protetora. É ele quem conta a história do pai, já que está preso pelo mesmo crime.
Os dois são acusados de terem contratado pistoleiros para matar um homem durante um conflito sobre terras no estado de Imo.
Eles foram presos em junho de 2000 e condenados à morte em 2014. Mas Paul diz que ele e o pai são inocentes.
A BBC não conseguiu entrar em contato com a família da vítima, tampouco os serviços penitenciários da Nigéria conseguiram encontrá-los.
Paul explica que o pai quase não fala mais e não tem muita consciência do que acontece ao seu redor.
“Quando você pergunta algo, ele responde outra coisa. O médico disse que é por causa da idade, que ele voltou a ser criança.”
O filho conta que, às vezes, ele aponta para os demais prisioneiros e pergunta:
“O que essas pessoas estão fazendo aqui?”
Paul diz que raramente se separa do pai — ele se tornou seu principal cuidador desde que sua saúde começou a deteriorar na prisão.
Foto de aniversário
Pai e filho dividem a cela com outros condenados à morte, separados do restante dos prisioneiros.
“Quando acordo de manhã, coloco água para ferver e dou banho nele”, conta.
“Troco as roupas dele e preparo a comida. Se abrirem a cela, levo ele para tomar banho de sol.”
“Estou sempre perto dele, conversando e brincando”, completa.
Paul diz que outros presos às vezes ajudam a cuidar de seu pai e que muitos gostariam de vê-lo livre.
Foi no aniversário de Celestine, em 4 de agosto, que começou uma série de eventos que podem levar à sua libertação.
Uma foto dos dois viralizou depois que um jornal local publicou um artigo sobre a celebração dos 100 anos de Celestine na prisão.
A notícia abriu um debate sobre pena de morte e o tempo que os nigerianos passam no corredor da morte, onde há mais de 2 mil pessoas, de acordo com os dados mais recentes dos serviços penitenciários nigerianos.
Muitos aguardam a execução há anos, já que a pena de morte não costuma ser levada a cabo no país. Entre 2007 e 2017, houve apenas sete execuções, sendo a última em 2016, segundo a Anistia Internacional.
Pobreza e castigo
No entanto, os juízes continuam a aplicar a pena para crimes como traição, sequestro e assalto à mão armada.
“Há pessoas que estão há 30 anos no corredor da morte, é algo comum”, diz Pamela Okoroigwe, advogada do Projeto de Defesa e Assistência Jurídica (Ledap, na sigla em inglês).
Segundo ela, os governantes são relutantes em assinar ordens de execução.
“E não estão dispostos a conceder indultos. É por isso que temos um grande número de prisioneiros no corredor da morte”, acrescenta.
A advogada diz ainda que a pena de morte é um “castigo para os pobres” e que cada vez mais nigerianos pedem seu fim.
“Você já viu um homem rico no corredor da morte?”, pergunta.”Quantas pessoas podem pagar um advogado para representá-las em um julgamento? Um homem rico que vai ao tribunal pode pagar o melhor (advogado) e vai ficar livre.”
Franklin Ezeona, presidente da Sociedade Global Anticorrupção (GSAC, na sigla em inglês), compartilha essa opinião. Foi a organização dele que tornou público o caso de Celestine e está pedindo seu indulto.
Eles estão aguardando a resposta do governador, Rochas Okorocha.
Ezeona acredita que não faz sentido manter alguém no corredor da morte há tantos anos, pois o “o trauma e a tortura são demasiados”.
O procurador do estado de Imo, Miletus Nlemedim, sugeriu que Celestine seja libertado.
Paul está confiante de que isso vai acontecer e que será incluído no indulto para que possa cuidar do pai.
“Seria bom se ele fosse libertado. Assim, morreria em paz em casa, e não na prisão”, diz ele.
“Todo mundo merece uma segunda chance”, conclui Ezeona.