Tomando injeções diárias para crescer, menina ‘coleciona’ frascos de hormônio e comemora novos 5 cm em 4 meses

Maria Clara saiu de 1,26 para 1,31 metro: ‘estou muito feliz’. Mãe teve que aprender a aplicar medicação.


Com nove centímetros a menos do que o indicado para os seus 11 anos, Maria Clara teve que inciar o tratamento há quatro meses com somatropina – hormônio que auxilia no crescimento.


A estudante apresenta baixa estatura devido a uma desfunção da hipófise que faz com que ela não produza o hormônio de forma suficiente, que é reposto por injeções diárias com a substância.


De acordo com o perfil de crescimento traçado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ela teria que ter no mínimo 1, 35 centímetro.


Maria Clara percebeu que estava abaixo da altura indicada para sua idade na escola, quando constantemente era questionada se estava na série correta.


“Era chato sempre ser chamada de baixinha e percebi que eu estava de um tamanho que não era pra minha idade. O pessoal no intervalo sempre perguntava de que série eu era ou se eu estava adiantada, então eu sabia que tinha alguma coisa errada com minha altura”, conta.


No ano passado, a mãe, a jornalista Lane Valle, foi orientada por um pediatra a procurar um endocrinologista e investigar o deficit no crescimento da menina.


“Não era um desejo, era uma necessidade. Era um sofrimento longo e eu tinha receio de que ela tivesse essa disfunção, embora já suspeitasse. Eu tinha receio pelas contraindicações, porque é uma medicação que tem muitos efeitos colaterais. E em uma ida ao pediatra, ele me alertou que a Ana Clara estava no limite, entrando na puberdade. Ou eu fazia agora ou não daria mais tempo de fazer”, explica Lane.


Estudante pretende guardar todos os frascos usados no tratamento  (Foto: Tácita Muniz/G1)

Estudante pretende guardar todos os frascos usados no tratamento (Foto: Tácita Muniz/G1)


‘Coleção’

Em janeiro, as injeções de somatropina foram incluídas na rotina de Maria Clara. Para mãe, restou o desafio de aprender a aplicar o hormônio. Em quatro meses, a menina conseguiu novos 5 centímetros.


Para medicar a filha, Lane pediu que uma amiga enfermeira ensinasse a aplicação. “Ela passou uma semana vindo aqui em casa até que eu pegasse o jeito. Mas, até hoje eu fico nervosa. Que sofre sou eu”, revela.


Desde de janeiro, foram cerca de 90 frascos, que Maria Clara faz questão de guardar e exibir com orgulho. “Ela não vê como agulhadas, mas como centímetros que cresceu”, acredita a mãe.


Por enquanto, os frascos são divididos em duas caixinhas. A garota comemora o tratamento e diz que acostumou com as furadas diárias.


“Já acostumei. Estou feliz, porque, fora eu perceber que cresci, agora não vou mais ser chamada de baixinha”, conta animada.


A ideia de guardar todos os frascos do medicamento partiu da própria Maria Clara. Questionada sobre o incômodo das injeções, ela revela que há dias que não tá a fim de levar agulhada.


“No início a minha também aplicava na perna, mas doía muito. No braço dói menos”, explica.


Lane conseguiu o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em todo o estado, 60 crianças fazem o acompanhamento pela rede púbica, segundo a Secretaria de Saúde (Sesacre).


O valor do hormônio varia nas farmácias, mas o material com cinco doses pode ultrapassar R$ 1 mil.


A medicação é retirada no Centro de Referência para o Programa de Medicamentos Excepcionais (Creme), vinculado à Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre). Para ter acesso, é preciso primeiro buscar atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e ser encaminhado ao tratamento com especialista.


Avaliações

A média de crescimento da garota é de 1 centímetro por mês. Porém, não há uma estimativa de quanto tempo o tratamento deve durar e nem uma medida certa para Maria Clara atingir.


O dia de se medir em cada mês é a parte mais esperada pela garota. Na parede, ela vai marcando a evolução da estatura e comemora cada centímetro alcançado. A cada três meses, uma nova avaliação é feita.


“Apesar de ser um tratamento doloroso, do incômodo da agulhada, é uma vitória. É uma média de 1 centímetro ao mês, que é comemorado com muita gratidão. A Maria Clara está evoluindo muito bem”, avalia Lane.


Todos os meses, Maria Clara e a mãe marcam a nova medida na parede do quarto; já foram 5 centímetros em 4 meses  (Foto: Tácita Muniz/G1)

Todos os meses, Maria Clara e a mãe marcam a nova medida na parede do quarto; já foram 5 centímetros em 4 meses (Foto: Tácita Muniz/G1)


Alerta

O endocrinologista que acompanha a estudante, Abraão Miranda, explica que vários fatores podem causar a baixa estatura – como síndromes genética, raquitismo, entre outras coisas. No caso de Maria Clara, foi a produção insuficiente do hormônio que a levou a estancar na altura


“Nem sempre vai ser a deficiência do hormônio. A gente investiga vários fatores até chegar a um diagnóstico”, diz.


O especialista diz ainda que não há um período estipulado para o fim do tratamento. Isso é medido conforme as avaliações trimestrais.


“Caso ela não consiga atingir uma medição boa, a gente atrasa a puberdade com outros remédios, mas é com o acompanhamento que vamos ver isso, de acordo com as mudanças”, destaca.


Os pais, segundo o médico, devem ficar atentos a qualquer indício de deficit no crescimento. A idade para analisar essa questão é a chamada idade escolar.


“Na verdade, o quanto antes, melhor. Uma criança de 11 anos, como ela [Maria Clara], está prestes a entrar na puberdade e isso dá um pouco de trabalho porque precisamos atrasar esse período. A idade escolar é o parâmetro para os pais. Porque, muitas vezes, muitas pessoas me procuram, mas tratamento não mais eficaz”, salienta.


Em Rio Branco, o médico diz que atende de 15 a 20 crianças.


Maria Clara comemora cada centímetro alcançado durante o tratamento  (Foto: Tácita Muniz/G1)

Maria Clara comemora cada centímetro alcançado durante o tratamento (Foto: Tácita Muniz/G1)


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